O olfato canino é fantástico. Descubra algumas coisas que os cães conseguem cheirar e nós, não.
O olfato é um dos sentidos mais desenvolvidos nos cachorros. Eles os usam para caçar, identificar parceiros sexuais, perceber diferenças no ambiente, etc. Existem coisas que só os cães conseguem cheirar – e elas podem ser muito úteis também para os humanos.
A capacidade de identificar cheiros é prodigiosa entre os peludos. Eles podem captar odores diferentes em cada narina e analisar as substâncias que os compõem. Por exemplo, enquanto nós sentimos apenas o cheiro de uma bela macarronada, os cachorros identificam a farinha de trigo, o tomate, o orégano, o manjericão, etc.
Além de possuir um olfato formidável, até cem mil vezes mais apurado do que o humano, os cachorros também são mais “democráticos”, quando o assunto é cheiro. Ao contrário dos humanos, que se afastam rapidamente de tudo que possa ser considerado malcheiroso, os peludos se aproximam de qualquer coisa.
Restos de comida, excrementos de outros animais, todo tipo de descarte, plantas que exalam odores ruins, tudo é motivo para uma inspeção – em outras palavras, uma boa cafungada. Com isso, eles são capazes de encontrar pistas que passam totalmente despercebidas para nós.
A importância dos cheiros
A natureza dotou os cachorros com 300 milhões de terminais olfativos nas narinas, contra apenas cinco ou seis milhões nos humanos. Além disso, faz muito tempo que nós disfarçamos alguns odores: os perfumes já faziam sucesso há mais de quatro mil anos entre os antigos egípcios.
Egípcios mais modernos, do período ptolomaico (a dinastia que se encerrou com a rainha Cleópatra, no século 1º AEC), besuntavam-se com óleos perfumados e raspavam toda a pele, retirando impurezas, parasitas, etc.
Os romanos pré-imperiais imitaram este costume, até que descobriram, com os celtas (com quem travaram muitas batalhas), uma invenção revolucionária: o sabonete. Tudo para evitar o cheiro das secreções naturais do corpo.
Cheiros indecifráveis
O olfato se tornou um sentido secundário para nós, mas continua em primeiro plano para os cachorros. É por isso que eles dedicam boa parte do tempo das caminhadas para cheirar tudo que encontram pela frente – inclusive fezes de outros cães. Mesmo quando são recolhidas pelos tutores, os peludos conseguem identificar os rastros em qualquer lugar.
01. Desvendando crimes
Os cachorros são capazes de sentir cheiros de armamentos, drogas ilícitas e até de mercadorias irregulares em um posto aduaneiro. Eles precisam ser treinados para identificar os aromas da pólvora ou da maconha, mas, uma vez que tenham descoberto, encontram resquícios microscópicos em uma montanha de bagagens.
Por este motivo, eles também são empregados para localizar o paradeiro de pessoas sequestradas (e também das desorientadas, que não conseguem voltar para casa, e daquelas perdidas em trilhas).
Eles precisam apenas farejar uma peça de roupa da pessoa que está sendo procurada. Não é preciso que a vestimenta esteja usada, com traços de suor e outras secreções: os cachorros conseguem identificar cheiros mesmo depois que a peça foi lavada, passada e guardada por vários dias.
A partir de pequenos traços, eles são capazes de localizar a pessoa desaparecida em um raio de dois ou três quilômetros: o sucesso depende também de outras condições, como a direção do vento, a presença de outros estímulos olfativos no local, etc.
02. Mudanças climáticas
Pode parecer inacreditável, mas os cachorros conseguem perceber – ou melhor, cheirar – quando o tempo está mudando. Eles são capazes de identificar o aumento da umidade relativa do ar, o aumento ou queda da pressão atmosférica, etc.
Quando uma chuva forte está se aproximando, é comum ver os cachorros “tomando providências”: eles se recolhem à caminha, escondem-se em algum canto, procuram a companhia dos tutores mesmo antes que o céu fique carregado com nuvens escuras.
Eles também são capazes de identificar a aproximação de frentes frias e até de fenômenos climáticos mais severos, como furacões. De acordo com a plataforma meteorológica SmartGeo, dos EUA, fazendeiros do meio-oeste do país tendem a confiar nos cachorros, quando se trata da chegada de tempestades, ondas de frio e até tornados.
03. Prevenção de doenças
Recentemente, o SARS-Cov-2 abalou o mundo. Diversos países determinaram restrições para a circulação de pessoas e em outros locais (como o Brasil), a movimentação nas ruas foi drasticamente reduzida: mesmo saindo todos os dias para trabalhar, as pessoas, com medo da Covid-19, procuraram evitar saídas optativas, como passeios e até mesmo consultas médicas.
Os cuidados não foram superdimensionados: a doença já matou mais de 6,5 milhões de infectados (no Brasil, foram mais de 680 mil vítimas fatais). O vírus continua ativo, apesar de as campanhas de vacinação terem reduzido consideravelmente o número de casos.
Na Universidade da Pensilvânia (EUA), em 2021, um grupo de cães foi treinado especificamente para detectar o SARS-Cov-2 pelo olfato. Evidentemente, o vírus não provoca nenhum estímulo olfativo para os humanos – é um cheiro que só os cachorros podem detectar.
Os pesquisadores da faculdade de medicina seguiram os mesmos métodos empregados por cientistas da Universidade de Oxford (Inglaterra). Na Grã-Bretanha, alguns cães treinados foram posicionados em locais de muito movimento (como estações de trens) para diagnosticar novos casos da Covid-19 apenas pelo cheiro, entre centenas de pessoas.
Na Universidade de Nanterre (França), cachorros são utilizados desde 2018 como auxiliares no diagnóstico de diversos sintomas, como aproximação de crises epiléticas e outras formas de convulsões e quedas nos níveis de glicose na corrente sanguínea.
Mais recentemente, alguns cachorros estão sendo utilizados na detecção precoce de alguns tipos de câncer. As pesquisas estão sendo realizadas em diversas instituições pelo mundo todo, inclusive na Fundação Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.
Pesquisas indicam que os cachorros, devidamente adestrados, são capazes de identificar tumores mínimos de mama, ovários, testículos e próstata antes mesmo que exames complexos, como ressonâncias magnéticas, identifiquem as neoplasias.
O focinho dos cães
O focinho, órgão responsável pela captação dos cheiros, pode ser considerado perfeito entre a maioria dos cachorros. Graças a ele, os peludos conseguem identificar aromas sutis e imprevisíveis. Portanto, não tente esconder um biscoito com as mãos nas costas: o cachorro sabe que a guloseima está ali.
A estrutura das narinas permite que o cachorro inspire por um canal olfativo e pelo outro e até de captar dois estímulos ao mesmo tempo. Os peludos têm o costume de cheirar várias vezes o mesmo ponto. Com isso, eles conseguem captar diversas informações. A umidade na trufa (a região das narinas) também facilita a absorção dos odores.
Os cachorros, entre outros animais, são dotados com o órgão vomeronasal, uma estrutura situada em cima do céu da boca. O órgão é o responsável por identificar alguns feromônios. Com isso, um peludo consegue rastrear uma parceira sexual, descobrir se um animal desconhecido é amistoso ou agressivo, se ele está doente, ansioso, estressado ou inseguro, etc.
Quando os tutores voltam para casa, é também o órgão vomeronasal que “conta” por onde o parceiro andou enquanto esteve na rua. Todo cachorro fareja cuidadosamente os seus humanos, obtendo informações sobre por onde eles andaram, o que comeram,
Os cães rastreadores
Algumas raças caninas se destacam, quando o assunto é trabalhar no rastreamento. Eles usam o olfato apurado até mesmo para identificar crises de ansiedade e de pânico. Com isso, o uso de cães como auxiliares de psicoterapias e tratamentos psiquiátricos tem aumentado ano a ano.
Os campeões, quando se trata de farejar cheiros indecifráveis para os nossos narizes e mesmo para os de outros peludos, são os seguintes:
- basset hound;
- pastor belga;
- pastor alemão;
- beagle;
- bloodhound (cão de Santo Humberto);
- retriever do Labrador.
Em contrapartida, algumas raças caninas tiveram o olfato comprometido nos diversos cruzamentos seletivos a que nós submetemos os cães para obter animais especializados nas mais diversas atividades, como caça, pastoreio, luta, guarda, resgate, companhia, etc.
Por algum motivo, os humanos gostam de cães braquicefálicos, que têm o focinho achatado. É possível que a ausência do focinho alongado torne os peludos aparentemente menos belicosos – pelo menos em uma apreciação visual.
Raças braquicefálicas foram desenvolvidas tanto na Europa quanto na Ásia, o que indica que a aparência dos cães de cara amassada é muito menos ameaçadora. Mas, apesar de mais mansos, eles não conseguem executar as atividades típicas da espécie. Os cães braquicefálicos são os seguintes:
- boxer;
- dogue de Bordéus;
- pug;
- lhasa apso;
- pequinês;
- shih tzu;
- boston terrier;
- buldogue inglês;
- buldogue francês.
Não é apenas o olfato que é prejudicado nestas raças. A própria respiração é ineficiente, motivo por que muitos destes cães desenvolvem problemas cardiorrespiratórios e vasculares. Além disso, o paladar também é comprometido, uma vez que a boca é menor.
O focinho achatado também é responsável pela redução do número de dentes. A maioria dos cachorros apresenta dentição completa, com 42 dentes, mas o pug, por exemplo, tem apenas 30. A ausência não é penalizada em competições oficiais, mas pode prejudicar a mastigação e o próprio sistema digestório.