Conhecido pela língua azul, o chow-chow é nativo da China. Conheça todos os detalhes da raça.
Chow-chow é uma raça canina classificada no Grupo 5 da FCI (Federação Cinológica Internacional), que reúne os cães spitz e do tipo primitivo. A raça está catalogada na Seção 5, do grupo, dos spitz asiáticos e assemelhados. É um dos poucos cães que apresenta a língua azulada.
Spitz (spitzen, em alemão) é uma categoria de cães assemelhados aos lobos (por isso, também são chamados lupoides). Eles se caracterizam pela pelagem dupla, orelhas eretas e focinho pontudo. As semelhanças, no entanto, terminam aí: no mesmo grupo, estão relacionados tanto o chow-chow quanto o minúsculo lulu da Pomerânia.
Além da língua azul, os chow-chows se tornaram famosos em função da juba de leão e das poucas rugas do rosto. Eles também são chamados, pelas características anatômicas, de cachorros-ursos.
Um pouco de história
Apesar de possuir uma árvore genealógica traçada até a China (onde há registros de mais de dois mil anos), o país patrono do chow-chow é a Inglaterra, pois foi lá que o padrão da raça foi definido. Estes cães foram desenvolvidos para caça e posteriormente utilizados na guarda de patrimônio.
Análises de DNA mostram que o chow-chow surgiu na Mongólia ou na Sibéria, a partir de cruzamentos entre cães spitz e molossos ancestrais, tendo sido levados posteriormente à China, onde eles receberam um nome curioso: cão leão empolado.
Alguns animais semelhantes podem ser vistos em objetos de decoração da dinastia Han (200 AEC). Durante a dinastia Tang (581-618), o canil dos imperadores chegou a reunir mais de 2.500 chow-chows, então chamados de Tang Quan.
Os cães orientais começaram a surgir na Europa ainda no início do século 14, com a retomada da Rota da Seda, roteiro de tráfego comercial entre o mar Mediterrâneo (sul do continente) e o leste asiático.
As diversas tentativas de colonização por parte de portugueses, espanhóis, franceses, holandeses e ingleses (algumas delas bem-sucedidas), no entanto, dificultaram o relacionamento entre leste e oeste e o chow-chow só voltou a ser visto no Ocidente no final do século 18.
O chow-chow reapareceu na Inglaterra no século 19 (em 1820, alguns exemplares foram expostos em zoológicos como animais exóticos) e, somente em 1925, alguns cães da raça foram exibidos na Crufts, a maior exposição cinológica do mundo, realizada em Birmingham desde 1891.
As características do chow-chow
O chow-chow é um cão bastante versátil. Além de cão de guarda e de caça, ele também foi empregado em rinhas e como puxador de trenós. Os animais da raça são independentes, reservados, silenciosos (latem pouco) e bastante leais.
Estes cães mantiveram os instintos territorialistas e dominantes, mas não são considerados agressivos. A maioria dos criadores diz que o chow-chow tem temperamento forte, às vezes é teimoso e. por isso, não é indicado para tutores pouco experientes.
O relacionamento com outros cães não é exatamente harmonioso. O temperamento dominante do chow-chow pode levar a brigas, especialmente se o “colega” também for territorialista. Os cães da raça não podem ser definidos como extrovertidos: eles preferem famílias pequenas.
Os cães da raça podem ser considerados descontraídos. Eles latem pouco, mas costumam roncar bastante. É necessário um momento diário de atividade física (com ritmo de moderado a intenso), de 20 a 30 minutos.
O ronco do chow-chow é um dos pontos de discórdia entre os criadores. Os que tendem a seguir o padrão europeu (primitivo) afirmam que o ronco é determinado pelo focinho mais curto e é prejudicial para os pets. Mas não existem evidências científicas de que o ronco dos chow-chows esteja relacionado a alguma deficiência física.
A expectativa de vida é de dez a 12 anos (de acordo com estudos do American Kennel Club; não há estatísticas sobre a raça no Brasil). Chow-chows babam bastante, cavam pouco (não estragam canteiros e jardins) e não necessitam de companhia durante o dia todo, podendo ser deixados sozinhos sem problemas, desde que tenham alguma coisa com que se distrair.
Mesmo não sendo considerado agressivo, o chow-chow tende a se colocar como o segundo na hierarquia familiar. Ele identifica o tutor como líder e ele próprio, como o imediato. Criadores sem experiência podem ter problemas com cães da raça, que chegam a desafiar e competir pela supremacia do grupo.
Esta é uma das razões por que o adestramento é recomendado para a raça, que costuma ser definida como “de um dono só”. Efetivamente, os chow-chows escolhem um membro da família, a quem são especialmente devotados.
A sociabilização é importante desde que os chow-chows são filhotes. Eles mantêm as características de cães de guarda e, por isso, não são muito afeitos a crianças pequenas, mas adoram a bagunça das maiores. Mesmo assim, eles protegem todos os membros da família.
O chow-chow não é muito sociável, ele não costuma fazer amizades facilmente. Trata-se de um cão um pouco reservado com estranhos, mas não é comum que ataque desconhecidos (humanos e cachorros).
Os cães da raça sempre são comparados a gatos, em função do temperamento independente, a tranquilidade no dia a dia e principalmente dos hábitos de limpeza: o chow-chow não costuma exalar “cheiro de cachorro”.
O padrão do chow-chow
A descrição a seguir está de acordo com os parâmetros da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), que adapta os padrões oficiais internacionais às condições brasileiras. A CBKC zela pela manutenção das características dos animais e faz o registro dos cães de raça no país.
• Aparência geral – o chow-chow é ativo, compacto, com um lombo curto e bem estruturado e equilibrado. Apresenta aspecto digno e “leonino”. A cauda é portada sobre o dorso. É um cão calmo, bom guardião, independente, reservado e leal.
Os animais da raça devem se locomover com liberdade e a pelagem não pode ser longa a ponto de impedir as atividades cotidianas ou causar desconforto no verão (ou em países de clima quente).
A língua azulada é característica da raça (entre os cães, apenas chow-chows e shar-peis apresentam língua azul). A distância da cernelha ao cotovelo deve ser equivalente à distância do cotovelo ao chão.
• Cabeça – o crânio é largo e plano e o stop não é muito pronunciado. A trufa grande e larga é preferencialmente preta, mas admite-se a cor clara nos cães de pelagem creme ou mais clara e, nos azuis e fulvos, a trufa pode acompanhar a cor dos pelos.
Há uma diferença entre os padrões oficiais dos EUA e da Europa. Um chow-chow americano creme ou de pelagem mais clara não pode apresentar trufa preta (é uma falta desqualificante), mas fígado ou da cor da pelagem. As exposições oficiais europeias exigem a trufa da forma como é descrita no padrão do CBKC. Nos EUA, os cães europeus são registrados como “chow-chows primitivos”.
O focinho apresenta comprimento moderado; é bem cheio na região abaixo dos olhos, largo até a extremidade (não pode ser pontudo com o de uma raposa ou um rough collie).
Na boca, as gengivas, os lábios e o céu da boca devem ser pretas, mas admite-se alguma diluição nas gengivas dos cães azuis e fulvos, que se torna mais evidente nos animais creme e brancos.
Os dentes são fortes e alinhados, com dentição completa e regular (42 dentes). A mandíbula e o maxilar devem apresentar mordedura em tesoura (os dentes superiores se sobrepõem aos inferiores.
Os olhos do chow-chow são escuros e ovais, de tamanho médio (permite-se coloração correspondente nos cães azuis e fulvos). Devem ser limpos, livres de entrópio (pálpebras dobradas para dentro, fazendo com que os cílios irritem o globo ocular).
As orelhas são inseridas acima dos olhos, são pequenas, grossas e levemente arredondadas nas extremidades. São portadas eretas, rígidas e afastadas, voltadas para frente e levemente convergentes, conferindo o “ar carrancudo” característico da raça.
O pescoço é ligeiramente arqueado, forte e cheio, sem ser curto. O comprimento precisa ser suficiente para o cão portar a cabeça orgulhosamente, sempre acima da linha superior do tronco.
• Tronco – o dorso é curto, plano e forte. O lombo é robusto e o peito, largo e profundo, com costelas arqueadas, mas não em forma de barril. A cauda apresenta inserção alta e é portada sobre o dorso.
Nos membros anteriores, os ombros são musculosos e oblíquos, os antebraços são retos, com boa ossatura e as patas são pequenas e redondas, como pés de gato. Os dedos permitem boa posição e apoio dos braços.
Nos membros posteriores bem desenvolvidos, vistas de perfil, as patas ficam diretamente sob a articulação do quadril. As coxas são fortes e os joelhos apresentam uma ligeira curvatura. Os jarretes são bem descidos e a angulação deve parecer reta, sem se flexionar para frente. As patas são igualmente pequenas e redondas.
• Movimentação – o chow-chow apresenta movimentos relativamente curtos e saltitantes. No trote, as patas traseiras praticamente não se erguem, parecendo roçar o piso. O movimento característico permite ao cão se mover livremente, sem mancar. Os cães da raça apresentam boa resistência.
Os membros anteriores e posteriores movem-se em planos paralelos, com movimento pendular das pernas. O chow-chow passa impressão de se deslocar tranquilamente, sem sinais de desconforto ou sofrimento.
• Pelagem – o pelo pode ser áspero ou liso. Nos cães de pelo áspero, a pelagem é abundante, densa, reta e eriçada, mas o comprimento não pode ser excessivo. O subpelo é suave e lanoso. A pelagem é mais densa no pescoço (onde forma uma juba) e na face posterior das coxas (onde forma culotes).
Os animais de pelo liso apresentam pelagem curta, densa, reta, plana e íntegra. O aspecto não pode se achatado, nem de textura felpuda, como a de um bicho de pelúcia.
Nas exposições oficiais, é penalizado qualquer corte do pelo que altere o contorno natural ou a expressão do chow-chow. Os pelos podem ser aparados apenas nas patas, para realçar o formato arredondado.
• Cores – o chow-chow é sempre unicolor e pode ser preto, vermelho, azul, fulvo, creme ou branco. A pelagem frequentemente apresenta nuanças. Sob a cauda e na face posterior das coxas, os pelos podem ser mais claros. Os cães da raça não devem apresentar manchas nem mais de uma cor (pelagem particolor).
• Tamanho – a altura na cernelha nos machos fica entre 48 cm e 56 cm (com peso de 25 kg a 32 kg) e nas fêmeas, entre 46 cm e 51 cm (com peso de 20 kg a 27 kg).
O peso dos cães é considerado um aspecto menos importante em competições oficiais, uma vez que o formato característico é definido pela pelagem. Mesmo assim, é preciso cuidado com o sobrepeso (chow-chows dificilmente têm problemas com desnutrição).
• Faltas – não existem faltas específicas que comprometam o chow-chow em exposições oficiais. Os desvios do padrão são penalizados na medida da gravidade e dos efeitos causados na saúde dos animais. Sinais de anomalia física ou comportamental, bem como agressividade ou timidez excessiva são considerados faltas desqualificantes.
Saúde do chow-chow
O chow-chow tende a ser saudável durante a vida inteira, desde que seja adequadamente alimentado, vermifugado e imunizado. Algumas doenças hereditárias, no entanto, são características da raça.
A pele é o principal ponto sensível da raça. Em função do pelo espesso e farto, é comum que os chow-chows desenvolvam dermatites. Os tutores precisam observar a pele dos pets pelo menos uma vez por semana.
A luxação da patela é comum entre cães de pequeno porte, mas é uma condição frequente nos cães da raça. A patela ou rótula é o osso do joelho que se alinha ao músculo da coxa (quadríceps), cuja principal função é dar sustentação ao tronco e garantir o deslocamento sem dificuldades.
Quando ocorre luxação, há um desencaixe medial ou lateral entre as articulações, o que prejudica os movimentos. O problema pode surgir ainda nos filhotes e deve ser investigado entre os genitores, para reduzir as possibilidades da ocorrência.
O entrópio é uma doença comum entre chow-chows. Tão comum que é relacionada entre as faltas desqualificantes em competições. Trata-se da inversão de parte ou de toda a margem da pálpebra, que causa irritação do globo ocular por causa do atrito constante com os cílios.
A doença pode ser observada nas primeiras semanas de vida, mas o diagnóstico é firmado quando os cães atingem 12 a 18 meses. O tratamento pode requerer uma cirurgia para remoção da porção cutânea envolvida no entrópio.
O melanoma é um tumor maligno que atinge as células produtoras de melanina, uma proteína que dá cor à pele, pelos, unhas, etc. Apesar de mais frequentemente se manifestar na pele, esta neoplasia também pode atingir a cavidade oral, unhas, coxins plantares, olhos, junções mucocutâneas e o trato gastrointestinal.
Os chow-chows são responsáveis por cerca de 14% dos diagnósticos de melanoma, de acordo com estudo realizado nos EUA. O tratamento é feito com cirurgia e radioterapia. O sintoma mais evidente é a formação de manchas escuras na pele ou na boca.
Alimentação
O chow-chow não dá muito trabalho na escolha das rações, mas, como qualquer outro cão, ele se desenvolve e mantém a saúde quando recebe alimentos de qualidade, como as rações rotuladas como “super premium”.
Oferecer um produto balanceado para os cachorros garante a boa saúde, o desenvolvimento físico (chow-chows crescem rapidamente e precisam de complementos para manter a massa muscular) e a beleza da pelagem.
Caso o nível de atividade física do pet seja reduzido por qualquer motivo, é preciso optar por rações pobres em gorduras e ricas em proteínas, para evitar problemas com obesidade. Os cães da raça não costumam apresentar problemas gastrointestinais, mas é importante seguir as orientações do veterinário.
Cuidados especiais
Além da atenção à aparência e saúde da pele, os tutores precisam garantir a hidratação dos chow-chows. Trata-se de uma raça desenvolvida em clima frio, para desenvolver tarefas em campo aberto. Por isso, são muito resistentes às baixas temperaturas, mas sofrem bastante com o calor do verão.
A pelagem espessa é também o habitat especial de parasitas externos, como pulgas, piolhos e carrapatos. O ideal é utilizar inseticidas de uso tópico e uma coleira repelente, além de fiscalizar os pelos a cada volta para casa. Os ectoparasitas são mais comuns no verão, mas, no Brasil, são uma ameaça em todos os meses do ano.
Os pelos precisam ser escovados de duas a três vezes por semana, para deixar os fios livres de nós, com aspecto agradável. O subpelo não deve ser escovado com muita frequência, para não remover a oleosidade natural da pele.
Os banhos podem ser semanais (no inverno, podem ser dados a cada 15 dias). Os cachorros devem ser muito bem enxugados, para evitar a proliferação de fungos. A temperatura da água precisa ser morna, para não danificar a pele e os pelos.
Os filhotes de chow-chow
Todos os filhotes de cachorro são fofos. Os filhotes de chow-chow se parecem com bolinhas de pelos, verdadeiros ursinhos de pelúcia. No entanto, desde pequenos, os cães da raça já demonstram personalidade e não gostam muito de colo.
O chow-chow é amoroso e leal, mas não é ávido por agradar os tutores, como são os retrievers do Labrador. Desde filhote, mostra-se um cachorro mais independente. Ele gosta de se isolar e explorar sozinho os ambientes, mas precisa ser vigiado para não se meter em apuros.
Não se impressione ao se deparar com um filhote sem a língua azul. E, se os pais forem vermelhos ou fulvos, você verá uma bolinha castanho-claro (com uma máscara escura no rosto), bem diferente dos adultos.
A cor azulada da língua do chow-chow costuma se fixar com oito a dez semanas de idade (antes disso, é rosada, como a de todos os outros cães). A pelagem vermelha e fulva surge com três meses de vida.
Os cuidados iniciais são os mesmos indicados para todos os cachorros. A primeira dose de vermífugo deve ser ministrada aos 30 dias e as primeiras vacinas, entre 45 e 60 dias. O chow-chow precisa tomar todas as vacinas, mesmo as de doenças mais comuns nos cachorros de pequeno porte.
Os tutores devem observar se não se formam secreções em excesso nos olhos (uma quantidade pequena é normal depois de uma noite de sono) e se a respiração é livre (um filhote deve ser capaz, em repouso, de respirar com a boca fechada).
Na hora de escolher um filhote na ninhada, saiba que os mais corajosos – que respondem ao primeiro chamado, afastam-se dos irmãos e correm para conhecer a novidade – são também os que serão mais ousados e mais resistentes ao adestramento e à sociabilização.
É importante que o filhote tenha contato com o maior número possível de pessoas e outros cachorros. Se houver um gato em casa, ele será um ótimo professor para o chow-chow – e um excelente teste de tolerância, exatamente o que os cães da raça precisam.
Acostume o filhote a tomar banho regularmente, a ter os pelos penteados e os dentes escovados desde cedo. É mais difícil ensinar os pets a assimilar estas normas de higiene quando eles já são adultos.
Quanto custa um chow-chow?
O preço de um filhote varia bastante de acordo com a região do país, mas a maioria dos pets com registro na CBKC é vendida por valores entre R$ 2.000 e R$ 6.000. Desconfie sempre dos preços muito baixos, que podem indicar mestiçagem ou maus tratos com os padreadores e matrizes.
Para garantir que o filhote seja de raça, consulte os registros do canil e dos pais junto à CBKC. Os criadores autorizados se comprometem a publicar regularmente as atividades dos canis, o nascimento das ninhadas, os prêmios obtidos pelo plantel, etc.
Não são regras gerais, mas cães de origem duvidosa podem apresentar patas grossas, encorpadas ou alongadas (e não arredondadas) ou a juba proeminente no peito mas estreita nas laterais.
Visite o canil onde pretende adquirir o chow-chow diversas vezes, em horários e dias da semana diferentes. Verifique as instalações dos cachorros, as condições da higiene, converse com o veterinário local e o espaço de atividades. Se possível, dê uma volta com o filhote escolhido pelos arredores.