É desnecessário, mas cachorro pode comer beterraba, chuchu e cenoura. Fique atento às quantidades.
Mais e mais pessoas têm incluído vegetais – legumes, verduras e frutas – na dieta cotidiana. Uma alimentação balanceada e sortida é fundamental para a manutenção da saúde. A medicina tradicional chinesa diz que os nossos pratos devem ser muito coloridos.
Carnívoros e onívoros
Cada espécie animal se desenvolveu de forma diferente, em função das condições objetivas que a natureza ofereceu em cada nicho. Os humanos se tornaram onívoros – nós comemos um pouco de tudo –, com uma demanda crescente de proteínas.
Os cachorros seguiram outro caminho. Eles são carnívoros, isto é, precisam de uma dieta baseada principalmente no consumo de proteínas de origem animal. Na natureza, os lobos, ancestrais dos cães, caçam as refeições diariamente.
De qualquer forma, cachorros e lobos não são exclusivamente carnívoros, como os gatos, por exemplo. Eventualmente, eles procuram folhas, raízes, flores e frutas para complementar a dieta alimentar. Instintivamente, eles reconhecem as fontes de sais minerais e vitaminas de que precisam.
Mesmo os gatos e parentes próximos, como tigres e onças, acabam por ingerir alimentos de origem vegetal. Quando conseguem abater uma presa, a “parte do leão” é composta justamente pelas vísceras – estômago, intestino, etc. Nesses órgãos, ainda há restos vegetais e o melhor, para eles, é que já estão parcialmente digeridos e sintetizados.
A comida ideal
Em casa, os tutores precisam oferecer rações específicas, que preencham todas as necessidades nutricionais dos pets, de acordo com a idade, sexo, raça, porte, etc. Produtos de qualidade não necessitam de nenhum complemento, a menos que o veterinário identifique alguma carência.
Beterraba, chuchu, cenoura e tudo o mais, contudo, podem ser úteis de diversas formas no dia a dia com os nossos peludos:
• eles podem ser fontes extras de minerais e vitaminas;
• eventualmente, os vegetais podem corrigir problemas como prisão de ventre e retenção de líquidos;
• os filhotes podem experimentar certo conforto ao roer vegetais crus, no período em que os dentes de leite estão sendo substituídos pela dentição permanente;
• beterraba, chuchu e cenoura podem ser usados no adestramento, substituindo os petiscos industrializados como recompensa depois que os cachorros “fazem a coisa certa”;
• roer um legume ajuda a passar o tempo, especialmente para os pets que passam parte do dia sozinhos. A atividade evita ou atenua o tédio, que pode desencadear comportamentos destrutivos e inadequados, transtornos de ansiedade, etc.
O chuchu
Mesmo não sendo uma preferência nacional, o chuchu frequenta as mesas brasileiras há décadas. O chuchu é rico em vitaminas A, B e C e também é fonte de potássio, cálcio, fósforo e ferro. Com muitas fibras, deve ser consumido com moderação, para evitar problemas gastrointestinais.
É um bom auxiliar para os filhotes, mas deve ser visto com cautela em relação aos cães idosos, que podem sofrer com calcificação. O chuchu pode ser oferecido como um petisco, mas não deve substituir uma refeição.
O chuchu pode ser servido cozido ou cru. Neste último caso, lembre-se de retirar a casca, que é muito fibrosa, apresenta algumas espículas e pode soltar uma substância leitosa e grudenta, nada agradável ao paladar dos peludos.
Cru ou cozido, corte o chuchu em cubos pequenos; de acordo com o porte do animal, os cubos podem ter até 3 cm de lado. Os cachorros não possuem dentes molares grandes e isto dificulta a mastigação e a deglutição.
A beterraba
Esta raiz é uma excelente fonte energética e pode ser adotada como petisco pós-treino para cães atléticos e ativos. Os pets mais bonachões e pacatos não precisam de doses extras de calorias. A beterraba é composta por 87% de água e isto pode ser uma boa dica para manter os peludos hidratados, especialmente nos dias mais quentes.
Rica em vitaminas A, B, C, E e K, a beterraba também fornece cálcio, ferro, fósforo, magnésio, potássio, sódio e zinco. Uma porção de 100 gramas oferece sete gramas de açúcar – e isto pode ser um problema para cães diabéticos ou com tendência para engordar.
A beterraba fortalece o sistema imunológico e ajuda a prevenir algumas doenças caninas comuns, como alergias, gripes e resfriados. O betacaroteno preserva a saúde dos olhos e da pele. O efeito dos antioxidantes naturais é útil para atenuar os problemas comuns da velhice dos peludos.
Mais uma vez, lembramos que a beterraba deve ser encarada apenas como suplemento ou recompensa. A raiz é rica em oxalatos, que, em excesso, facilitam a formação de cálculos nos rins e na bexiga. O excesso de fibras também pode causar diarréias.
Para aproveitar todos os nutrientes, a beterraba deve ser oferecida crua a ralada – ela pode ser misturada à ração. Os filhotes na fase da amamentação não devem comer a raiz e as porções, em qualquer idade, devem ser reduzidas.
A cenoura
Esta raiz é excelente fonte de carotenoides, antioxidantes, fibras, cálcio, fósforo e potássio. A cenoura ajuda a manter a saúde dos olhos, evita o envelhecimento precoce, melhora o sistema imunológico e previne vários tipos de câncer.
A cenoura fornece vitaminas A, E e K, importantes para preservar a saúde da pele, combater os radicais livres e melhorar a absorção das proteínas. Também é fonte de vitamina C, mas os cães não precisam deste nutriente na alimentação, já que o fígado canino consegue metabolizar o ácido ascórbico diretamente a partir da glicose.
Oferecer cenoura crua, em rodelas ou palitos compatíveis com a mandíbula dos pets, ajuda a aliviar o desconforto observado na troca de dentes e ajuda na higienização bucal em qualquer idade. A cenoura cozida, apesar de perder nutrientes, pode ser mais indicada para os peludos a partir dos sete anos.
Os excessos devem ser evitados, apesar de a cenoura ser um dos vegetais preferidos dos cães. Um cão de pequeno porte não deve comer mais de duas rodelas por dia (com espessura de 1 cm). O exagero pode provocar hipervitaminose A e, por ser muito rica em açucares, a cenoura deve ser evitada pelos cães diabéticos e obesos.
Uma quantidade muito grande de cenoura também está associada à perda de pelos e a lesões na pele. Em caso de dúvida, converse com o veterinário.
Os proibidos
Em geral, frutas, verduras e legumes podem ser oferecidos sem contraindicações para os cachorros, sempre como suplemento, recompensa ou agrado. Mesmo os tutores que optam pela comida caseira, não devem usar mais de 30% de vegetais na composição dos pratos para os peludos.
Alguns vegetais, no entanto, não podem ser servidos. O mais nocivo é, sem dúvida, o abacate. A fruta é rica em persina, um fungicida natural que funciona como instrumento de autodefesa para toda a árvore.
Para os cães, no entanto, a persina causa desconforto abdominal, náuseas, vômitos e diarreias. No médio prazo, a substância pode comprometer o funcionamento do pâncreas. Não é possível definir uma quantidade mínima que seja inofensiva, uma vez que tudo depende do metabolismo, que varia de pet para pet.
A ideia de que as frutas cítricas sejam tóxicas para os cachorros é um mito. Mesmo assim, não se deve oferecer laranjas, tangerinas, morangos e abacaxis à vontade para os peludos, porque todas elas são ricas em açúcares, que causam diarreia e vômito no curto prazo, além de ganho excessivo de peso.
Cebola e alho (inclusive cebolinha e alho-poró) devem ser mantidos a distância dos cachorros. Todos os vegetais do gênero Allium são ricos em tiossulfatos, substâncias que, no organismo canino, destroem os glóbulos vermelhos, podendo causar anemias e outras doenças do sangue.
As uvas, inclusive passas, também não fazem parte do cardápio dos cachorros. Em qualquer quantidade, mesmo sem pele nem sementes, elas são prejudiciais. As uvas precisam ficar fora do alcance, porque mesmo os cães desacostumados são atraídos por cheiros diferentes.
Ainda não se sabe qual a substância tóxica das uvas, mas elas causam, algumas horas depois da ingestão, perda de apetite, fraqueza, vômitos e diarreias, distensão abdominal, aumento da sede (e da micção) e desidratação. No médio prazo, podem provocar insuficiência renal e hepática.
As batatas podem ser consumidas cruas ou cozidas (sem sal,óleo nem condimentos), mas devem ser evitados os brotos, folhas e caules. A solanina, presente nas batatas, pode ser fatal, especialmente para cães de pequeno porte.
Por fim, sementes de frutas como tomate, pêssego, maçã, cereja e ameixa, devem ser evitadas. Elas são ricas em cianetos, substância que não é digerível e se deposita gradualmente no organismo dos peludos. A polpa das frutas, em si, é excelente para ajudar na hidratação e aumentar o volume das fezes.