Existem evidências científicas de que os cachorros também passam pela adolescência. Confira.
Os tutores de cachorros já sabiam disso, mas um estudo conjunto das universidades de Newcastle e de Nottingham, ambas na Inglaterra, encontrou evidências de atitudes rebeldes nos nossos peludos. Os cachorros também passam pela adolescência.
Por volta dos oito meses de idade – um pouco mais tarde para os cães de grande porte –, os cachorros entram na puberdade, uma fase em que os hormônios começam a ditar o comportamento. É o final da infância, quando ocorre o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e a aceleração do crescimento físico. A partir de então, começa a adolescência, uma “etapa de treinamento” para a vida adulta.
A adolescência do cachorro
A puberdade é caracterizada pelo início da produção dos hormônios sexuais. Todos os mamíferos produzem estas substâncias químicas, mas os machos se caracterizam pela testosterona e as fêmeas, pelo estrogênio e a progesterona.
Com esta revolução endócrina, o organismo começa a se desenvolver para as funções reprodutivas. Nos seres humanos, existe uma defasagem entre desenvolvimento físico e emocional e, agora, cientistas comprovaram que também acontece algo semelhante nos cachorros.
O desenvolvimento no segundo ano de vida dos cachorros engloba alterações físicas (hormonais), mas também sociais e psicológicas. Eles também podem apresentar conflitos com a liderança, inclusive tentando ocupar a posição de chefia.
Os estudos sobre a adolescência dos cães
A pesquisa britânica, realizada entre 2018 e 2019, estudou inicialmente 69 cães, entre retrievers do Labrador, golden retrievers e mestiços destas duas raças. Numa segunda etapa, o grupo foi ampliado para 285 cachorros e incluiu outras raças. À época das observações, todos tinham idade entre cinco e oito meses.
Ao observá-los, os pesquisadores perceberam que os cachorros adolescentes desobedeciam ao treinador em comandos simples (como “senta”), mas obedeciam à mesma ordem quando esta partia de uma pessoa estranha. Este padrão se repetiu nos dois grupos de controle.
Aparentemente, os cachorros adolescentes não dominam completamente os comandos ensinados anteriormente, entre os três e seis meses de idade. Da mesma forma, os animais mais velhos, a partir de um ano, entendem com mais facilidade as ordens dos treinadores.
As cadelas mais inseguras e apegadas aos tutores (é possível observar esta característica de personalidade ainda na ninhada) apresentam maior probabilidade de atingir a puberdade de maneira precoce.
Nesta fase, é importante que os tutores não exagerem nas reprimendas e castigos. A adolescência é um período de experimentações. Os animais retomam o aprendizado normalmente depois de alguns meses, mas podem ter os problemas de relacionamento intensificados se a “cobrança” for muito intensa – da mesma forma como ocorre com os adolescentes humanos.
As mudanças na adolescência
Tutores e treinadores podem identificar outras alterações. Os cães muito apegados à família, com a atenção sempre voltada pra o “líder do bando”, durante a infância podem se tornar independentes na adolescência.
Nesta etapa, os cachorros já têm plenamente desenvolvidos os sentidos da visão, audição e olfato (o principal da espécie). Por isso, o ambiente em que vivem passa a oferecer muito mais opções e curiosidades. É em função disso que os cães adolescentes se tornam mais independentes e observadores.
Os pets também passam a estabelecer relacionamentos específicos. Eles podem começar a demonstrar e sentir maior afeto por alguns membros da família. Não chegam a ignorar os demais parentes, mas começam a selecionar as pessoas com quem preferem brincar – e também aquelas a quem devem obedecer. Os demais começam a ser encarados apenas como “membros da matilha”.
Cachorrinhos dóceis e afetuosos tornam-se voluntariosos, chegando ao ponto do desafio. Lembre-se, no entanto, de que é apenas uma fase. Eles não se tornaram rebeldes, apenas estão experimentando outras sensações. Em outras palavras, os cães adolescentes estão aprendendo a paixão de descobrir o mundo.
As cadelas começam a apresentar características insuspeitadas quando eram filhotes. Elas podem ficar mal-humoradas, possessivas, temperamentais, tendendo ao isolamento. Elas também podem ficar agressivas no relacionamento com outras fêmeas.
Os machos, ao começar a demonstrar interesse pelo sexo oposto e com o olfato extremamente apurado, passam a investigar o ambiente com o nariz – eles passam muito tempo nesta atividade. Marcar o território, fazendo xixi pelos cantos da casa ou do quintal, é outra característica da idade.
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A marcação do território pode causar problemas. Alguns cachorros são naturalmente territorialistas e a adolescência intensifica esta característica. Caso haja outros machos por perto, quase certamente haverá brigas.
A castração obviamente atenua esta etapa. Alguns hormônios sexuais continuarão a ser produzidos pelo organismo, mas as cadelas não estarão sujeitas ao ciclo estral (que, no total, ocupa oito meses por ano, do início da produção do estrogênio à produção de leite para as crias). Caso você não tenha interesse em ter filhotes, a castração deve ser realizada o mais cedo possível, de acordo com as orientações do veterinário.
Os machos perderão o interesse pelo acasalamento e características como agressividade e territorialidade serão atenuadas com o procedimento. Isto não significa, contudo, que os cachorros machos se tornam mansos e pouco reativos.
Como agir?
Por mais problemática que seja, a adolescência é apenas uma fase. Os cachorros não castrados naturalmente retomarão o comportamento amigável e afetuoso que exibiam durante a infância, sem a “efervescência” dos filhotes.
As regras da casa precisam ser mantidas, mas a adolescência dos cães não é um bom momento para intensificar o adestramento. As marcações de território devem ser advertidas pelos tutores, mas sem grande ênfase: eles estão delimitando o espaço que, de acordo com a mentalidade canina, lhes pertence por direito.
Os tutores precisam reforçar a posição de liderança no grupo. Mesmo com as “malcriações” frequentes, todas as condutas precisam ser assinaladas e os pets não podem determinar a organização do cotidiano, como alimentar-se quando bem quiserem ou fazer uma bagunça quando querem passear.
Os cães devem enxergar nos tutores os alfas da matilha. Isto é bastante natural: eles precisam acatar as ordens e submeter-se à rotina familiar. Em troca, ganham alimento, atenção, carinho e segurança. Nossos cachorros são naturalmente equipados para “viver em família”. Na adolescência, eles querem apenas experimentar coisas novas.
Castigos físicos devem ser evitados em qualquer idade. Eles simplesmente não dão resultado e, no caso dos adolescentes, podem gerar traumas e fixar condutas inadequadas. Os gritos também devem ser evitados, principalmente quando consideramos que os ouvidos dos cães são muito mais apurados do que os nossos.
Cães adolescentes fazem xixi em todos os lugares. Eles também podem tentar escapar e, durante os passeios, a interação com outros animais pode ser um pouco agressiva. Eles estão tentando se firmar no mundo, não devem ser reprimidos, mas precisam descobrir que há limites que eles não podem ultrapassar: faz parte da lei da vida.