Desenvolvido no sul da Itália, o cane corso é um molossoide. Saiba tudo sobre a raça.
O cane corso italiano é um cão do tipo mastim – categoria que engloba os animais de porte grande e gigante. Nativo do sul da Itália, ele é empregado na guarda de fazendas e na caça, especialmente de javalis.
Na classificação da Federação Cinológica Internacional (FCI), o cane corso italiano faz parte do Grupo 2, que reúne os pinschers e schnauzers – raças molossoides – cães montanheses e boiadeiros suíços. Ele é considerado um cão molossoide, entre os maiores do mundo.
Os cães da raça cane corso são famosos pela potência da mordida. O cane corso só perde para o kangal, da Turquia. A mordida exerce uma pressão de 700 PSI (libra-força por polegada quadrada). No sistema internacional de unidades. Isto equivale a 49,2 kgf/cm2 (quilograma-força por centímetro quadrado). O terceiro colocado – o dogue de Bordéus – tem uma mordida de “apenas” 556 PSI.
O tamanho e a força do cane corso, por outro lado, escondem uma personalidade dócil, leal e afetuosa. O cane corso é aquele “amigo grandalhão”, que gosta de cuidar das pessoas à sua volta. Ele amedronta por causa do porte, mas, talvez por isso mesmo, não costuma se envolver em brigas e agressões.
Um pouco de história do cane corso
A origem da raça é imprecisa, mas acredita-se que o cane corso seja um dos descendentes do Canis pugnax, antigos cães molossos do Império Romano, empregados para guarda, combate e até nas muitas batalhas da antiguidade.
A árvore genealógica do cane corso está intimamente relacionada à do mastim napolitano: nos anos 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, os dois termos eram usados para identificar a mesma raça canina, também chamada de cane da presa e molosso italiano.
Apesar de toda esta história, a criação organizada do cane corso surgiu apenas nos anos 1980, tendo sido reconhecida como raça independente pela FCI dez anos depois. O nome significa “cachorro da Córsega”, ilha do mar Mediterrâneo atualmente pertencente à França.
Alguns pesquisadores, no entanto, afirmam que o adjetivo “corso” é derivado do termo latino “cohors”, que significa quintal ou pátio interno – com esta acepção, o cane corso seria o “cão que guarda o quintal”.
Também é possível que o “corso” tenha sido derivado do termo celta “coarse”, que quer dizer “robusto”. Celtas e romanos guerrearam, no século 1º AEC, pelo domínio do atual território do centro-sul da França.
Seja como for, o cane corso é um orgulhoso descendente do Canis pugnax, antiga raça molossoide empregada pelos romanos na guerra, nos combates esportivos e na caça de grandes animais. A raça se popularizou em todo o império.
Ainda hoje, em algumas ruínas romanas (como as escavadas no entorno de Nápoles, cidade erguida sobre Pompeia e Herculanum), é possível encontrar placas de advertência com a inscrição “cave canem” – cuidado com o cão. O aviso era destinado a identificar os prédios públicos e particulares guardados por antigos Canis pugnax.
No idioma italiano arcaico, “cane da corso” significa “cão de presa”. É possível que os antigos etruscos já utilizassem ancestrais do cane corso nas atividades de caça. Certamente, os romanos o empregaram para a guarda de gado bovino e suíno.
Nas primeiras décadas do século 20, o sul da Itália modificou-se, deixando de ser uma região eminentemente agrária. Com isso, o cane corso foi se tornando cada vez mais raro. Apenas no nos anos 1970, um grupo de criadores trouxe de volta a raça esquecida.
O criador Paulo Breber voltou a desenvolver a raça em 1978. Ele publicou um artigo na revista oficial da Ente Nazionale Cinofilia Italiana (ENTI), relatando ter organizado um plantel com 19 cães encontrados em Foggia (comuna do sudeste da Itália). Entre 1975 e 1978, o criador obteve duas ninhadas, com sete e dez filhotes.
Os primeiros exemplares contemporâneos do cane corso, no entanto, enfrentaram alguns percalços. Criadores decidiram cruzar os animais encontrados com cães de outras raças, como o boxer e o dogue de Bordéus: o resultado foi o surgimento de cães prognatas.
Corrigidos os problemas, o ENTI reconheceu o cano corso, em 1994, como a 14ª raça canina italiana. O cão Basir foi eleito como o exemplar ideal da nova raça. Três anos depois, a FCI aceitou o cane corso e dez anos depois, publicou o primeiro padrão oficial.
Nos EUA, o American Kennel Club (AKC) reconheceu o cane corso apenas em 2010. Atualmente, é a 50ª raça mais popular do país – um salto de dez posições em apenas três anos (de 2010 a 2013).
No Brasil, seguindo as diretrizes da FCI, o cane corso teve o primeiro perfil oficial publicado pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC) em 2015. A entidade brasileira classifica a raça como ideal para guarda, defesa, ações policiais e rastreio.
O padrão oficial do cane corso
O cane corso é um cão robusto e vigoroso, dotado de músculos esguios e poderosos. No entanto, não é um cachorro pesado, mas destaca-se sobretudo em função da elegância e porte altivo. Trata-se de um cão retangular, com proporções de 11:10 entre o comprimento e a altura.
Este é um cão guardião de propriedades e do gado. Como bom boiadeiro, ele também entende ser necessário proteger e defender a família humana. A vivência nas atividades de caça tornou o cane corso silencioso, obediente e leal, apesar de um pouco mal-humorado.
• Cabeça – larga e tipicamente molossoide. O cane corso é um cão “cabeçudo”: o comprimento da cabeça ultrapassa um terço da altura do animal na cernelha. Visto de frente, pode-se observar uma ligeira convergência dos eixos longitudinais superiores do crânio e do focinho, sem formar rugas muito pronunciadas.
O crânio é largo entre os arcos zigomáticos (as maçãs do rosto). A largura do crânio é igual ao comprimento ou um pouco maior. É convexo na frente, achatando-se ligeiramente atrás da testa, até o occipital.
O sulco médio frontal é bem visível, tendo início no stop e prolongando-se até o meio da testa. O stop é bem definido, com seios frontais proeminentes.
A trufa, preta ou cinza (apenas em cães com máscara na mesma tonalidade), é larga, com narinas abertas amplamente. A trufa se localiza na mesma linha da cana nasal.
O focinho é forte e quadrado, tão largo quanto longo, mas visivelmente mais curto do que o crânio (em uma relação 2:1). A parte frontal do focinho é plana, com as laterais paralelas. Visto de lado, o focinho é profundo e a cana nasal é reta.
Os lábios superiores, vistos de frente, formam um “U” invertido. Vistos de lado, eles pendem moderadamente. Eles cobrem a mandíbula e determinam o perfil da parte inferior do focinho.
Maxilar e mandíbula são largos, espessos e curvados. O cane corso pode apresentar ligeiro prognatismo inferior (não mais do que cinco milímetros). Os dentes devem se fechar uns sobre os outros: a mordedura em torquês é aceitável, mas não desejada.
A região massetérica (que se estende dos arcos zigomáticos às laterais da face) é totalmente evidente. As bochechas são abauladas, mas não são bojudas.
O cane corso apresenta olhos de tamanho médio, ligeiramente protuberantes. Fecham-se em formato oval e são inseridos bem separados. As pálpebras são bem aderentes e as íris devem preferencialmente apresentar cor escura, mas é tolerado que combinem com a pelagem. Os olhos conferem uma expressão vivaz e alerta.
As orelhas de tamanho médio são triangulares e pendentes. A base é ampla, localizada bem acima dos arcos zigomáticos.
• Pescoço – é forte e musculoso, tão comprido quanto a cabeça.
• Tronco – o tronco é ligeiramente mais longo do que a altura na cernelha. A constituição é retangular e robusta. O dorso é reto, musculoso e bem firme. O lombo é curto e forte e a garupa, longa e larga, ligeiramente inclinada.
O tórax, bem desenvolvido em todas as dimensões, desde até a altura dos cotovelos. A cauda é natural, com inserção relativamente alta e muito grossa na raiz. Quando o cane corso está em atividade, a cauda é portada alta, mas nunca ereta ou enrolada.
• Membros – os ombros são longos, oblíquos e musculosos. Os braços são fortes e os antebraços, ainda mais fortes. Os carpos são elásticos e os metacarpos, elásticos e apenas um pouco inclinados. O cane corso tem patas dianteiras “de gato”.
As coxas são largas e longas, com a linha posterior convexa. As pernas são secas, não carnudas. Os jarretes são moderadamente angulados; os metatarsos, espessos e resistentes; as patas posteriores são um pouco menos compactas do que as anteriores.
O cane corso movimenta-se com passadas longas. O trote – forma preferida de movimentação – é bastante alongado.
• Pele – em todo o corpo, a pele é espessa e bem aderente aos músculos, sem formar vincos ou rugas.
• Pelagem – o pelo é curto, brilhante e muito denso. o cane corso apresenta subpelo de textura vítrea – brilhante, rijo e denso.
O pelo pode ser preto, cinza (chumbo, claro ou ardósia), fulvo (claro ou escuro), vermelho cervo e trigo escuro (listras em diferentes tonalidades de cinza ou fulvo).
Nos cães fulvos e tigrados, a máscara (preta ou cinza) não pode ultrapassar a linha dos olhos. Pequenas manchas brancas são aceitáveis no peito, pontas dos dedos e sobre a cana nasal.
• Tamanho e peso – os machos medem entre 64 cm e 68 cm de altura na cernelha e as fêmeas, entre 60 cm e 64 cm. Em exposições oficiais, há uma tolerância de dois centímetros acima ou abaixo do estabelecido no padrão.
O peso dos machos é de 45 kg a 50 kg e o das fêmeas, de 40 kg a 45 kg. O peso deve estar sempre de acordo com o tamanho do cão. O aspecto geral dos cães deve transparecer potência e equilíbrio, com potencial atlético.
• Faltas – todos os cães avaliados em competições oficiais são despontuados em função de qualquer desvio dos termos descritos no padrão, na proporção da gravidade e dos efeitos sobre a saúde dos animais e sobre a habilidade em desenvolver as tarefas tradicionais.
São consideradas faltas graves:
- eixos superiores do crânio ou do focinho paralelos ou muito convergentes;
- despigmentação parcial da trufa;
- mordedura em tesoura;
- prognatismo inferior acima de cinco milímetros;
- cauda enrolada ou na posição vertical;
- presença de ergôs (dedos polegares vestigiais presentes em alguns cachorros).
No Brasil, caudectomia e conchectomia são proibidas por lei. Nas competições internacionais, não é permitido o corte estético da cauda e das orelhas do cane corso. Outras características são indesejáveis e determinam a desqualificação dos cães:
- divergência do eixo craniofacial;
- trufa totalmente despigmentada (rosa);
- despigmentação parcial ou total das pálpebras;
- olhos porcelanizados (salpicados de azul e preto);
- estrabismo;
- cauda muito curta;
- pelo semilongo ou franjado;
- cores não previstas no padrão ou manchas brancas muito extensas;
- nariz romano (cana nasal muito côncava ou convexa);
- prognatismo superior.
Os cuidados com o cane corso
O cane corso italiano é um cão recomendado para tutores experientes e firmes. Como todo cachorro de caça e de guarda, ele precisa de uma liderança forte e decidida. O adestramento é absolutamente necessário para os cães se desenvolverem de maneira equilibrada e saudável.
Sendo um cão naturalmente guardião, o cane corso é bastante desconfiado com pessoas estranhas. A necessidade de preservação foi potencializada pelo fato de o cane corso ser um boiadeiro e, no desenvolvimento das tarefas, passar muito tempo sem companhia humana.
Sendo bem adestrado, o cane corso tende a se mostrar indiferente quando é abordado por estranhos. Ele apenas reage de forma protetora diante das ameaças reais, mas não ataca indiscriminadamente. O cane corso pode parecer mal-humorado para entregadores, prestadores de serviços e outras pessoas com acesso à casa, mas não é um animal violento.
O cane corso é um animal silencioso. Acostumado a caçar, ele sabe que precisa evitar barulho até que a presa esteja ao alcance. Caso um cão da raça comece a latir sem parar, algo muito fora da rotina está acontecendo. Em situações normais, ele pode latir para estranhos, mas apenas para marcar posição.
Mesmo nas brincadeiras, o cane corso é um animal de poucas palavras – ou latidos. Ele prefere demonstrar o afeto deitando a cabeça no colo do tutor para receber carinho. As tarefas de guarda e defesa, no entanto, tornam esses momentos bastante raros.
Os cães da raça adoram longas caminhadas. Um cane corso adulto é capaz de percorrer mais de dois quilômetros em ritmo acelerado, sem dar mostras de cansaço. O passeio diário deste cão pode consumir mais de uma hora.
Os cães da raça não são bagunceiros nem destrutivos. Considerando o tamanho, eles são bem elegantes: podem atravessar uma sala cheia de enfeites sem derrubar nenhum. De qualquer forma, é importante mantê-lo ocupado, para evitar o tédio.
O cane corso também está longe de ser agitado como um cocker spaniel ou um husky siberiano. Ele é muito ativo e está sempre disposto a caminhadas e brincadeiras, mas dificilmente se mostra ansioso.
A falta de companhia e de exercícios, contudo, impede que estes cães consumam toda a energia de que são dotados. Isto pode se traduzir em alguns incidentes domésticos, como sapatos destruídos, pés de móveis roídos e canteiros arrancados. O cane corso gosta muito de cavar.
É importante socializar o cane corso desde filhote. Os cães da raça são fortes, grandes e ativos, demandando muita atividade física: corridas, jogos, cabos-de-guerra, etc. Eles são cães muito intensos, indicados para pessoas com espírito atlético.
Os cães da raça são muito afetuosos com a família humana e costumam se dar bem com crianças, mesmo as muito pequenas. É frequente ver um cane corso sendo “cavalgado” por um pequeno. Mas é preciso insistir em que o adestramento faz toda a diferença no desenvolvimento emocional dos cães.
O cane corso é imenso e tem muita energia para gastar. Ele não deve ser criado em ambientes pequenos e é importante que, em casa, possar circular livremente. Quanto mais contatos ele tiver com a família humana, mais equilibrado será no relacionamento com outras pessoas.
Com outros animais, no entanto, o cane corso não é muito amigável. Ele tende a ser dominante e, quando bem adestrado, entende que, abaixo dos tutores, é o primeiro na linha de comando.
Ele tolera a presença de gatos e cães de pequeno porte, mas tende a medir forças quando cães grandes quando precisa partilhar o espaço. Quem quer ter dois cães grandes (o cane corso e mais um) deve adotá-los ainda filhotes, para que se acostumem.
A higiene
Por outro lado, é fácil cuidar da higiene e limpeza destes cães. O pelo curto não exige tosa. Os banhos devem ser dados a cada 15 dias, com xampus específicos. A pele do cane corso é oleosa e ele é propenso a dermatites. O subpelo demanda algum trabalho para ser enxugado.
A pelagem espessa e curta facilita a limpeza. O cane corso perde poucos pelos mortos e precisa apenas de uma escovação semanal, com uma escova de cerdas macias, principalmente para distribuir a oleosidade natural pelo corpo.
As orelhas devem ser inspecionadas semanalmente. O acúmulo de sujeira e cera facilita a instalação de otites.
O cane corso é adepto da “meditação ativa”. Ele gosta de ficar quase imóvel em um canto do quintal, observando o movimento e a necessidade de intervenção. Isso o torna ainda mais elegante, mas facilita a proliferação de ectoparasitas, como piolhos, pulgas e carrapatos.
As unhas dos cães da raça são fortes e grandes. Elas precisam ser aparadas a cada três semanas, para evitar que fiquem trincadas ou se lasquem e quebrem, problemas que prejudicam a mobilidade dos animais. As unhas devem ser cortadas a partir do momento em que começam a tocar o chão, com o cachorro em pé, em posição de atenção.
A saúde do cane corso
Os principais problemas de saúde são as displasias de quadril e de cotovelo, transtornos comuns entre os cães de grande porte. As displasias são más formações das articulações do quadril ou da escápula. Estas doenças dificultam os movimentos básicos, como andar, correr, saltar e até levantar-se e sentar-se. No caso do cane corso, há evidências de hereditariedade nestas doenças.
A torção gástrica também é relativamente comum. Ela ocorre quando o estômago aumenta de tamanho e gira na cavidade abdominal, prejudicando o movimento dos alimentos, da água e dos gases. Esta dilatação é frequente em cães muito gulosos, que “devoram” a comida em poucos minutos. Recomenda-se evitar exercícios físicos depois das refeições.
Algumas linhagens de cane corso apresentam tendência para distúrbios oculares. Os mais comuns são:
• prolapso da glândula da terceira pálpebra – esta glândula é responsável pela produção de 70% das lágrimas dos cachorros. Quando ocorre o prolapso, a glândula é projetada para fora, impedindo a lubrificação dos globos oculares. A doença também é chamada de “olhos de cereja”;
• entrópio – doença que faz a pálpebra se dobrar para dentro, permitindo o contato dos cílios com o globo ocular, o que facilita inflamações e infecções;
• ectrópio – a pálpebra se dobra para fora, impedindo o fechamento completo dos olhos, dificultando o repouso e facilitando o ressecamento dos olhos.
As fêmeas jovens (entre o primeiro e o terceiro cio) podem desenvolver hiperplasia vaginal, que é a ampliação do canal vaginal com a consequente exposição da vulva. Esta condição é dolorosa e facilita o surgimento de infecções urinárias e uterinas.
O problema, cuja correção é cirúrgica na maioria dos casos, é causado pelo aumento da produção de estrogênio, um dos hormônios sexuais das cadelas. Por isso, se o tutor não tem intenção de fazer uma criação de cane corso, deve esterilizar as cachorras ainda antes do primeiro estro.
Preço do filhote de cane corso
Um filhote de cane corso custa entre R$ 3.500 e R$ 8.000. O preço varia bastante, em função das características dos pais e ancestrais: filhotes de cães premiados são sempre mais caros. Apesar de a raça não ser muito popular no Brasil, há canis criadores de cane corso em todo o país.