Eles são sociáveis, brincalhões e divertidos. Mas os cachorros também precisam de um tempo sozinhos.
Todos os cachorros gostam de fazer muitas atividades com a família humana. Isto não significa que eles não precisem de um tempo sozinhos. Os cães descendem dos lobos, que vivem em grupos complexos, seguindo uma hierarquia rígida.
Algumas raças caninas são mais independentes. É o caso do shih tzu, do beagle e do akita inu. Por razões diferentes, os cães dessas raças se viram bem quando estão sem companhia humana e, inclusive por isso, são indicados para pessoas que passam muito tempo fora de casa.
O akita é um cão boiadeiro, que se acostumou a permanecer observando e defendendo o gado. O beagle é um caçador, acostumado a seguir rastros durante horas. Já o shih tzu foi desenvolvido com guardião de templos budistas, onde a quietude impera na maior parte do tempo.
Todos eles, no entanto, precisam de atenção, afeto e cuidado por pelo menos uma ou duas horas diárias. A convivência permite que eles se desenvolvam de força adequada e mantenham o equilíbrio emocional.
Mas eles também precisam de alguns momentos sozinhos – e dão alguns sinais quando os tutores exageram na dose de afeto e mimos. É importante cuidar dos peludos deixando espaço para que eles descubram o mundo por eles mesmos.
Na verdade, a maioria dos tutores adoraria que os peludos passassem um tempo sozinhos. Alguns cachorros são verdadeiros chicletinhos, seguem a família pela casa toda, ficam aflitos quando percebem sinais de que serão “abandonados” (quando o tutor pega as chaves, guarda a carteira no bolso, etc.).
Cães equilibrados são aqueles que desfrutam da companhia da família humana nas mais diversas atividades, que ficam sozinhos sem sofrer com a separação e que também têm momentos em que preferem ficar isolados.
Apesar de terem uma estrutura psicológica muito menos complexa, os peludos funcionam mais ou menos como nós: há momentos em que é necessário parar para “pensar na vida”, há indisposições mentais e orgânicas e passageiras e também surge o mau humor de vez em quando. Não há nada de errado nisso, a menos que os tutores percebam que é uma tendência.
Os sinais que mostram que seu cachorro precisa de um tempo sozinho
Os tutores precisam ficar atentos a eventuais mudanças no comportamento dos cachorros. Em muitos casos, quando estão doentes, os pets, se escondem ou deixam de dar atenção a atividades nas quais se envolviam com prazer.
Mas, quando não há alterações no apetite, as fezes estão secas e firmes e o nível de alerta permanece igual, os sinais podem indicar que os cachorros querem apenas um pouco mais de espaço. O excesso de zelo também pode causar transtornos de comportamento.
01. Agressividade em excesso
Os cães são naturalmente agressivos. Eles são predadores e, por viverem em grupos organizados, estão sempre prontos para defender a matilha (ou a família humana, que, para eles, é a mesma coisa).
No entanto, quando eles se sentem sufocados, podem começar a demonstrar a agressividade com maior frequência e intensidade. É preciso saber diferenciar: alguns peludos tendem a ser dominantes e estão sempre tentando ocupar a posição de liderança.
Outros são muito ciumentos com alguns objetos, como brinquedos, tigelas e até peças de decoração da casa. Este comportamento deve ser coibido, sem perder de vista que a territorialidade é uma característica comum à espécie.
Em algumas situações, contudo, a agressividade surge apenas em resposta ao exagero dos tutores. Colo demais, exagero nos acessórios e enfeites ou a carga muito intensa de exercícios físicos podem gerar tentativas de agressão. É preciso conhecer e respeitar a personalidade do pet.
02. Sintomas de estresse
O estresse não é um problema em si, mas uma resposta orgânica e emocional às pressões do dia a dia. Para nós, a carga exagerada de trabalho, a necessidade de se destacar dos grupos em que convivemos, as cobranças familiares e conjugais ou mesmo a presença de crianças barulhentas quando queremos relaxar são condições que podem gerar reações inadequadas.
Entre os cachorros, o estresse pode ser causado pelo isolamento, barulho excessivo ou não identificado, mudanças na rotina (uma reforma em casa ou uma construção no terreno vizinho, por exemplo), ausência de pessoas queridas, a chegada de um bebê (ou de outro pet), etc.
Nesses casos, os peludos precisam de um “porto seguro”. Providencie um cantinho ao qual eles possam recorrer quando precisam ficar sozinhos. Certifique-se de que o pet esteja seguro, próximo ao “banheiro” e às fontes de água e alimento, com alguns brinquedos para se distrair. Naturalmente, o cachorro passará a procurar esse local particular sempre que se sentir inseguro.
03. Tentativas de fuga
A maioria dos cachorros gosta de passear com os tutores e de algumas (ou muitas) brincadeiras durante o dia. Tudo depende da carga e também é importante lembrar que os cães envelhecem e, com a idade, tornam-se mais lentos e preguiçosos.
Os pets não são muito sutis quando querem demonstrar que alguma coisa está causando desconforto ou chateação. Muitos cachorros tentam fugir de casa ou até mesmo sair para passear sozinhos.
Eles estão declarando formalmente que a presença dos tutores é cansativa, às vezes irritante. Na verdade, eles não têm um plano de fuga: querem apenas desaparecer da presença das pessoas que os estão incomodando. O problema pode estar na duração do passeio ou da brincadeira, da velocidade que o tutor imprime ao passear, etc.
Uma situação comum é ver os pets tentando se livrar de um passeio por motivos simples: o horário – pode estar quente ou frio demais –, a falta de paciência dos condutores, a exposição a fatores estressantes, como buzinas ou um movimento exagerado de pedestres.
Lembre-se: o passeio deve ser divertido para todos. Se o cachorro quer “inspecionar” todos os postes e troncos de árvore do trajeto, o tutor precisa respeitar a curiosidade. Passear nas horas mais quentes do dia pode inclusive ser doloroso: a maioria dos cães não usa calçados e expõe os coxins plantares diretamente ao contato com o asfalto aquecido.
Os cães idosos – a partir dos sete anos, ou mais cedo, quando se trata de animais de grande porte – precisam caminhar mais lentamente. Faça algumas paradas para os pets recuperarem o fôlego (isso também é importante para os animais e focinho achatado, que naturalmente apresentam menor capacidade respiratória). Leve água para refrescá-los e sempre acompanhe o ritmo.
04. Ideias fixas
Correr atrás do próprio rabo, espreguiçar-se demoradamente ou dedicar alguns momentos do dia para boas coçadelas pelo corpo inteiro podem ser consideradas atitudes naturais dos cachorros. Estas são formas de passar o tempo.
Contudo, quando estas atividades se tornam ideias fixas, os tutores precisam tomar cuidado e investigar o que está acontecendo. O excesso de tarefas no dia a dia, o isolamento e as mudanças na rotina podem causar ansiedade, estresse e depressão.
Alguns animais chegam a se ferir, mastigando a cauda ou esfregando-se em paredes e muros para se coçar. Quando os peludos passam muito tempo entretidos dessas formas, algo errado está acontecendo.
Se eles têm a companhia da família humana durante vários momentos do dia, se são tratados com sabonetes, xampus e coleiras antipulgas e se não passearam em um campo onde possam ter sido infestados por carrapatos (geralmente na zona rural), é possível que eles estejam apenas expressando que estão “cansados”.
Observe os comportamentos e instale um espaço para que os pets simplesmente fiquem sozinhos. Provavelmente, as condutas inadequadas serão gradualmente substituídas nesse “tempinho de reflexão”.
Os cachorros também dedicam alguns minutos para pensar no que eles fizeram durante o dia. Isto, inclusive, facilita o aprendizado e o adestramento. O tempo que passam sozinhos também melhora o relacionamento com os tutores e com outros animais de estimação.
05. Falta de interesse pelas atividades
Todos os cachorros gostam da presença do tutores e são especialmente atraídos por brincadeiras e jogos. Basta uma bolinha ou um graveto para que os peludos fiquem satisfeitos e mantenham o equilíbrio.
Os tutores, no entanto, precisam conhecer o temperamento e a capacidade física dos pets. Os cães braquicefálicos (de cara amassada), por exemplo, não toleram atividades físicas intensas, justamente porque as vias aéreas superiores são muito curtas – e isso compromete a capacidade cardiorrespiratória. É o caso dos pugs, buldogues, lhasa apsos, shih tzus, pequineses e boxers.
Por outro lado, os cães sempre tentam agradar os tutores e, por isso, quase sempre se envolvem nas atividades propostas, mesmo que sejam muito “puxadas” para eles. Caso eles demonstrem falta de interesse – e isto não estiver relacionado a um problema físico –, é provável que eles estejam simplesmente querendo dizer que estão cansados.
Respeitar a capacidade física dos pets é também um gesto de amor. Vale lembrar que, com o avanço da idade, a disposição para brincadeiras vai se tornando cada vez menor. Caso os cachorros tenham problemas ósseos ou de articulação, é importante dosar as brincadeiras e caminhadas, para que elas sejam prazerosas, sem se tornar uma tortura diária.
06. Mudanças na rotina
Os cachorros são muito organizados. Eles odeiam coisas fora do lugar. Isto se explica porque, na natureza, mudanças não são bem-vindas. Geralmente, ventos e chuvas provocam deslizamentos e alagamentos: quando as coisas estão fora de lugar, alguma coisa está muito errada.
Em casa, os pets mantêm esse comportamento. Eles não gostam de estranhos no grupo familiar, de mudanças na disposição dos móveis, de reformas barulhentas, nem de festas e comemorações: basta lembrar o comportamento dos peludos nas noites de Réveillon ou nas finais de campeonato.
Por outro lado, nós fazemos muitas mudanças. Com maior ou menor regularidade, é necessário reformar ou ampliar a casa, receber visitantes, mudar a sala etc. Nestas condições, é importante respeitar o ritmo dos peludos.
Se você pretende mudar os móveis de um ambiente, apresente a nova disposição para os cachorros, deixe-os inspecionarem e não se espante se eles decidirem ir para outro canto da casa – mesmo que a almofada predileta deles esteja à disposição em um canto agradável da sala ou do quarto.
Quando for necessário receber visitas ou prestadores de serviços em casa, apresente-os aos pets. Todos os cachorros com seis meses ou mais já devem conhecer os comandos básicos. Desta forma, com um simples “não” ou “fica”, eles não incomodarão os estranhos.
Isso não quer dizer que eles fiquem satisfeitos com as alterações. Nesses momentos, é importante que os cachorros tenham um lugar seguro para se refugiar. De acordo com as regras da casa, esse cantinho pode ser um pano no chão da cozinha, uma almofada no sofá ou o pé da cama dos tutores. É um lugar para eles ficarem sozinhos e refletirem sobre as mudanças.
07. Esconderijos pela casa
Caso eles não tenham um “porto seguro”, os cachorros certamente irão improvisar esconderijos pela casa – e talvez isso implique mudanças na disposição dos móveis e objetos de decoração. Eles poderão tentar se ocultar atrás da cortina ou, no caso dos pequenos, dentro de um armário, um cesto, um guarda-roupa, etc.
O ideal é que eles já tenham o canto para ficarem sozinhos por um tempo. Se eles improvisarem, é necessário negociar: trocar o local por outro espaço mais adequado. O oferecimento de um biscoito (ou outra guloseima de que eles gostem) é uma boa estratégia.
Depois de avaliarem a situação, eles naturalmente voltarão a circular pela casa, passarão a interagir com as visitas, aceitarão as mudanças feitas pela família. Mas não tente impor novas regras de maneira subia.
Se eles ficarem escondidos por muito tempo, é provável que desenvolvam condutas inadequadas, como roer móveis ou destruir almofadas, e isso pode ser um sinal de um transtorno emocional mais sério. A prevenção é a melhor maneira para manter o equilíbrio e a convivência saudável.