Este cachorro foi treinado para lidar com a síndrome do pânico. Ele conforta a tutora durante a crise.
Muitos cachorros, nos últimos anos, vêm se revelando excelentes auxiliares para situações desconfortáveis, incômodas ou até mesmo perigosas. Alguns cães atuam como acompanhantes em asilos, orfanatos e hospitais, enquanto outros são treinados para lidar com transtornos emocionais, como a crise do pânico e a depressão.
Nos últimos milênios, os cachorros têm acompanhado os humanos nas mais diferentes atividades. Desde as primeiras aventuras de caça coletiva, passando por ataque e defesa, guarda, companhia, pastoreio, ações policiais, etc., os peludos estão sempre ao nosso lado. “
Cães terapeutas
O segredo do sucesso dos cachorros nestas tarefas é a grande versatilidade que eles apresentam. Os peludos são capazes de se adaptar às mais diversas condições e, como são naturalmente guardiães, podem consolar e confortar portadores de transtornos em suas crises.
Não é apenas a “presença amiga” que os cachorros oferecem a quem sofre de depressão, ansiedade, síndrome do pânico, manifestações obsessivo-compulsivas e diversas fobias. Eles agem desviando a atenção, impedindo que os pacientes se fixem nas memórias que os afligem.
Desta forma, os peludos contribuem para a superação dos distúrbios emocionais e o restabelecimento da saúde mental. Naturalmente, nem todo cão pode se tornar terapeuta – além disso, o adestramento é longo e exige muita dedicação.
Oakley, o terapeuta
O cachorro que aparece nas imagens consolando a tutora é Oakley, um animal de cinco anos que vive em Boston, capital de Massachusetts (nordeste dos EUA), com a sua tutora – que não é portadora de transtornos emocionais.
Amber Oliver, a mãe de Oakley, é uma adestradora profissional certificada pela Universidade Harvard, sediada em Cambridge, no mesmo Estado americano. O cachorro foi treinado para identificar alguns sintomas que costumam acompanhar as crises.
O vídeo apresentado é uma demonstração das habilidades do cão terapeuta. Ele foi registrado no Aeroporto Internacional de Cincinnati, localizado em Hebron (Kentucky). Trata-se de uma área com grande fluxo de pessoas, o que mostra que o cachorro é capaz de manter o foco e a atenção mesmo em meio a tantas possibilidades de distração.
Oakley é capaz de perceber alterações no ritmo respiratório, na frequência cardíaca e na temperatura corporal. Ao identificar os sinais, ele alerta o tutor (um eventual portador de distúrbios mentais), que pode recorrer a medicamentos ou modificar os pensamentos.
Modificar atitudes é outra habilidade de Oakley. Ao entender que o paciente não está reagindo, nem procura a medicação, o cachorro propõe uma série de atividades diferentes – e não desiste enquanto o tutor mantém os pensamentos de ansiedade e depressão.
O vídeo mostra Amber começando a respirar de forma descompassada. Ela cobre o rosto com as mãos, demonstrando estar deprimida ou triste. Imediatamente, Oakley se coloca em frente à tutora, senta-se e volta a atenção totalmente para a paciente.
Ele é visto aninhando a cabeça entre as mãos de Amber, impedindo que ela esconda a face. O cão também se esfrega nas pernas da tutora. Aparentemente, é apenas um cachorro tentando atrair a atenção do tutor, mas Oakley sabe que precisa desviar o foco, propondo novas atividades. Ele não para enquanto não percebe uma mudança de atitude.
Acariciar um animal de estimação, aliás, é uma atitude capaz de relaxar e desestressar. Quem já conviveu com um cachorro ou gato sabe que, quando eles se aninham e pedem carinho, os problemas parecem fazer uma pausa e a atenção precisa estar focada na interação, que é saudável e positiva.
Os cães terapeutas no Brasil
No país, também existem cães treinados para atuar na cinoterapia – o conjunto de práticas auxiliares de terapêuticas que visam ao bem-estar emocional. A técnica, aliás, apesar de parecer moderna, começou a ser usada no século 18, na Inglaterra.
Por aqui, os cães começaram a trabalhar com portadores de transtornos emocionais a partir da atuação da médica psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999), reconhecida mundialmente pela humanização dos tratamentos psiquiátricos.
Os cães terapeutas podem ajudar pacientes de todas as idades, inclusive crianças com TDAH e portadores de síndromes do espectro autista. Os peludos estimulam a percepção do relaxamento e contribuem com aspectos mentais, emocionais, pedagógicos e sociais, melhorando a autoestima e a confiança.
Diversas escolas treinam cães para atuarem como terapeutas. Comprovadamente, a presença de um cachorro equilibrado e treinado aumenta a secreção de alguns neurotransmissores relacionados ao bem-estar.
Os cães terapeutas também são empregados para auxiliar o aprendizado. Eles conseguem garantir a atenção das crianças nas tarefas propostas pelos educadores, impedindo que elas se distraiam e abandonem uma atividade pela metade.
Os cachorros habilitados como terapeutas são admitidos em todos os espaços públicos. Os pacientes que convivem com os cães podem levá-los em transportes (inclusive táxis), locais de comércio, serviços e centros culturais, como teatros e cinemas.
No adestramento, os cães aprendem a lidar com situações de estresse e a identificar sinais de ansiedade e depressão, como sudorese (suor excessivo), taquicardia, etc. Eles também se habilitam a atrair a atenção dos pacientes, desviando-a de pensamentos indesejáveis.
Todos os tutores podem encaminhar os cachorros para o treinamento como terapeutas, auxiliando pacientes portadores de esquizofrenia, autismo, dificuldades de aprendizado e pânico, por exemplo.
No entanto, é importante contar com a atuação de profissionais competentes, habilitados e éticos, para garantir o bem-estar dos pacientes e também dos cachorros, que não podem se expor a jornadas excessivas de trabalho.