Alguns tutores creem que cães independentes e teimosos são dominantes. Confira estas dicas de adestramento.
O que são cães dominantes? Tornou-se comum identificar o comportamento independente, às vezes solitário, com tentativas de se tornar o chefe do bando, o “alfa da matilha”. Na verdade, no entanto, os especialistas em comportamento canino afirmam que não é bem assim.
Os cães descendem diretamente dos lobos e, em uma alcateia, a maioria dos membros não tenta atingir posições de dominância e liderança. Há muito tempo, os humanos selecionaram os animais mais dóceis para a parceria. Alguns erros na educação, contudo, podem tornar os peludos agressivos e até mesmo violentos. Felizmente, essas condutas inadequadas são facilmente corrigidas com algumas dicas de adestramento.
Cuidado: cachorro bravo
Dizer que um cachorro é dominante não é o mesmo dizer que o comportamento do pet é ruim. Na maior parte dos casos, os cães estão apenas se divertindo e, como eles confiam totalmente na família humana, acabam exibindo hábitos e gestos que podem atrapalhar a convivência.
Com raríssimas exceções, não existe “cachorro bravo”. Alguns peludos crescem, estimulados pelos tutores, para demonstrar força. Os cães dominantes, nesse sentido, são apenas aqueles que aprenderam a desconfiar de tudo e não aceitar a presença humana.
Felizmente, para nós e para eles, os cachorros são animais extremamente inteligentes e versáteis. Mesmo os animais treinados para a guarda e vigilância, isolados do convívio com estranhos, podem ser reeducados com algumas dicas simples de adestramento.
Mais informações sobre cães e lobos
Atualmente, adestradores e especialistas em comportamento canino não aceitam mais – ou aceitam apenas com restrições – conceitos como agressividade, violência e dominância. Naturalmente, ao observar uma alcateia, é possível identificar estratégias de defesa e ataque.
Mas há várias condutas diferentes no grupo de lobos. Enquanto uma parte se dedica à caça, outros cuidam da vigilância do covil, protegem os filhotes e treinam os jovens para a sobrevivência. Os comportamentos agressivos são visíveis durante as caçadas e na defesa do território.
Os lobos mais dóceis, que se aproximaram dos humanos há milhares de anos, na verdade identificaram vantagens nesta convivência: homens e mulheres não tinham garras nem dentes adequados para a predação, mas eram capazes de produzir diversos instrumentos para facilitar a caça.
Cachorros e humanos passaram a conviver durante a última Era Glacial, quando as presas estavam rareando. Representantes das duas espécies descobriram que “a união faz a força” e passaram a cooperar.
Como nós somos mais sofisticados e complexos do que os cães, acabamos assumindo posições de liderança, mas os peludos mantêm os comportamentos da alcateia: são ferozes na caça e na vigilância, mas também são dóceis e amistosos no dia a dia com o grupo. Os lobos precisam de tudo isso para obter sucesso: força e agressividade para obter alimento, cooperação e amizade para manter a harmonia do bando, namorar, ter filhotes e cuidar deles, ensinar os jovens, descansar com segurança, brincar, etc.
O adestramento de cães dominantes
Todos os cachorros precisam receber adestramento assim que são adotados. Cada família possui normas próprias de convivência e os animais devem se adaptar a elas. Logo no primeiro dia em casa, eles já podem começar a aprender o significado do “sim” e do “não”.
Basta dizer o comando “sim”, em voz firme (sem necessidade de subir o tom) quando o cachorro fizer o que é esperado, com elogios e agrados para os acertos. Uma vez que ele tenha aprendido as ordens básicas, que também incluem o “fica”, “vem”, “junto”, etc., os tutores podem ensinar truques mais complexos.
No caso dos filhotes, eles quase sempre são adotados antes de completar a vacinação inicial – ainda são necessárias algumas doses de reforço. Nesses casos, eles não devem sair para passear, mas já podem ser treinados para usar a coleira e respeitar a corrente, com os comandos “junto”, “fica”, etc.
Não é necessário castigar o cachorro se ele puxar a guia. Ele não está tentando definir o roteiro do passeio: apenas está sendo exposto, pela primeira vez, a um mundo totalmente novo. Naturalmente, ele está excitado (mas alguns animais também se sentem amedrontados).
O tutor precisa apenas interromper a caminhada, dizer um sonoro “não” e esperar que o cachorro se tranquilize antes de retomar a marcha. A maioria dos peludos aprende a não puxar em três ou quatro tentativas com reforço positivo).
Alguns cães são mais teimosos, independentes ou atrevidos. O tutor precisa somente repetir a lição (quantas vezes forem necessárias). Pode dar um pouco de trabalho no início, mas, felizmente, o aprendizado é sempre cumulativo.
Depois que o cachorro aprender a não puxar a guia, será mais fácil ensinar a não tentar correr sozinho, não pular sobre pessoas estranhas que queiram interagir (com um agrado, por exemplo) e diversos outros comandos.
As chaves para o sucesso no adestramento são a paciência e a constância. As regras devem ser claras, transmitidas sempre com as mesmas palavras (preferencialmente, termos curtos, com a mesma tonalidade de voz). Elas também precisam ser sempre as mesmas, para não confundir os alunos.
O reforço positivo no adestramento
Um cachorro isolado será sempre arisco, pouco afeito à interação com humanos. Este tipo canino foi desenvolvido para a caça e a guarda e ainda pode ser visto: por exemplo, animais que permanecem presos durante o dia inteiro, sendo soltos apenas à noite, para fazer rondas e intimidar invasores.
Não há nada errado em treinar cães para a segurança de pessoas ou de patrimônio: guardar, proteger e servir faz parte da natureza canina. Por outro lado, eles precisam ser adestrados também para conviver, inclusive com estranhos, para que possam revelar todos os potenciais da espécie.
O ideal é ensinar os cachorros desde que eles são adotados. É preciso apresentar as regras da casa e incentivar os peludos a observá-las através de reforços positivos. Inicialmente, os cãezinhos – dominantes ou dóceis – aprendem com recompensas materiais, mas principalmente com palavras de incentivo e muitos carinhos.
Em uma segunda etapa, os prêmios – brinquedos e petiscos – podem ser eliminados, mas os estímulos devem fazer parte da convivência entre os cães e os tutores. Cada gesto adequado precisa ser incentivado, enquanto os erros devem ser ignorados. Os peludos são espertos o suficiente para entender que, sem a recompensa, não há motivo para repetir a conduta inadequada.
Quem adota um cachorro já adulto também pode corrigir os comportamentos que não são aceitos. Em geral, os cães já passaram por um processo de socialização e aprenderam a reagir com regras, pessoas e ambientes.
O adestramento, nesse caso, consiste em fazer o cachorro entender o que ele pode ou não fazer, sempre com incentivos para os acertos e demonstrações de insatisfação para os erros: as demonstrações precisam ser firmes, mas não há necessidade de gritos, muito menos de agressões físicas.
Os castigos físicos
Qualquer animal é capaz de reproduzir um comportamento considerado “correto” ou adequado mediante a aplicação de castigos físicos. Os circos com leões, elefantes e tigres abusaram do chicote para “ensinar” truques para as feras em exposição.
É preciso ter em mente, no entanto, que os cachorros não incorporam novas atitudes na base da repreensão e da agressão física. Eles apenas sentem medo e, para evitar os castigos, eliminam alguns gestos.
O problema é que isto não estabelece uma convivência prazerosa e saudável – e não faz nenhum sentido adotar um cachorro para que ele passe boa parte do tempo com medo, que caminha sempre junto com a raiva.
Um animal reprimido tenta o tempo todo entender o que se espera dele. Ele pode se decidir a simplesmente não fazer nada, para evitar a reação agressiva por parte dos tutores. O peludo ficará infeliz e isto não contribui em nada para a harmonia doméstica.
Erros comuns
Existe uma confusão sobre o que é um cachorro dominante. Muitos tutores se queixam de animais que não obedecem aos comandos, são agressivos com estranhos (e até mesmo violentos), não se submetem ao aprendizado, etc.
Contudo, estes não são exemplos de cães dominantes, mas de animais mal adestrados. A ideia de estabelecer uma rígida hierarquia doméstica, em que os tutores são os líderes e os cães, os subordinados, está ultrapassada.
A tentativa de estabelecer uma liderança através da submissão contribui para desequilibrar a personalidade dos peludos. Um exemplo simples é o xixi no tapete: um cachorro marca o território com urina: ele faz isso durante as caminhadas, para deixar marcas de identificação para outros animais que passarem pelo mesmo trajeto.
Em casa, um cachorro pode fazer xixi pelo mesmo motivo: marcar território. Quase sempre, ele faz isso porque se sente inseguro em relação ao ambiente. Muitos tutores, porém, a cada nova poça de xixi, intervêm com gritos e agressões – às vezes, esfregando o focinho do peludo nos excrementos, atitude que já foi considerada eficiente para eliminar o comportamento.
Os resultados quase sempre são desastrosos. O animal pode se tornar agressivo em relação aos tutores (e a pessoas estranhas), mas em geral ele volta a agressividade contra si mesmo. Lamber e morder as patas obsessivamente, perseguir o próprio rabo, esgueirar-se pelos cantos com medo dos humanos da família, são comportamentos comuns.
O cachorro também pode concluir que o erro está nas próprias necessidades fisiológicas, e não no local em que elas foram feitas. Muitos peludos desenvolvem a coprofagia (o mau hábito de comer o xixi e o cocô), para eliminar as provas do crime.
Um erro muito comum é permitir que os cães de pequeno porte assumam posturas consideradas dominantes. O tutor de um cachorro grande sabe que não deve estimular ataques e brincadeiras brutas, mas muitos pais de nanicos, como yorkies e lulus da Pomerânia, permitem que eles assumam condutas agressivas.
Evidentemente, o estrago que um cachorrinho pode fazer é muito pequeno, mas as reações são as mesmas de um animal de grande porte. Vale lembrar que tanto um chihuahua, quanto um dogue alemão fazem parte da mesma espécie.
Portanto, os comportamentos agressivos não devem ser incentivados, seja para um dachshund, seja para um mastim napolitano. Os cachorros são extremamente inteligentes e estabelecem relações de amizade com muita facilidade. Eles também querem sempre agradar os humanos.
Os cães dominantes, territorialistas, agressivos e violentos falam mais sobre a personalidade dos tutores – na verdade, quase sempre eles são reflexos, repetindo os comportamentos estimulados e observados.