Diferenças genéticas explicam o “ódio”, mas a convivência entre cães e gatos pode ser pacífica.
As relações tensas entre cães e gatos são temas de filmes, livros, desenhos animados, ditados populares, etc. Aparentemente, os dois animais de estimação favoritos dos humanos se odeiam. Mas será que isso é realmente verdade que cães e gatos se odeiam?
As duas espécies – Canis lupus familiaris e Felis catus – foram trazidas para o convívio humano há milênios. Domesticar é um verbo que vem do latim: “domus” significa “lar, casa”. A palavra originalmente significava “trazer para casa”.
Os cães se aproximaram quando nós ainda nem tínhamos casa, apenas acampamentos improvisados. Eles revelaram ser bons companheiros nas caçadas, ótimos guardiães e excelentes companheiros no dia a dia.
Os gatos chegaram bem depois, quando não apenas tínhamos casa, mas também silos para guardar os grãos que cultivávamos. Esses depósitos também atraíram roedores, que se apropriavam de parte da nossa produção. A solução foi manter os bichanos por perto.
Como cães e gatos
Os cachorros descendem dos lobos. Estes animais, por sua vez, estão no topo da cadeia alimentar em todas as regiões que colonizaram. Os gatos, por sua vez, são predadores – haja vista que eles nunca deram trégua para ratos, camundongos e algumas espécies de insetos –, mas, ao mesmo tempo, também são presas.
Os nossos peludos mantêm até hoje os comportamentos instintivos: aqueles hábitos que garantiram a sobrevivência das duas espécies até os dias de hoje. Alguns zoólogos, inclusive, chegam a considerar cães e gatos apenas como subespécies do Canis lupus (o lobo) e do Felis silvestris (o gato-selvagem).
Efetivamente, cães e lobos, assim como gatos domésticos e algumas espécies selvagens, podem acasalar e gerar descendentes férteis. Isto demonstra que, apesar das inúmeras mudanças ocorridas entre os totós e bichanos, as diferenças não são tão grandes assim.
Ao ver um gato nas proximidades, os cachorros têm despertados os instintos de caça e passam a perseguir a “presa”. O fato pode ser verificado em qualquer raça canina, independente do porte e das condições em que o cão foi criado.
É possível que alguns cachorros não se deem ao trabalho de correr atrás de um gato. Mesmo assim, todos os sentidos são despertados e estimulados: eles ouvem, sentem o cheiro e visualizam a presa. Dotados de dentes, garras e músculos fortes, tudo se prepara para a caça, mesmo que ela não aconteça (o que é muito mais comum hoje em dia, em ambientes urbanos).
Os gatos, por sua vez, sabem que precisam se defender. Algumas raças felinas são bem pequenas, como o Singapura e o munchkin (que, além de pequeno, também tem membros curtos). Um bichano de 2 kg pode considerar assustador até mesmo um chihuahua ou um pinscher miniatura.
Apesar de menores (com raras e honrosas exceções), os gatos são muito valentes. A espécie se desenvolveu na África subsaariana, ao lado de raposas e hienas, para não falar de predadores maiores, como os primos guepardos.
Para os gatos, quase sempre a melhor defesa é o ataque. Quando eles se sentem ameaçados – e a “ameaça” pode ser um cãozinho filhote pequeno, fofinho e curioso –, eles tendem a literalmente “mostrar as garras” e podem causar ferimentos dolorosos nos intrusos que ousarem atrapalhar o sossego.
Convivência pacífica entre cães e gatos
Isto tudo não significa que cães e gatos não possam conviver em paz. Até mesmo os arquirrivais Tom e Jerry, em alguns episódios do desenho animado, se unem por objetivos comuns – que, em muitos casos, podem ser sonecas ou a partilha de uma refeição apetitosa.
A natureza está repleta de exemplos de mutualismo: espécies que vivem juntas ou, pelo menos, partilham o ambiente em harmonia, com benefícios comuns. É o caso dos peixes-palhaço com as anêmonas e de algumas aves com cavalos, porcos e vacas.
Durante muito tempo, os cachorros foram empregados para a guarda de pessoas e patrimônio. A agressividade e a territorialidade eram comportamentos estimulados e isto dificultava o relacionamento com os gatos.
Atualmente, no entanto, a maioria dos pets é adotada para fazer companhia, em uma relação que poderia ser chamada de “mutualismo cultural”. A natureza não gerou humanos, cachorros e gatos para viverem juntos, mas a humanidade criou a sociedade e todos acabaram se reunindo nas casas, vilas, aldeias e cidades.
Especialmente quando crescem juntos, cães e gatos quase sempre dão exemplo de amizade e proteção. Muitas cadelas e gatas adultas chegam a adotar ninhadas abandonadas da “espécie alheia”, tornando-se mães devotadas e ciosas.
Os gatos machos dificilmente apresentam problemas no relacionamento com outros pets. Na natureza, eles costumam vaguear entre vários bandos (constituídos por fêmeas, filhotes e jovens imaturos) e, por isso, desenvolveram comportamento sociável.
Quem tem um cachorro e decide adotar um gato (e vice-versa) precisa respeitar o tempo de adaptação. É importante que o animal antigo não identifique o novato como um intruso. Do contrário, ele poderá tentar expulsá-lo.
Alguns comportamentos felinos podem ser interpretados, pelos cachorros, como verdadeiras provocações. É o caso de escalar muros, árvores, móveis, etc. É importante não instigar o cão a perseguir o gato. Com o tempo, ele entende que não há ameaça iminente na conduta dos gatos.
Os tutores precisam tomar alguns cuidados, especialmente quando o cachorro da família é muito grande. Um dogue alemão muito amistoso, por exemplo, pode sufocar um gatinho com o peso do corpo, ao tentar aconchegá-lo.
Cães e gatos podem viver em harmonia, mas são duas espécies diferentes, com linguagens corporais e hábitos distintos. Os cachorros são gregários, gostam de viver em bando, enquanto os gatos tendem a ser mais solitários e independentes. Os cães são naturalmente agitados e os gatos, muito mais tranquilos.
Até mesmo alguns hábitos precisam ser levados em consideração pelos tutores “mistos”. Abanar o rabo, para os cães, é um sinal de alegria e diversão. Entre os gatos, o gesto indica insegurança e desconforto.
Acuados, os gatos tendem a eriçar os pelos. Isto faz com que eles pareçam maiores do que realmente são para os predadores, que podem ficar em dúvida se vale a pena continuar a perseguição. Os cachorros eriçam os pelos quando estão com medo.
Por outro lado, quando criados juntos, cães e gatos podem acabar assumindo comportamentos da outra espécie: são os “gatorros”. Em condições normais, um gato se esconde quando um estranho chega à casa, enquanto um cachorro rapidamente procura verificar se o novo elemento é amigo ou inimigo. Mas, criado entre cães, um gato pode correr para a porta quando chegam visitas, fazer festa, etc.
As diferenças continuam evidentes. A “festa” dos gatos pode significar a escalada pelo corpo do recém-chegado, algo que um cachorro não consegue fazer com a mesma facilidade. Por outro lado, os cães criados por gatos podem se mostrar ariscos, evitar a companhia de pessoas estranhas e até ronronar quando estão satisfeitos.
O importante é que, neste relacionamento, os responsáveis são os humanos. Fomos nós que decidimos trazer cães e gatos para a convivência; portanto, cabe a nós zelar pela tranquilidade e a paz doméstica.