Não se trata de “excesso de gostosura”. A obesidade em cães, assim como nos humanos, pode acarretar uma série de males físicos, além de limitar a obesidade. Isto sem falar na questão estética. Alguns estudos indicam que 30% dos nossos peludos estão obesos ou apresentam sobrepeso. Em média, este problema reduz em dois anos a expectativa de vida.
O excesso de peso é mais comum nas fêmeas. Os cães castrados também são mais propensos a apresentar sobrepeso e obesidade, porque se tornam menos “pesquisadores” a restringem em alguma medida as suas atividades diárias.
Milênios de convivência garantiram aos cães uma série de regalias. Na verdade, ainda não sabemos se nós domesticamos os cachorros ou apenas aprendemos a viver com eles. Infelizmente, eles também adquiriram maus hábitos nesta parceria. A alimentação incorreta é um deles.
As causas
Não é difícil entender os motivos do excesso de gordura em cães. Os motivos principais são os seguintes:
• Falta de atividades – Em quase todos os casos, a obesidade é um problema multifatorial. A causa principal, no entanto, é o sedentarismo. Apesar de brincalhões e agitados, os cães não podem, por eles mesmo, decidir que chegou o momento de deixar a poltrona e começar os exercícios. Eles sentem-se mal, mas não conseguem entender por quê.
É preciso não esquecer que os cães são naturalmente ativos. Na natureza, eles precisavam movimentar-se para caçar e garantir alimento, para defender-se e para estabelecer a hierarquia entre os membros do bando. Além disto, como estratégia natural, o organismo estoca gordura para os tempos de escassez: na falta de caça, estes estoques são “queimados” e transformados em combustível para as células.
Atualmente, nós não precisamos mais desta estratégia, mas a nossa fisiologia ainda não sabe disto. Da mesma forma que o sedentarismo provoca o acúmulo de gordura em nosso corpo e nos torna obesos, faz o mesmo nos nossos cães.
• Estresse – Os cães se estressam por diversos motivos: os principais são o tédio (principalmente quando ficam sozinhos por muitas horas) e o medo (de rojões, trovões e mesmo dos castigos de alguns tutores). A interrupção frequente do sono, a falta de brincadeiras e passeios também são geradores do estresse.
Mesmo os cães trabalhadores precisam de folgas de vez em quando, para não causar alterações no sistema cardiorrespiratório. Do contrário, podem se tornar irritadiços e agressivos. Mesmo que o comportamento não se altere sensivelmente, eles fatalmente ganharão peso, porque comerão demais para compensar a falta de distrações. Na verdade, eles passarão a comer tudo o que encontrarem pela frente.
• Comida em excesso – A alimentação é uma necessidade imposta pela natureza para podermos adquirir nutrientes: proteínas, gorduras, açúcares, vitaminas, sais minerais e água. Nós e nossos cães também ingerimos fibras solúveis e insolúveis, para auxiliar na digestão dos alimentos.
O problema está no excesso. Os cães não têm a tendência de “comer com os olhos”. Para eles, a alimentação é essencialmente uma necessidade, enquanto para nós é também um prazer. Mas os cães convivem conosco – às vezes, muitas horas por dia – e tendem a nos imitar. Geralmente, eles fazem isto para nos agradar.
No entanto, se, a cada vez que fizermos um lanchinho extra (ou assaltarmos a geladeira), também dispensemos um agrado para os pets, fatalmente eles comerão muito mais do que necessitam no dia a dia. O resultado é previsível: excesso de gordura.
Lembre-se sempre de oferecer as quantidades de alimento indicadas pelo veterinário (ou, na pior das hipóteses, pelo fabricante das rações). Os cães são naturalmente gulosos e devorarão tudo o que for posto à sua frente. O “pecado” não é deles, mas dos tutores e tratadores.
• Hipotireoidismo – é uma doença com alta incidência em cães. Um quarto dos casos de obesidade canina está relacionado ao mau funcionamento da tireoide, uma glândula situada no pescoço (à frente da traqueia) que produz alguns hormônios necessários ao equilíbrio metabólico.
O hipotireoidismo canino acarreta excesso de sono e apatia: estes são os primeiros sintomas, mais visíveis quando um cãozinho hiperativo começa a apresentar cansaço e falta de energia sem causa aparente. O excesso de gordura também é provocado pela disfunção da tireoide e é potencializado pela falta de atividades determinada pelo aumento do período de sono.
• Comida humana – Mais um fator que implica o aumento da gordura em cães: fornecer alimentos impróprios. A digestão dos pets é muito diferente da nossa e, por isto, não se deve oferecer comida humana para eles, especialmente as preparadas com açúcar, sódio e gordura em excesso.
Alguns alimentos são extremamente tóxicos para os cães:
• chocolate – hipercalórico, mesmo em pequenas quantidade provoca excitação, vômitos, diarreias e alterações do ritmo cardíaco, que podem ser fatais;
• café – a cafeína é um excelente estimulante para nós, mas deixa os cães extremamente alertas e causa insônia (vale o mesmo para refrigerantes e alguns chás). Nos animais hipertensos (muitos cães com excesso de gordura sofrem com este mal), pode gerar taquicardia, paradas cardíacas e convulsões;
• álcool – parece incrível, mas alguns maus tutores oferecem bebidas alcoólicas para cães. Chegam a afirmar que o álcool é relaxante. A verdade é que estas bebidas provocam vômitos, diarreias, prejudicam a coordenação motora e podem dificultar a respiração. Além disto, são hipercalóricas, levando à obesidade no curto prazo;
• ovos crus e ossos – qualquer alimento de origem animal, quando não é bem cozido, pode estar infectado por salmonelas e coliformes fecais. A ingestão de ovos crus, além de aumentar o consumo calórico diário, ocasiona perda de pelos e irritações da pele;
• alho e cebola – estes temperos provocam a destruição das hemácias, os glóbulos vermelhos do sangue. Podem inclusive provocar anemia, o que gera aumento anormal do apetite dos pets;
• gorduras – provocam obesidade e danificam o pâncreas dos cães. Tome cuidado com as lixeiras: cães são curiosos e podem decidir inspecionar os restos culinários dos seus tutores;
• leite e derivados – apenas filhotes devem receber leite. Depois dos dois meses de idade, o consumo é nocivo: pode provocar cálculos renais e problemas gastrointestinais, desequilibrando o metabolismo canino. Muito esporadicamente, iogurte e queijo branco podem ser dados como agrados;
• oleaginosas – nozes, avelãs, amêndoas e castanhas são contraindicadas na dieta canina. Elas causam problemas musculares, digestivos e respiratórios, além de levar a uma hipertermia;
• frutas – as frutas com sementes devem ser evitadas, já que podem provocar inflamações e obstruções no intestino. O abacate também está vetado, porque é muito calórico.
As consequências
Assim como nos seres humanos, o excesso de gordura em cães acarreta problemas cardiovasculares, respiratórios, musculares, ósseos, renais e hepáticos. Estes males, no entanto, costumam se manifestar no médio prazo e existem casos nos quais os cães gordinhos não apresentam nenhum problema no decorrer de toda a vida.
No entanto, algumas consequências são patentes. Veja o que o sobrepeso e a obesidade podem provocar em cães de qualquer idade, imediatamente ou depois de alguns anos:
• prejuízos ao sistema imunológico, facilitando a instalação de infecções e inflamações;
• deficiências gastrointestinais – a demanda por digestão compromete todo o sistema digestórios, além de causar males ao fígado e aos rins;
• redução da expectativa e da qualidade de vida;
• aumento dos riscos em qualquer procedimento cirúrgico;
• desenvolvimento de tumores – a obesidade aumenta o risco deste problema, estando associada a diversos tipos de câncer;
• aumento dos riscos de problemas cardiovasculares. O excesso de gordura facilita a formação de depósitos de gordura no músculo cardíaco e nos vasos sanguíneos, predispondo os cães a infartos do miocárdio e AVCs;
• aumento do risco de diabetes;
• problemas nas articulações, fato que dificulta a mobilidade dos pets;
• perda de fôlego, reduzindo a disponibilidade para brincadeiras e passeios. Fique especialmente atento aos cães braquicefálicos (de focinho achatado, como os buldogues e pugs), que já têm o fôlego curto e tendência para a obesidade.
Seu cão está obeso?
Apenas um especialista pode determinar a obesidade ou o sobrepeso, a partir de exames clínicos e do histórico do paciente apresentado pelos tutores. Fique atento, porém, a quatro partes do corpo:
• a cintura – olhando por cima, ela se forma depois da linha da barriga. Cães com o corpo reto quase sempre estão com sobrepeso;
• tórax e abdômen – ainda olhando por cima, o tórax é sempre mais largo do que o abdômen (mesmo em cães que não são esgalgados). Ventres volumosos indicam excesso de gordura;
• ainda o tórax – apalpe o peito do seu cachorro (isto pode ser feito com ele de costas ou deitado com as pernas para cima). As costelas devem ficar visíveis ou pelo menos palpáveis (em muitas raças, as costelas são difíceis de discernir com o olhar). Caso contrário, o peso está acima do indicado;
• pescoço – esta dica vale apenas para cães de pelo curto. O pescoço naturalmente apresenta dobrinhas. Se elas forem inexistentes, o cão pode estar obeso.
Um sobrepeso leve é difícil de ser detectado por olhos menos atentos. Contudo, quem conhece o seu pet sabe quando ele está com uns quilinhos a mais. Mas há um problema: o cão pode aparentar ser mais volumoso por outros motivos, como a retenção de líquidos (um problema) ou ao ganho de massa muscular (uma qualidade), por exemplo.
Além disto, o excesso de gordura não se revela apenas na aparência, mas também no aspecto da pelagem, que perde o brilho e pode inclusive apresentar falhas.
Estas dicas não valem para os filhotes e “adolescentes” (entre seis e 18 meses). Durante o desenvolvimento físico, estas características podem estar veladas ou muito pouco pronunciadas, o que não indica problemas necessariamente.
O tratamento
A obesidade não deve ser tratada com receitas caseiras. Mesmo as recomendações milagrosas ministradas para o cachorro do vizinho ou de um parente podem ser neutras e até mesmo nocivas para outros cães. Cada caso é um caso.
Procure ajuda especializada. Apenas o veterinário pode avaliar os comprometimentos que o excesso de gordura produziu no organismo animal. Alguns podem ter problemas musculares, enquanto outros terão os órgãos endócrinos comprometidos. A avaliação médica é fundamental para o tratamento adequado.
Siga atentamente as instruções do veterinário. É muito difícil resistir aos pedidos insistentes de um cãozinho (ou de um canzarrão), mas, de acordo com os prognósticos, ele terá de se submeter a dietas e a exercícios físicos, mesmo que odeiem estas coisas.
Enquanto o excesso de peso não surge, é importante não negligenciar a alimentação balanceada e em quantidades corretas, além dos passeios diários, que são fundamentais para os pets. Para a maioria das raças, uma caminhada de 15 minutos é suficiente, sem necessidade de aclives ou obstáculos.
É importante complementar a ração diária com alimentos verdes: maçã, cenoura, alface e brócolis são altamente recomendados para suprir as necessidades nutricionais dos pets. Acostumados desde filhotes, eles nunca recusarão estes quitutes – ao contrário, passarão a encará-las como recompensas.