O seu cachorro é muito bravo? Confira algumas dicas e truques para atenuar este problema.
A verdade precisa ser dita: existe cachorro bravo, sim. Algumas raças caninas foram desenvolvidas especialmente para serem agressivas – contra a caça, os invasores, os inimigos do rei. Alguns cães foram escolhidos a dedo justamente por serem ferozes. Era isso que queríamos deles e foi isto que eles nos deram.
A parceria entre humanos e cães é muito antiga e surgiu justamente quando os animais mais dóceis e afetuosos se aproximaram. Há alguns milênios, eles não eram tão dóceis assim: começamos a conviver com os peludos nas aventuras de caça cooperada, em plena Era do Gelo, para obter resultados melhores para ambos.
Na caça cooperada, a parceria se resumia em identificar a presa, persegui-la e abatê-la. Depois disso, provavelmente, era cada um por si – e um naco de carne para cada um. Mas, como nós somos mais inteligentes e adaptados, surgiu uma hierarquia: os humanos guiam, os caninos acompanham.
Cachorro bravo, no entanto, pode ser um problema: ele pode atacar as visitas, os entregadores, prestadores de serviços, até membros da família. Podem decidir que o gato do vizinho é um intruso e acabar com a política de boa vizinhança. Felizmente, é possível atenuar estas características.
Raças de cachorros bravos
Ao longo dos milênios, nós desenvolvemos diversas raças caninas. Quanto mais diversificávamos as nossas atividades, mais precisávamos de cachorros com características específicas. Desta forma, nós criamos boiadeiros, pastores, guerreiros, animais de tração, caçadores, etc.
Os cachorros assumiram temperamentos próprios. Um cão boiadeiro, acostumado a passar longos períodos sem a companhia humana, cuidando do gado, se tornaram valentes, destemidos e independentes. Cães de trenó, como o husky siberiano e o malamute de Alasca, apresentam alto senso do dever, mas se mostram totalmente relaxados depois da tarefa cumprida.
Nós também desenvolvemos cães para brigar – com outros cães e com outros animais. O simpático e bonachão buldogue inglês foi criado para apresentar-se em arenas contra touros. O mesmo ocorreu como o dogo argentino, o dobermann, o rottweiler, o pitbull, etc.
Muitos destes cães ainda são bravos. Algumas raças insuspeitas, como o chow-chow, também carregam genes da agressividade. Muitos animais sem raça definida (os vira-latas), mas que apresentam parte do DNA associada à agressividade, também podem ser ferozes, valentões, antissociais, sempre prontos para a briga.
Criadores conscienciosos costumam observar o comportamento dos filhotes desde que nascem. Eles não utilizam os cães mais bravos nos cruzamentos posteriores. Com esta prática, os cães de certas raças vão se tornando cada vez menos bravos, mas continuam apresentando o instinto, que pode se revelar em situações nas quais seja preciso defender a família, a casa, um território qualquer de uma invasão.
Quer ter um cachorro bravo?
Selecionar os cães mais agressivos e, depois de uma série de cruzamentos, obter uma raça brava, arisca, independente, forte, pouco sensível à dor, é uma tarefa relativamente fácil. Basta observar os animais com as características desejadas e selecioná-los para cruzar.
Mas, todo cão é bravo. Eles são descendentes dos lobos (que estão quase extintos, apesar de toda a braveza). Alguns especialistas afirmam que eles não são descendentes: cães e lobos pertencem à mesma espécie, com a diferença de que alguns indivíduos se afeiçoaram aos humanos.
Por isso, qualquer cachorro pode demonstrar agressividade – e esta característica pode ultrapassar os limites. Não importa o porte do animal: eles não se percebem enquanto pequenos, médios e grandes. Um chihuahua pode se estabelecer como líder em uma casa convivendo com um rottweiler, um dogue alemão ou um mastim napolitano.
Eles seguem algumas regras relacionadas à idade e maior ou menor tempo de convivência com o chefe humano. Os motivos ainda não estão explicados, mas as normas de hierarquia e organização são muito estabelecidas entre os cachorros.
Se você quer ter um cão bravo, acostume-o desde filhote a:
- ficar sozinho, sem contato com a família e com outros animais;
- ficar isolado em um trecho pouco frequentado pela família, como um fundo de quintal ou um depósito vazio;
- ficar longas horas sem receber alimento e água fresca;
- não passear nunca e, desta forma, não conviver com outros humanos e caninos;
- sofrer maus tratos físicos e emocionais;
- não criar laços de afeto e pertencimento com a família;
- ser recompensado sempre que late e tenta avançar em estranhos, mesmo que seja o carteiro no portão;
- aceitar desafios de força com frequência, tais como arrastar objetos pesados, rasgar tecidos encorpados, escalar muros altos.
Para tornar um cão menos bravo, obviamente, basta seguir o caminho oposto: dar atenção e apoio ao pet desde que ele chega à casa, passear e brincar, cuidar das necessidades, reprimir desobediências – como latir para o vizinho que passa no corredor ou o faxineiro que está limpando a cozinha –, demonstrar afeto com carinhos e recompensas, premiar o bom comportamento ou a execução de um comando, seja simples, seja sofisticado.
No entanto, o malfeito é fácil de fazer (se não fosse, seria “bem feito”). Corrigir maus hábitos é muito mais difícil do que estimular uma conduta positiva e ajustada. Se o cachorro já é bravo, é preciso recomeçar, e isto dá mais trabalho. Mas tenha em mente que o adestramento canino sempre funciona, principalmente quando alinhado ao afeto e ao amor.
Motivos da braveza
Além das características pessoais, da herança genética e da influência do meio, um cão pode se tornar bravo como uma estratégia de defesa. Um animal de rua, por exemplo, pode se tornar extremamente feroz em função dos maus tratos recebidos.
Mas, cães são seres vivos, como nós mesmos. Não existem respostas padronizadas para determinados estímulos. Outro cão sofrendo nas ruas pode decidir ser “um bichinho maravilhoso”, ganhando elogios, brincadeiras, alimentos e, em alguns casos, até mesmo uma nova casa.
O estímulo, portanto, foi o mesmo: maltratar o cão sem dono. A resposta, no entanto, pode ser oposta: em vez de criar um cão bravo, estimulou-se um comportamento positivo, que leva a recompensas constantes. Isto também pode acontecer em casa.
Um pitboy pode acorrentar o seu cão, fazê-lo arrastar um skate pilotado, instigar a ferocidade contra estranhos, visitas inoportunas e até mesmo passantes na rua. Muitos animais se tornarão verdadeiras feras, mas outros serão animais medrosos, com dificuldade para se relacionar, escondendo-se em um canto sempre que conseguem.
Como corrigir?
O problema do cachorro bravo é relativamente fácil de ser atenuado. É pouco provável que um animal que tenha experimentado os efeitos da ferocidade venha a se comportar como um cordeirinho, mas ele não está condenado a ser uma ameaça eterna.
Os cães são animais gregários, conhecem os benefícios da vida em grupo e adaptam-se facilmente às necessidades da matilha – eles entendem que nós somos um grupo específico dentro da “selva” e, nesta matilha, precisam entender que o macho alfa é justamente o tutor – mesmo que seja uma mulher.
Cães bravos precisam de ajuda, não de punição. Eles podem ter entendido, em algum momento da vida, que tudo pertence a eles. Alguns cães são extremamente territorialistas – um pastor, por exemplo, não pode admitir que um carneiro se desgarre do bando, ou que um bode estrague a cerca. O comportamento de vigilância foi estimulado por nós, para que eles protegessem o nosso patrimônio.
Um cão territorialista não quer saber de mudanças no seu hábitat. Tudo deve permanecer como está, para que reinem a paz e a concórdia. Este territorialismo eventualmente se transfere para os tutores – e os pets se tornam extremamente ciumentos, podendo morder qualquer pessoa que queira oferecer um abraço, um carinho, ou um simples aperto de mãos.
O mais adequado é não permitir que estes comportamentos negativos se instalem. Desde filhotes, os cães precisam conhecer – e respeitar – as regras da casa: por onde podem transitar, o que podem pegar, como se relacionar com as pessoas da família, as visitas, os estranhos que se aproximam.
O melhor método de adestramento é o das recompensas, que não são necessariamente materiais. Nas primeiras etapas do treinamento, é importante oferecer alguma coisa concreta, como um biscoito canino, mas, para o pet, a aprovação do tutor é o maior prêmio.
Portanto, é necessário ensinar os comandos básicos (“não”, “fica”, “quieto”, “senta”, etc.). Os pets aprendem com rapidez, justamente porque querem satisfazer as expectativas dos tutores. Assimilados os comandos básicos, eles precisam aprender onde fazer as necessidades, se podem ou não subir no sofá, se podem subir no sofá, mas não na cama (para eles, as diferenças são muito sutis, quase nulas), se devem latir ao perceber ruídos ou cheiros estranhos, etc.
Recompensando as atitudes corretas, os tutores facilmente induzem os pets a fazerem a coisa certa; além dos prêmios pelos comportamentos ajustados (petiscos, agrados, palavras de incentivo), os cachorros incorporarão as regras e limites ao dia a dia. Para eles, não há motivos para insubordinação, quaisquer que sejam as exigências (desde que não sejam absurdas, como querer que um cão se comporte como a gente).
Os cães na podem ficar entediados. Passar um dia inteiro sozinho, sem nada para fazer, ou não sair para passear, “apenas” porque está caindo um aguaceiro nunca visto, são condições terríveis para eles. Entediados, eles podem se tornar destrutivos, agressivos, antissociais, insolentes, etc.
Mas, muitos de nós, mesmo com as melhores intenções, erramos na educação canina e acabamos criando pequenos tiranos. Eles avançam contra entregadores, morder as canelas das visitas, não dão sossego para o gato da casa, mostram os dentes para crianças curiosas em saber “como funcionam” as orelhas e o rabo, por exemplo. Ou enfiar dedinhos nos olhos e narinas.
Cães bravos precisam ser desestimulados. Não importa a idade, nem de que forma eles desenvolveram os maus modos. Cachorros de qualquer idade conseguem aprender muitas coisas. Talvez não seja possível transformar um “velhinho” de seis anos em um campeão de agility, mas ele pode se tornar um mestre em porte e postura (se ele e o tutor quiserem, está claro).
Quando o seu cachorro estiver com o rabo elevado, o focinho franzido, os dentes caninos à mostra ou o olhar concentrado em um ponto fixo, comece imediatamente a neutralizar o comportamento: ele está sendo agressivo, mesmo que você ainda não tenha conseguido encontrar o objeto da agressão.
Estas condutas estão relacionar a apontar a caça ou defender o território. O cachorro precisa entender que nenhuma destas atividades está sendo requisitada. Elas são inadequadas, na verdade. Os comandos simples (“não”, “fica”) devem ser suficientes.
Se você souber as situações que disparam estes comportamentos inadequados, exponha o seu cão a elas (com a segurança necessária). Se ele fica em posição de ataque sempre que o vizinho anda pelo corredor (e eles conseguem detectar a presença quando o pretenso inimigo ainda está no elevador), comande para que ele perceba não ser necessário o alerta e a sentinela.
A linguagem corporal é a melhor forma de comunicação dos cachorros. Eles conseguem latir, uivar, ganir e rosnar em diversos tons e frequências, mas nós dificilmente captamos as diferenças, que podem ser sutis. Aprenda a ler o corpo do seu cão e antecipe as reações que ele terá frente às pretensas ameaças.
Lembre-se: um cachorro com medo é capaz de causar acidentes que podem ser sérios. Se você perceber que o seu pet está amedrontado em função de ruídos, da presença de outros animais de estimação, da passagem em determinados locais, deixe de expô-lo ao fator estressante. Ele pode nem ser um cão bravo, mas saberá se defender em situações de perigo.
Alguns fatores, no entanto, podem ser facilmente contornados. Se ele se sente ameaçado por trovoadas ou por motocicletas que passam com o escapamento aberto, procure vincular tais situações a alguma coisa prazerosa. Ofereça um brinquedo, um carinho, converse com ele durante o momento estressante. Em poucos dias de treinamento, ele deixará de vincular o ruído à ameaça, passando a encará-la a uma condição de prazer.
O importante é o tom de voz, que deve ser firme, sem necessariamente ter o tom elevado. Os cachorros aprendem o significado de muitas palavras (nomes próprios, comandos básicos, brincadeiras, comida, etc.), mas, no quesito “ordens”, o que vale é o tom do tutor. O pet precisa voltar a obedecer ao líder.
Se você não se sentir competente para o treinamento, avalie a possibilidade de contratar um adestrador profissional. Muitos tutores não conseguem se colocar na posição de líderes, e um especialista poderá ensinar truques básicos para reorganizar a relação.
O importante é ter paciência. Ninguém aprende de um dia para outro, menos ainda desaprende, principalmente se for um hábito arraigado. Se ele voltar a exibir o comportamento inadequado, recomece o treinamento. Em algum momento (estamos falando de dias, não de meses ou anos), ele perceberá o que está errado e fará o necessário para corrigir-se.
Os cachorros são animais extremamente inteligentes; se não fossem, não teriam nos treinado tão bem, para dar casa, comida, conforto e diversão para eles.