O cachorro ficou oito dias na porta do hospital, sem saber que a tutora estava morta. Ele já foi adotado.
A devoção e o amor que os cães nutrem pelos tutores já é conhecida por todos. Esta história é apenas mais uma comprovação de que os cachorros são os melhores amigos dos humanos. Este cãozinho permaneceu por oito dias na entrada de um hospital, sem saber que a tutora tinha morrido. Ele já foi adotado por outra família.
“Lealdade canina” é uma expressão equivalente a lealdade a toda prova. Quando um cachorro encontra um amigo que o acolha, alimente, agasalhe e brinque com ele, o amor desta dupla é quase insuperável. O peludo fará o possível e o impossível para agradar e proteger a família que o recebeu.
A história de Benito
Benito vive em Lambaré, cidade paraguaia na fronteira com a Argentina. Durante anos, ele viveu com uma senhora que se tornou o centro das suas atenções. Mas, como diz o ditado, não há bem que dure para sempre.
Os anos de alegria e companheirismo vividos por Benito e sua tutora tiveram um final esperado. A mulher foi infectada pelo vírus SARS-CoV-2 – o responsável pela maior pandemia dos últimos cem anos – e não resistiu à covid-19.
A mulher começou a exibir sintomas graves da doença e precisou ser internada. Ela foi levada ao Hospital Geral da cidade e, a partir de então, Benito não teve mais notícias da tutora. Ela não resistiu à síndrome respiratória grave.
A bem da verdade, não seria possível explicar a situação a Benito. Mas o fiel companheiro permaneceu durante oito dias na entrada do hospital – exatamente na porta em que viu a tutora ser levada, no último momento que partilharam.
Benito mal se alimentou nesse período. Ele acompanhava o vaivém de funcionários e pacientes do hospital, tentando vislumbrar a figura da tutora. O cachorro surpreendeu a equipe, por ficar de plantão junto à entrada do pronto-socorro.
Alguns funcionários ficaram com pena do cachorro e tentaram alimentá-lo, mas Benito pouco se importava com o movimento à sua volta. Ele comia alguma coisa rapidamente e voltava ao seu posto fixo, na esperança de reencontrar a tutora.
O cachorro podia ser visto a qualquer hora do dia e da noite. De alguma forma, ele sabia que precisava estar lá, esperando sempre, para que, no momento do reencontro, a tutora estivesse em segurança.
Mas isto não aconteceu. A senhora paraguaia, apesar dos esforços da equipe de saúde, não conseguiu sobreviver à doença, que já matou cinco milhões de pessoas no mundo inteiro. No Paraguai, foram mais de 16 mil mortes.
Nos oito dias da espera angustiante, Benito enfrentou sol, chuva e frio enquanto montava guarda na entrada do hospital. Os funcionários puderam observar que ele nunca se afastava de forma que perdesse o contato visual com a portaria.
Verificada a morte, a administração do hospital foi obrigada a comunicar às autoridades paraguaias sobre a presença do cachorro na portaria e o motivo da sua longa espera, que infelizmente não teria um reencontro caloroso.
Um final feliz
Mas não seria justo que toda a dedicação e lealdade de Benito à tutora não fosse compensada de alguma forma. Certamente, ele guardará recordações da velha senhora que não resistiu à covid-19, mas outros afetos estavam próximos.
A ONG Marcando Huellas (“marcando pegadas”, em português) encarregou-se de colocar um ponto final à espera de Benito. A voluntária Patrícia Ruiz Diaz resgatou o cachorro, que estava faminto e desidratado, apesar dos esforços de alguns funcionários do hospital.
A família da tutora de Benito foi contatada pelo abrigo, mas não se dispôs a receber o animal novamente. A antiga tutora morava sozinha. Por isso, a ONG recolheu o cachorro a um abrigo.
Ele foi avaliado pelos veterinários, que constataram que a saúde não estava bem: Benito estava evacuando sangue, um sintoma comum a diversas doenças – de uma inflamação nos sacos anais a tumores no reto ou no cólon.
Felizmente, foi apenas uma inflamação temporária. Em poucos dias, apesar de continuar demonstrando muita tristeza, Benito estava recuperado. Patrícia acompanhou o caso desde o resgate e finalmente conseguiu dar uma boa notícia.
Em agosto de 2021, Patrícia postou na página do Marcando Huellas no Facebook: “Ele já está mais gordinho, é um cão muito querido e feliz. Agora, ele divide uma casa com oito irmãs e dois irmãos”.
Felizmente, Benito encontrou outra família para chamar de sua. É uma casa agitada, cheia de humanos e cachorros. Agora, ele se chama Rubio. Com certeza, ele se lembrará com ternura da antiga tutora, mas momentos mais alegres o aguardam. Agora, ele só fica triste nos dias de chuva, porque não pode sair para o quintal.