Lamber a pata é natural, mas, quando é excessivo, pode ser sinal de problemas. Confira o que pode ser.
“Este cachorro está ficando velho e cada vez mais cheio de manias”. É comum ouvirmos esta frase de muitos tutores. Um dos casos mais comuns é quando o pet desenvolve o hábito de ficar lambendo a pata por longos períodos.
A frase, contudo, é preconceituosa e está errada. Ela denota etarismo – o preconceito contra os idosos -, como se um cachorro com cinco ou seis anos não pudesse aprender mais nada e estivesse condenado a conviver com maus costumes.
Muitas pessoas desenvolvem sintomas de transtornos emocionais que se traduzem em comportamentos obsessivos. É comum, por exemplo, ver pessoas roendo as unhas. Em alguns indivíduos, esta conduta chega a ser mórbida; em outros, ela surge em situações de estresse e tensão. Cachorro lambendo a pata é o equivalente canino às unhas roídas.
Lamber as patas com muita frequência facilita a instalação de fungos nas almofadas plantares e entre os dedos, especialmente quando os animais passam por locais úmidos (praticamente em todos os passeios e mesmo quando estamos tentando limpar o quintal ou lavar a cozinha). Estes fungos são responsáveis por micoses que podem ser bastante resistentes.
Vale lembrar que nenhum hábito se instala do dia para a noite: as chamadas “manias” (o termo está sendo eliminado dos dicionários médicos) se desenvolvem gradualmente e, no caso dos cães, sempre com o reforço positivo por parte dos tutores.
Os cães querem agradar. Eles são animais gregários e identificam os tutores como os chefes. Por isso, querem sempre fazer o melhor – ou o que eles pensam ser o melhor – para a família. Hábitos nocivos e irritantes são estabelecidos apenas quando os tutores não se incomodam com eles, quando não são encarados como líderes ou quando negligenciam na correção.
Cachorro lambendo a pata: O que pode ser?
Lamber as patas é um hábito comum, quase sempre devido à necessidade de retirar sujidades e poeira depositadas nas pernas. O problema começa a surgir quando o hábito se torna uma compulsão ou obsessão (sim, cães também podem desenvolver transtornos obsessivos e compulsivos).
Alguns cachorros chegam a ferir os dedos e as almofadas plantares, e estes ferimentos são portas de entrada para infecções bacterianas e virais. Afinal, as patas estão constantemente em contato com o piso e são usadas também para explorar o ambiente – cavar, afastar plantas, etc.
O hábito compulsivo indica a instalação de um problema emocional maior. Em quase todos os casos, o cachorro que lambe muito as patas está sofrendo de ansiedade, um transtorno relativamente comum, que prejudica a qualidade de vida dos pets e contribuir para o desenvolvimento de algumas doenças físicas.
As infecções contraídas através das patas podem migrar para diversas patas do corpo. A contaminação pode ser direta, quando os cachorros esfregam as patas nas orelhas e no focinho, ou indireta, quando os micro-organismos nocivos penetram na pele e invadem a corrente sanguínea. Casos não tratados podem levar inclusive a uma sepse – um quadro de infecção generalizada, quase sempre fatal.
Problemas físicos
Todo cachorro gosta de passear com o tutor. Alguns são mais desconfiados, até mesmo tímidos, mas a aventura das ruas seduz mesmo os animais mais introvertidos. É o momento de explorar a praça, procurar o brinquedo enterrado no canteiro, encontrar-se com amigos (e fazer novas amizades), conhecer humanos de outras formas e cores e familiarizar-se com elas.
Andar diariamente ao lado do tutor também fortalece os ossos, músculos, tendões e articulações. É importante ajustar o passo ao condicionamento físico do pet. Os cães idosos são mais lentos, e alguns animais apresentam problemas de saúde que podem dificultar a mobilidade.
No entanto, é importante avaliar se as travessuras dos passeios não prejudicaram o pet de alguma forma. As patas permanecem em contato constante com o solo e elas podem ser feridas com pedras, espinhos, cacos de vidro ou metal e até mesmo através do contato com o chão quente.
Vale a pena avaliar as condições físicas e emocionais dos cachorros diariamente. Eles não sabem falar, mas indicam desconfortos e dores de diversas formas. Lamber as patas obsessivamente é uma delas, e pode indicar estresse ou ansiedade.
Cachorro lambendo a pata: O diagnóstico
Ao observar este comportamento repetitivo, o tutor precisa levar o cachorro ao veterinário. É importante relatar ao médico todo o histórico do pet, especialmente eventuais alterações de conduta: um cão pode, de um momento para o outro, passar a lamber as patas compulsivamente, causando feridas, aumentando a umidade e estimulando maus odores.
Muitos casos são confundidos com dermatites – e, neste caso, o tratamento indicado não surte nenhum efeito positivo. As alergias e dermatites também podem ser responsáveis por problemas na pele dos dedos, mas em geral são resolvidas com a troca do sabonete usado nos banhos ou dos produtos domésticos de limpeza.
O tratamento é feito geralmente com corticoides tópicos (muitos produtos são apresentados na forma de aerossóis). Mas, se o cachorro tiver um quadro de ansiedade, os medicamentos poderão surtir algum efeito momentâneo; sem tratar a causa, o mau hábito voltará – e as complicações decorrentes também.
Existem outras possibilidades para o comportamento, que deverão ser investigadas pelo veterinário e pelo tutor:
• infestação por pulgas, carrapatos ou piolhos (a simples presença dos insetos já é motivo para o cachorro lamber e morder as patas, como forma de autodefesa). O tratamento é feito com pesticidas tópicos (sprays, xampus, etc.), que eliminam os parasitas, e com medicamentos para cicatrizar eventuais feridas causadas pelas picadas e lambidas;
• dermatites atópicas. Muitos cães sofrem com este problema, que pode ser causado por contato frequente com ácaros, poeira, produtos de limpeza e de jardinagem, etc. Também pode ser uma doença idiopática, sem uma causa definida;
• queimaduras e machucados nas patas. Muitos tutores levam seus cães para passear nas horas mais quentes do dia (e muitas regiões brasileiras são quentes durante o dia inteiro). Isto pode gerar lesões e queimaduras nas almofadas plantares, que são muito dolorosas. O ideal, sempre que possível, é escolher as primeiras horas do dia ou o entardecer para as caminhadas;
• eliminando outras causas, o veterinário poderá solicitar exames laboratoriais para identificar excesso de cortisol ou possíveis problemas da tireoide. Estas duas disfunções hormonais causam descamação da pele, obrigando o cachorro a lamber as patas com frequência, numa tentativa sem sucesso de manter a umidade da pele.
Neste caso, as lambidas constantes nas patas seriam uma consequência, e não a causa. Os pets também podem se machucar com vidro, pedaços de metal, etc. deixados no caminho. Recomenda-se inspecionar as patas dos animais depois dos passeios, para prevenir estes males. A inspeção pode ser feita juntamente com a higienização das patas.
Se for o caso, adquira dois pares de meias especiais de passeio para o seu pet. São “sapatos para cachorros” que protegem as patas contra os choques térmicos, a umidade e o atrito com pedrinhas e sujeira. Certifique-se de que elas sejam confortáveis e não atrapalhem os movimentos. Estes acessórios precisam ser lavados depois de cada passeio.
A ansiedade no cachorro
Se a análise clínica e o histórico do pet não indicar nenhum destes problemas, é muito provável que o seu peludo esteja desenvolvendo os primeiros sinais da ansiedade. O distúrbio é devido, na maioria dos casos, à falta de motivações e desafios no dia a dia.
Cães que passam muito tempo sozinhos ou que não recebem atenção por parte dos tutores podem se tornar ansiosos. Felizmente, os cachorros não acumulam traumas: caso o fator estressante deixe de se manifestar, eles voltam a exibir hábitos saudáveis em questão de poucos dias.
O nosso dia a dia consome praticamente todo o tempo livre – e, no tempo que resta, temos muitas atividades a desenvolver, muitos de nós negligenciamos os cuidados necessários com os pets, mas é preciso conscientizar-se de que eles precisam de passeios e brincadeiras.
Também precisam variar as atividades dia para dia. Do contrário, os pets desenvolverão comportamentos destrutivos, atacando móveis, calçados e quaisquer objetos que esteja ao alcance das patas e dos dentes.
O que fazer?
É preciso oferecer opções. Mesmo que um cachorro tenha “um quintal inteiro” para brincar, isto não significa que ele queira explorar esse ambiente. Na verdade, ele já explorou todos os cantinhos quando ainda era filhote. O “quintal inteiro” não traz nenhuma novidade.
Os cachorros que passam o dia fechados em apartamentos têm ainda menos estímulos. Mesmo que eles possam circular por todos os cômodos, em pouco tempo, terão investigado todos os aspectos possíveis e certamente começarão a ficar entediados.
É sempre possível, contudo, modificar esta situação. Você pode, por exemplo:
• separar os brinquedos em lotes. A cada semana, deixe um lote diferente para ser explorado pelos pets. Desta forma, eles nunca enjoarão dos objetos que têm para brincar. Não é preciso comprar novos itens toda semana. Com exceção de alguns objetos prediletos, eles esquecem rapidamente dos demais, por mais curiosidade que tenham demonstrado quando fora “apresentados” a eles;
• baixe sons diferentes na internet e programe áudios para serem reproduzidos no decorrer do dia. Os cachorros permanecerão um bom tempo analisando a origem dos sons, uma vez que eles estão “sempre alerta”. Você também pode gravar sons amedrontadores, como trovões ou fogos de artifício, executá-los com volume baixo e progressivamente aumentar o volume, para que os pets se acostumem. No próximo temporal (ou final de campeonato), eles darão muito pouca atenção aos ruídos ensurdecedores;
• operadoras de TV por assinatura oferecem canais para cachorros. Cães e gatos não acompanham uma trama na TV, mas podem se sentir interessados pelas cores, o movimento, os ruídos. Se possível, programe a TV em uma destas emissoras para transmitir um programa por dez ou 15 minutos (é o tempo para eles encontrarem outro foco para dirigir a atenção);
• se o seu tempo é escasso até para os passeios diários (eles são fundamentais para os cachorros socializarem com humanos e outros animais estranhos à convivência familiar), contrate um passeador ou deixe o seu pet em uma creche. Ele se divertirá bastante, gastará energia e voltará para casa pronto para dormir (depois de alguns instantes de festa para o tutor);
• avalie a oportunidade de adotar outro pet. Se você passa muito tempo fora de casa, um cachorro ou gato novato será um bom parceiro para o seu peludo. Pesquise as características de raça, idade, sexo, nível de atividade física, etc. e deixe o novo camarada fazendo companhia. Não se preocupe: cães são sociáveis e quase sempre aceitam bem a presença de mais um membro da família.