Para brincar, servir e proteger. Um cachorro não pode morder a família. Confira como resolver.
Chega a ser uma surpresa – afinal, eles são os melhores amigos dos homens –, mas existem cachorros que avançam, mostram os dentes e até mesmo mordem os membros da família.
Este é um problema e tanto CT, porque eles também fazem parte da família. Como resolver?
Cachorros são verdadeiros símbolos de lealdade. A parceria que nós estabelecemos com eles já dura milhares de anos, justamente porque eles aprenderam a nos acompanhar nas mais diversas atividades.
Morder o tutor ou qualquer membro da família não faz parte dos nossos planos quando adotamos um pet e a atitude realmente é rara. Infelizmente, muitos tutores estimulam características agressivas, mesmo sem querer.
As características
Na natureza, os cachorros são naturalmente hostis a outros animais. Cabe a eles caçar, conquistar novos territórios e defender os membros mais frágeis do bando.
Por outro lado, eles são gregários. Uma das estratégias de sobrevivência é justamente a organização do grupo, que é bastante sofisticada.
Os cães possuem dons bem desenvolvidos de proteger e de se organizar comunitariamente. Foram estas características que os aproximaram dos nossos ancestrais.
“Defender o bando”, no entanto, é uma atitude muito próxima de “atacar o invasor”. Quando os cachorros confundem estes comandos, eles podem atacar a própria família.
Na natureza, os animais que exibem este comportamento recebem uma resposta rápida do bando e são expulsos. Alguns tornam-se lobos solitários, mas a maioria morre, porque não consegue dar conta, sozinha, de todas as tarefas (caça, defesa, ataque, etc.).
E em casa, o que pode ser feito?
Como resolver
Os cachorros se tornam agressivos principalmente quando sentem medo. Um animal que sofre maus tratos desconfia do “cuidador” e, se as agressões forem constantes, gradualmente passará a desconfiar de todos os humanos.
Não é necessário que o pet sofra agressões físicas para se tornar agressivo e exibir as condutas típicas: latir, arreganhar os dentes atacar e morder.
Um cachorro deixado preso no fundo de quintal (ou em qualquer local de pouco movimento), sem ter as necessidades básicas atendidas (não apenas alimento e agasalho, mas também atenção, companhia, carinho e educação), se tornará agressivo e este é um quadro difícil de ser revertido.
Esta atitude é rara nos dias atuais. Mais comum é deixar o cachorro sozinho por períodos prolongados, não dar a atenção devida, negligenciar os passeios.
Não importam as características: sexo, idade porte, etc. Os cachorros precisam passear diariamente; as exceções sai os filhotes ainda não vacinados e os cães convalescentes de traumas ou doenças.
Sem sair de casa, os cachorros não têm como obter informações sobre o mundo. É nos passeios que eles descobrem humanos e caninos diferentes: grandes, gordos, peludos, etc.
É também nas caminhadas com a família humana que os cachorros entendem as diferenças entre os seres e aprendem a respeitá-las. Os passeios são igualmente momentos ideais para perder alguns medos – como os de buzinas e cantadas de pneus – e para manter outros. – como o de carros em movimento.
Os passeios são fundamentais para fortalecer os elos entre cachorros e tutores, e também para fixar a noção de hierarquia, cuja perda ou subversão é o motivo mais frequente pelo qual um cachorro ataca e morde membros da família.
A hierarquia
De volta à natureza. Na vida selvagem, toda alcateia tem um líder, um macho alfa, que deve ser respeitado e obedecido para garantir a integridade do grupo.
É o alfa, quase sempre um macho, quem decide onde e quando o grupo deve montar acampamento, quem destaca outros lobos para a sentinela, quem organiza as equipes de caça. Ele é o primeiro a se alimentar e um dos poucos a manter relações sexuais e gerar prole.
As fêmeas também se organizam para cuidar dos filhotes e jovens, para caçar e montar guarda e uma fêmea alfa, a loba com maior número de filhotes no bando, é responsável pela organização da comunidade.
Em casa, esta estrutura social se reproduz. Não precisamos mais caçar nem defender o grupo, não temos mais novos filhotes a cada ano, mas a estratificação permanece.
Um cachorro interpreta os adultos como os líderes, que garantem alimento, segurança e abrigo. Em contrapartida, os membros submissos obedecem e acatam a liderança.
Nenhuma organização social, no entanto, é perfeita. Se o cachorro não se sentir suficientemente seguro, ele desafiará o líder – o tutor – e tentará tomar o lugar.
Todos os cães são bem dotados para disputar a liderança: eles possuem dentes e garras, são fortes, ágeis, dinâmicos.
Os cachorros grandes podem inspirar medo em função do porte, mas mesmo um pequeno chihuahua pode causar estragos, inclusive porque não revidamos com as mesmas estratégias – são raras as pessoas que saem por aí mordendo os seus pets.
Quando um cachorro se sente no comando, ele defenderá a posição com unhas e dentes – mais dentes do que unhas. Ele morderá (e latirá, rosnará, mostrará os dentes, etc.) a todos que desafiarem a sua posição de chefia.
Outro motivo para o comportamento agressivo é o medo. Muitos tutores se surpreendem com condutas violentas dos pets – especialmente os pequenos. Eles latem, rosnam, avançam e mordem “do nada”, sem motivo aparente.
Na verdade, muitas vezes, os pets estão apenas se defendendo. Um movimento brusco, um avanço rápido (ou assim interpretado pelo peludo) pode gerar uma reação de defesa.
A explicação é simples: compare o seu tamanho ao do seu cãozinho. Imagine um braço ou tronco quatro ou cinco vezes maior que você aproximando-se rapidamente. O instinto de defesa falará mais alto. É necessário compreender o ponto de vista dos pets. Na maioria dos casos, o ataque é uma simples tentativa de defesa da integridade física.
Cachorros, no entanto, são animais bastante previsíveis. Antes de adotar uma atitude extrema – como avançar e morder um membro da família – eles apresentam sinais de medo, desconforto ou estresse. É importante saber ler os sinais corporais que eles emitem.
A boa notícia é que os cachorros também sabem ler a linguagem corporal. Quando eles percebem que nós estamos preocupados, tristes e irritados, sabem muito bem como se comportar.
Por outro lado, alguns cachorros mal educados (e, em última análise, a culpa é de quem educa) conseguem ler os sinais de medo em algumas pessoas e podem aproveitar-se disso. Eles tentarão intimidar o estranho que ousa invadir os “domínios da família”.
Proteção de recursos
Esta é a explicação técnica para um comportamento comum entre os cachorros: tentar defender o que consideram como propriedade pessoal, que pode ser a tigela de ração, um brinquedo ou uma pessoa (especialmente para os pets que passam muito tempo sozinhos).
A posse e proteção de recursos é importante na natureza, mas os lobos e cachorros selvagens sabem que precisam ceder alimentos (ou parte deles) para os líderes.
Em casa, este comportamento precisa ser desestimulado com firmeza, com um “não” sonoro e inclusive com o uso da recompensa: você me dá o brinquedo e eu dou um petisco para você. Em poucos dias, mesmo os pets mais teimosos aprendem a ceder objetos considerados preciosos.
Isto é fundamental em casas com crianças ou com grande fluxo de pessoas pelos ambientes em que o cachorro transita. Naturalmente, as necessidades básicas do pet – alimentação, agasalho, atenção e carinho – precisam ser supridas. Do contrário, ele não reconhecerá o tutor como um líder provedor.
Virando o jogo
O ideal é não permitir que o pet assuma a chefia da casa. Alguns filhotes já demonstram características de liderança e precisam, desde cedo, aprender a respeitar a hierarquia.
Portanto, alguns comportamentos devem ser desestimulados ou reprimidos. A inibição da mordida deve ter início a partir da quarta semana de vida, ainda na fase de amamentação.
Os cachorros não podem definir o itinerário dos passeios, organizar os horários da família, decidir a hora de brincar.
Não é preciso castigar o pet mais independente ou mandão: basta não fazer o que ele quer. Não há nada de errado em um cão ter o cantinho preferido, mas ele não pode se apossar do território.
É preciso deixar claro que a casa tem espaços comuns e outros que são interditados aos cachorros. Cada família decide as regras: os pets podem ou não entrar na sala, subir no sofá, dormir com os tutores.
Os cachorros se sentem bem quando obedecem aos tutores e às suas determinações: Um líder firme, para eles, é garantia de paz e tranquilidade.
Algumas raças caninas foram desenvolvidas tendo em vista reforçar as características agressivas de combate e ataque. Muitos cães foram usados em rinhas (inclusive contra grandes animais, como touros e ursos), na defesa de territórios e até mesmo nas batalhas. Isto estimulou os caracteres agressivos.
É o caso recente do pitbull e do dobermann, mas até mesmo o buldogue inglês e o old english sheepdog
já foram incentivados para a violência. Animais destas raça – e também os mestiços – continuam até hoje com características de agressividade.
Isto não quer dizer, de qualquer forma, que todos estes cachorros saiam por aí mordendo membros da família. Isto não está previsto no código genético deles.
Um exemplo simples das programações genéticas dos animais: há milhares de anos, os cavalos vêm sendo usados como animais de tração e montaria. Uma espécie bastante semelhante (ao menos na aparência), a zebra, nunca se adaptou ao convívio com humanos.
Não existem cachorros irremediavelmente violentos; isto não está previsto no DNA deles. Não é necessário (nem aconselhável) sacrificar um cachorro porque ele morde o tutor. É preciso educá-lo, trazê-lo de volta ao comportamento natural.
Adestramento
Por isso, se um cachorro se acostumou a avançar contra estranhos e conhecidos, o que se deve fazer é descondicioná-lo. Em alguns casos, é preciso contratar um adestrador profissional.
Na maioria das vezes, no entanto, a atitude firme dos tutores é suficiente para a ressocialização. Se o seu cachorro quente bravo, sempre que exibir gestos hostis, pare o que está fazendo, posicione-se diante dele e diga em voz firme e clara para ele parar.
De qualquer forma, não tente usar técnicas de reeducação que você não domina. Tentar parecer firme e sair correndo (ou de fininho) na primeira rosnada apenas reforça as condutas inadequadas. Avalie a situação e, caso necessário, você pode recorrer a um especialista em comportamento animal.
Cachorros adultos atendem mais facilmente às orientações dos tutores quando já conhecem os comandos básicos: “pare”, “fica”, “não”, etc.
Não existem cachorros que não conseguem aprender. Eles podem não ter habilidades para se tornar campeões de agility ou de porte e postura, mas sabem que devem atender aos comandos dos tutores. Esta é a relação estabelecida na convivência.
O importante é que os tutores sejam firmes e perseverantes. Abandonar o cachorro em um canto do terreno e dizer que “ele é bravo” apenas cria um relacionamento improdutivo, prejudicial e muito pouco saudável para todos os envolvidos.
Fique atento!
Cachorros são animais gregários. Portanto, são facilmente adestrados e corrigidos. Não existem animais traiçoeiros, que esperam um momento de desatenção e descuido para atacar – a menos que tenham sido treinados para isso, ou tenham assumido a liderança da família.
Em casos extremos, é recomendável consultar um veterinário. A partir do histórico do animal e da avaliação do comportamento exibido no consultório, o profissional saberá diagnosticar o quadro e oferecer soluções.
Caso você perceba diferenças sensíveis no comportamento – por exemplo, um cachorro sempre dócil que passa a se mostrar arredio ou mesmo agressivo – também é o momento de consultar o médico. Transtornos físicos, desconfortos e dores certamente reduzem a disponibilidade para brincar e socializar.
Lembre-se de que o seu cachorro está avançando na idade. Um filhote é curioso, aventureiro e um pouco perdido nas atitudes; precisa ser educado e advertido constantemente.
Um animal adulto saudável compreende melhor as regras e é mais acessível a orientações. Mesmo um cães adotado já adulto, resgatado das ruas ou de maus tratos, adapta-se rapidamente e supera os traumas e medos das experiências difíceis por que passou.
Os pets idosos podem parecer mais rabugentos. Apresentam menor disposição para jogos, brincadeiras e correrias, além de desenvolver limitações comuns à idade. Mesmo assim, continuam sendo excelentes companheiros. Menos intensos, mas totalmente devotados à família humana, ao gato ou ao papagaio.
Todos os cachorros podem ser treinados para serem bravos. Portanto, mesmo um pequeno yorkshire, um um old english sheepdog grandalhão, desengonçado e bonachão, podem ser transformados em verdadeiras feras. Tudo começa na infância: aquela brincadeira de tentar arrancar objetos da boca do cachorro sempre incentiva comportamentos agressivos.
Conviver com um cachorro precisa ser sempre uma experiência prazerosa. O temperamento da espécie nos cativou. Por isso, não permita que o seu pet seja um cachorro bravo. Você sofre e ele também.
Educação, companheirismo e lealdade em todos os dias da vida de um cachorro. Estes são os ingredientes principais para uma parceria inesquecível!