Atualmente, é possível afirmar que os pets têm sentimentos e emoções que, durante muito tempo, nós acreditamos serem exclusivos dos humanos. Isto vale para o bem e, infelizmente, também para o mal. Cachorro com medo de trovão, escondendo-se embaixo dos móveis logo que começa um temporal, não é apenas um fato curioso: é um sentimento que pode inclusive levar ao desenvolvimento de algumas doenças.
O medo de trovão pode evoluir para uma fobia (mais propriamente, a astrofobia) e, em alguns casos, os cachorros se tornam agressivos e podem atacar os familiares.
No mais das vezes, contudo eles apenas se apavoram, mas isto pode levar a arritmias cardíacas e alterações da pressão sanguínea, que, muito frequentes, podem levar ao desenvolvimento de problemas cardiovasculares. O medo intenso também é fator de estresse, fato que prejudica a saúde geral do pet.
O ouvido dos cães
A audição canina é muito mais apurada do que a nossa: eles conseguem ouvir sons a uma distância quatro vezes maior do que a capacidade humana – por exemplo, enquanto nós precisamos estar a dois metros de distância para captar determinado ruído, eles o percebem a oito metros.
Além disto, eles percebem sons que nós não conseguimos identificar. Enquanto o ouvido humano escuta numa frequência entre dez e 20 mil Hz (Hertz é a unidade de medida da frequência de uma onda sonora), o ouvido canino capta até 40 mil Hz. Por isto, o barulho do trovão é muito mais alto e estarrecedor para eles do que para nós.
Além disto, os cachorros conseguem identificar a origem de um barulho qualquer em apenas seis centésimos de segundo (0,06 s). Imagine o medo que podem provocar as quedas de dezenas de raios em diferentes direções.
Os motivos
Por que o cachorro tem medo de trovão? Não existe um motivo específico. Alguns animais têm medo de descer escadas, outros não se aproximam de estranhos, outros simplesmente não gostam de sons muito estridentes. Vale o mesmo para o barulho de explosões ou de fogos de artifício.
No caso dos trovões e relâmpagos, porém, trata-se de um perigo real. Estes fenômenos climáticos realmente podem causar acidentes. No Brasil, em média, morrem mais de 130 pessoas a cada ano, atingidas por relâmpagos. Não existem estatísticas a respeito das mortes dos nossos amigos de quatro patas.
Uma prova de que o medo moderado pode ser derivado de um instinto natural é que a maioria dos cães percebe a queda da pressão atmosférica que antecede as tempestades. Eles começam a se apavorar minutos antes da queda da chuva. Como diz o ditado, em caso de chuva, “bicho bravo se amansou, bicho manso ainda não parou”.
Evidentemente, os cachorros desconhecem a existência de para-raios. Por isto, praticamente todos eles sabem instintivamente que, quando começam os roncos do céu, é hora de procurar abrigo. Em certo sentido, eles são mais sábios do que nós neste quesito.
Na maioria dos casos, os cachorros apresentam apenas uma ansiedade moderada, mas há animais que sentem tremedeiras, ficam ofegantes, tentam escapar (em alguns casos, eles conseguem e correm risco de atropelamento, por exemplo).
O que fazer?
Não existe um tratamento terapêutico específico para neutralizar o medo de trovão. Algumas providências, no entanto, podem ajudar os pets a superar esta condição.
Durante o temporal, deixe o cachorro perto de você e continue fazendo as suas tarefas de maneira tranquila. Se ele estiver muito assustado, sente-se ao lado dele e faça carinhos. Os animais pequenos podem ser mantidos no colo, desde que eles gostem de ficar assim.
Desta forma, a associação será entre a chuva e uma condição de calma e segurança. Com isto, ele passará a encarar o trovão a uma condição prazerosa e divertida.
Ouvir música ou deixar a TV ligada é uma boa providência: outros estímulos sonoros desviarão parte da atenção mantida nos apavorantes trovões. As imagens da TV não atraem a maior parte dos cães, mas terão um efeito calmante – é como se a casa estivesse cheia.
Uma boa dica, especialmente para os filhotes, é encontrar sons de trovões na internet e reproduzi-los, com o volume cada vez mais alto, para os cachorros. Uma exposição de 30 segundos é suficiente, sempre seguida por uma experiência agradável, como brincadeiras, afagos ou petiscos. O pet irá associar o barulho com algo positivo. Em alguns dias, provavelmente ele deixará se sentir medo durante os temporais.
Com uma audição tão apurada, outra providência é colocar bolinhas de algodão nas orelhas do cachorro, para abafar o som do trovão. Isto, no entanto, só deve ser feito em casos extremos, uma vez que não acaba com o medo, apenas reduz o desconforto.
Mantenha janelas e portas fechadas, para evitar acidentes e traumas, e não permita que o pet fique em sacadas ou perto de escadarias. Existem casos de cães que saltaram através de janelas, caindo de alturas consideráveis. Uma situação destas só irá agravar o problema, intensificando o medo quando ocorrer o temporal seguinte.
Caso ele insista em ficar escondido, arranje um canto seguro para ele se “proteger”. Pode ser embaixo de uma cama ou mesa, por exemplo (normalmente, o próprio pet decide onde ficam os melhores esconderijos). Alguns cães, especialmente os menores, costumam se esconder em caixas de transporte.
Deixe uma almofada e alguns brinquedos no local, para o cachorro poder se distrair. Se estiver, na hora da refeição, não se esqueça da tigela de ração: muito provavelmente, o pet não irá circular pela casa, mesmo que estiver com muita fome.
Em alguns casos, no entanto, quando verdadeiro pânico se apossa dos nossos pets, a melhor solução é procurar um médico veterinário, que poderá receitar um calmante para os dias de chuvas com raios e trovoadas. Existem medicamentos em gel, que são aplicados diretamente na boca dos cachorros (como se fosse um creme dental).
O truque do pano
O método, também conhecido como Tellington, foi criado pela canadense Linda Tellington Jones, conhecida por advogar mundialmente que todos os seres – humanos e animais – são reflexos do todo divino. A especialista é doutora “honoris causa” pela Wisdom University.
O truque do pano é simples. Basta amarrar retalhos de tecidos nas áreas mais sensíveis dos cachorros –orelhas, pernas traseiras e as quatro patas –, para que eles se sintam mais protegidos. O aquecimento nesses locais ativa a circulação sanguínea, reduzindo a irritabilidade e o desconforto. A técnica funciona para qualquer tipo de barulhos muito altos.
Coloque uma faixa na altura do peito do cachorro, cruzando-a nas costas, voltando pela parte inferior do abdômen e, por fim, amarrando-a na raiz da cauda. Não deixe muito apertado, pois isto prejudica a circulação e provoca efeito contrário ao desejado.
A thundershirt é um substituto para o truque do pano. Trata-se de uma camiseta que cobre todo o tronco do cachorro. Os fabricantes garantem que ela é útil não apenas para conter o medo de trovão, mas também para os latidos excessivos, medo de viajar e medo de cortar as unhas.
O que não fazer?
Em primeiro lugar, lembre-se sempre de que o pet está passando por uma experiência aterrorizante. Nunca repreenda o seu cachorro quando ele manifestar o medo. Ele irá associar a bronca à chuva e aos raios. Isto só irá piorar a situação.
Se você também tem medo de trovão, é melhor deixar que outro membro da família fique em companhia do pet. Os cães são muito sensíveis e percebem quando nós estamos com medo, assim como sabem quando estamos alegres ou tristes.
Em tempo: nunca obrigue o cachorro apavorado a passear num dia chuvoso, com trovoadas, ou a permanecer sozinho no quintal. Ele irá entender esta atitude como um castigo, e isto apenas irá aumentar o medo de trovão. Durante o temporal não é o melhor momento para dizer ao pet para ele ser corajoso: ele irá se sentir castigado!