Podem até reconhecer, mas cachorros precisam de mais do que sons para identificar os tutores.
Não é difícil encontrar tutores que “conversam” com os seus cachorros pelo telefone. Nas separações mais longas, é comum o uso das telecomunicações para matar – ou amenizar – a saudade. Da mesma forma, não é raro ouvir pessoas dizendo que os pets reconhecem suas vozes ao telefone. Será?
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Por mais agradável que seja pensar neste assunto: os cachorros conseguem reconhecer vozes ao telefone, especialistas em comportamento animal são taxativos. Nem os peludos, nem qualquer outro animal de estimação, conseguem comunicar-se através de telefones, tablets ou computador.
Os motivos
As causas da dificuldades enfrentadas pelos cachorros são simples: a capacidade de raciocínio abstrato dos pets efetivamente existe, mas é muito mais limitada do que a dos humanos. Os peludos reconhecem os tutores através de uma série de sinais: sons, cheiros, dimensões, sabores (eles são especialistas em lambidas, etc.).
A imagem que eles conseguem formar – “meu humano está aqui” depende da relação entre todos esses fatores. A voz isolada, ao telefone, representa muito pouco para os pets. Eventualmente, alguns cachorros conseguem identificar os tutores no aparelho, mas esta é a exceção, não a regra.
Mesmo as crianças humanas pequenas apresentam dificuldades para entender as telecomunicações. Muitas delas acreditam que o aparelho de TV é habitado por minúsculos bonecos e pessoas, enquanto outras passam a tentar identificar a presença, no ambiente, da “voz” que está falando na TV, rádio ou telefone.
Além disso, a audição canina é diferente da nossa. Eles captam os estímulos sonoros com mais eficiência do que nós, mas ficam esperando outros sinais. Desta forma, ao ouvir o barulho de uma presa na floresta, eles imediatamente dirigem a atenção para sombras, movimentos, qualquer coisa que forneça mais pistas de que o focinho captou as informações corretas.
Ao telefone, surge apenas a voz do tutor, sem o odor característico e, claro, sem a presença física. Para os pets, esta é uma informação desprovida de significado. De que adianta a voz, se não há mãos para fazer carinho ou oferecer petiscos?
As telecomunicações, tão importantes para o mundo moderno, perdem o sentido para os pets. Às vezes, eles param o que estão fazendo para assistir ao programa favorito de TV (na verdade, eles são atraídos pelos sons, cores e movimentos), mas, em poucos minutos, desviam a atenção para circunstâncias mais concretas.
A voz do tutor ao telefone pode ser uma dica valiosa, de que o “humano favorito” está nas proximidades. A não aproximação pode ser frustrante, especialmente para os cachorros que sofrem com ansiedade.
As conversas
Definitivamente, cachorros não conversam com os humanos. Nós desenvolvemos a linguagem articulada durante milênios e tornamos a comunicação mais e mais sofisticada. Aprendemos a interpretar e decodificar sinais, gestos e sons de acordo com a frequência, volume, intensidade, etc.
Os cães não desenvolveram nada disso. Quando eles vieram conviver conosco, alguns milênios atrás, nós já tínhamos um vocabulário – tosco e limitado, mas eficientes para a comunicação do bando de “macacos pelados”.
Os cachorros não entendem as nossas palavras. São poucos os que conseguem compreender o significado do próprio nome. Por outro lado, eles são mestres em consolidar informações: voz do tutor, timbre vocal, linguagem corporal, intensidade, etc.
É por isso que eles correm apressados quando ouvem a voz do tutor em um tom brando, ameno e amigável: os cachorros já sabem que alguma coisa boa está prestes a acontecer: uma refeição na hora certa, uma brincadeira, um petisco.
E é também por isso que muitos cachorros desaparecem ao identificar o “tom de bronca”: a voz indignada, irritada e mal-humorada dos tutores, quando estes descobrem alguma travessura. Pelo mesmo motivo, de nada adianta tentar apartar uma briga de cachorros apenas com palavras.
Portanto, fique claro: os cães não reconhecem a voz dos tutores ao telefone, mal conseguem assimilar o significado das muitas frases ditas na comunicação ao vivo, mas desenvolveram estratégias para apreender a essência de comandos simples.
Os problemas
Falar com os cachorros ao telefone quase nunca representa problemas. É possível que haja uma vaga lembrança do tutor ao ouvir a voz. Se a ligação for feita em um smartphone moderno, com recursos de áudio e vídeo, a comunicação será ainda mais eficiente, mas, ainda assim, pouco produtiva.
No entanto, alguns cachorros desenvolvem a ansiedade da separação. Eles começam a se sentir inseguros e ansiosos antes mesmo que os tutores saiam de casa. Na imensa maioria dos casos, isso ocorre quando os pets ficam isolados e sem nada para fazer.
Ao ouvir a voz dos tutores ao telefone – e principalmente ao tentar processar as informações paralelas, como uma pessoa dizendo “É o papai, Rex, vem falar com ele!”, os cachorros ansiosos podem regredir ao estado em que se colocam no momento da separação.
É como se o momento da despedida se repetisse várias vezes, trazendo a evocação da angústia e da tristeza. Nestes casos, o melhor a fazer é não excitar os cachorros, deixando para fazer muita festa no momento do reencontro – seja meia hora ou uma semana depois.