O sentimento de gratidão parece ser universal. Pelo menos, ele se manifesta entre os animais superiores, como mamíferos e aves. Por exemplo, já foram registrados casos de esquilos que visitaram, durante anos, famílias que os socorreram em uma situação perigosa. Os cachorros, no entanto, parecem ter desenvolvido maneiras específicas de dizer obrigado.
Nós, seres humanos, desenvolvemos a linguagem falada (e, muito mais tarde, também a escrita) e, desta forma, criamos dezenas de maneiras de agradecimento, de um abraço a um outdoor em uma avenida movimentada anunciando toda a nossa gratidão.
Esta facilidade, no entanto, nos deixou mal acostumados. Várias vezes por dia, pronunciamos as expressões “obrigado” e ”muito obrigado”. O que isto quer dizer? Estamos obrigados a quê? É apenas uma expressão banal, sem maior significado?
Os animais sentem gratidão?
Mas, afinal, os animais são dotados das características necessárias para sentir e expressar gratidão? Há pouco mais de cem anos, os naturalistas afirmavam que apenas os seres humanos eram dotados de qualidades nobres. Os animais viviam com os seus instintos, apenas reproduzindo as sensações e emoções experimentadas pelos seus ancestrais.
Hoje, sabe-se muito mais sobre os nossos colegas de planeta. Gorilas e chimpanzés, por exemplo, compartilham comida e reúnem-se em grandes círculos para eliminar parasitas dos pelos. São primatas, poderão dizer.
No entanto, o sentimento de solidariedade – e gratidão daí decorrente – não é exclusivo dos primatas. Várias espécies de baleias e golfinhos, além dos canídeos e felídeos (qualquer semelhança não é mera coincidência) trocam pequenas gentilezas diárias, algumas delas desnecessárias, mas nem por isto são desconsideradas.
Os animais gregários (que vivem em grupo) aprenderam, ao longo dos séculos, que atos como pedir, agradecer e conviver em grupo aumenta as chances de sobrevivência – e, atualmente, sabemos que alivia o estresse e amplia as capacidades cognitivas.
Obrigado, papai!
O repertório de gratidão dos cachorros é menos extenso, mas possivelmente mais sincero. Cachorros dizem obrigado principalmente com a linguagem corporal, que é bastante complexa. É possível que a longa convivência com os humanos tenha sofisticado a linguagem.
Etólogos (biólogos especializados em comportamento animal) afirmam que a linguagem dos cães é a mais ampla entre os animais que convivem regularmente conosco.
Estudos indicam que a linguagem corporal dos cães é universal, independente da raça. Tanto um chihuahua, quanto um são bernardo reagem corporalmente da mesma forma quando estão felizes, agradecidos, entediados ou tristes. Os cachorros também são mais ou menos comedidos, de acordo com o comportamento geral da família humana.
Alguns gestos caninos são traduzíveis por qualquer tutor. Caudas abanando à chegada da família expressam alegria: “que bom que você chegou, estava com saudade”. O mesmo gesto se repete nas brincadeiras e até mesmo nos contatos com outros pets, durante os passeios.
Um gesto que muitos consideram inadequado é a sequência de saltos a cada reaproximação da família humana. Realmente, trata-se de um gesto que precisa ser controlado, mas não reprimido. Os pets saltam para poderem se aproximar do rosto dos humanos.
Outra conduta constrangedora é aquela “cheirada providencial” nas partes íntimas. Isto acontece principalmente na chegada de visitas. No entanto, não há o que fazer: os cães estão apenas tentando identificar os desconhecidos, e nada melhor do que verificar os feromônios. Vale o mesmo para a identificação através dos fluidos anais.
Uma curiosidade: seu cachorro se deita à sua frente, expondo totalmente a barriga? Você é um felizardo. Todos os quadrúpedes protegem especialmente o abdômen. O tórax possui uma proteção (as costelas), mas o abdômen só conta com músculo e gordura – é a área mais sensível do corpo.
Se ele “se abre” assim para você, é sinal de confiança total: seu cachorro realmente identifica você como um defensor, o “macho alfa” do bando. E isto não tem nada a ver com sexo: quando se trata de matilhas mistas (humanos e caninos) o macho alfa pode muito bem ser uma mulher.
Os agradecimentos
Lambidas são sinais inequívocos de afeto. Originalmente, as lambidas funcionavam apenas como complemento para a identificação dos recém-chegados, função que envolve principalmente o olfato. Quando os cães passaram a ser “membros da família” (o que levou milênios de convivência), os pets adaptaram o gesto.
As cadelas instintivamente lambem as suas crias. Inicialmente, para higienizar os filhotes, eliminando as secreções do parto. Posteriormente, para mantê-los livres de parasitas. Cientistas descobriram que este gesto libera ocitocina, substância conhecida como o hormônio do amor. Isto fortalece os vínculos entre mãe e filhos; por tabela, entre cães e tutores.
As lambidas dos cachorros também expressam gratidão. Uma boa lambida pode ser traduzida como “muito obrigado, eu gosto muito de você”. Neste quesito, no entanto, os cães são seletivos: lambidas caprichadas (com direito a uma boa quantidade de baba, em algumas raças) são reservadas a poucos. Por isto, se você vive com mãos e bochechas meladas, sinta-se privilegiado.
Entre tapas e beijos
Se os cachorros nutrem amor e devoção irrestritos em relação aos humanos, o mesmo não se pode dizer do relacionamento entre cães e gatos. Apesar da convivência milenar – os gatos se tornaram animais domésticos quando nós começamos a acumular grãos em silos, há cerca de sete mil anos, para combater os roedores – os pets mais adorados pelos humanos ainda não conseguiram estabelecer bons relacionamentos.
Isto ocorre por motivos instintivos: na natureza, os ancestrais dos gatos eram presas dos lobos. Ocorre também por questões comportamentais: enquanto um cão sacode a cauda quando está feliz, o gato exibe o mesmo gesto quando está irritado ou amedrontado – e, portanto, pronto para se defender do que ele considera um risco iminente.
No entanto, entre tapas e beijos, os cães e gatos atuais apresentam extrema capacidade de adaptação. Os caninos que não convivem felinos tendem a exibem condutas agressivas quando um destes “ameaça o território” (circula pela região sobre um muro, por exemplo).
Quando são “convidados” a partilhar o mesmo espaço, nossos pets apresentam comportamentos díspares. Podem simplesmente ignorar-se um ao outro, conviver com algumas rusgas, partilhar alguns espaços e até mesmo brincar e dormir juntos. Haja capacidade de adaptação ao ambiente!