Na Índia, uma vaca se tornou ama de leite e mãe adotiva de sete cachorrinhos órfãos.
Uma vaca surpreendeu os moradores de Lingsugur, uma vila em Raichur, no sul da Índia. Até mesmo o dono do animal ficou impressionado quando viu alguns cachorros órfãos pedirem comida para a vaca, que gentilmente concordou em amamentar os filhotes.
Uma ninhada de sete cachorrinhos apareceu na entrada da propriedade do fazendeiro Hanumantha Saali. A mãe dos filhotes havia morrido poucas horas depois do parto e ninguém sabia muito bem o que fazer com as crias.
A vaca e os cãezinhos
Os recém-nascidos circularam pela propriedade durante alguns instantes, em busca da mãe ou de algum tipo de alimento – eles não sabiam o que procurar, mas as necessidades sempre indicam caminhos certos, mesmo que pareçam misteriosos.
Ao todo, nasceram sete filhotes. O fazendeiro tentou alimentá-los com uma vasilha de leite, mas eles eram imaturos demais para beber. O dono temia que os peludinhos não resistissem – e não havia nenhuma outra cadela amamentando por perto.
Os próprios cãezinhos encontraram uma solução bastante improvável. Eles seguiram em direção à entrada do curral e, de acordo com a descrição do fazendeiro, “imploraram” que a vaca os alimentasse, assim que a viram.
Apesar de imenso, o bovino mostrou-se bastante gentil. Tranquilamente, a vaca deitou-se no chão – uma posição incomum para a espécie – e permitiu que os cãezinhos lambessem o leite das suas tetas. O fazendeiro ainda ficou preocupado, mas os filhotes se adaptaram rapidamente, sem demonstrar reações ao leite – bem mais gordo e rico em nutrientes do que o de uma cachorra.
A vaca não se limitou a alimentar os filhotes. Ela os acolheu, permitiu que eles se aninhassem em seu ventre e, com o passar do tempo, aceitou as brincadeiras dos cãezinhos: escalar o tronco, morder a cauda e as orelhas, etc.
O bovino realmente se tornou a mãe adotiva dos filhotes e todos os sete sobreviveram. O único risco estava no momento em que ela se levantava. Acostumada a amamentar bezerros, todos temiam que ela não tivesse sensibilidade para desviar dos filhotes – ou talvez, nem entendesse a fragilidade dos cãezinhos.
Afinal, são duas espécies muito diferentes. Provavelmente, o único traço biológico que une cachorros e vacas é que ambos são mamíferos. Mas baleias e morcegos também são e nem por isso são parecidos.
O medo do pessoal da fazenda se mostrou injustificado. A vaca permanecia muito tempo deitada de lado, esperando calmamente que os cãezinhos matassem a fome e a curiosidade. Ela mesmo os incentivava a brincar por perto e só se levantava quando os filhotes se afastavam a uma distância segura.
De qualquer maneira, ninguém conseguiu explicar como os cachorros se aproximaram da vaca. Para pequenos recém-nascidos, até mesmo uma gata adulta seria uma presença ameaçadora. É possível que os deuses do oriente tenham ajudado na interação entre a mãe e os filhos improvisados.
Vacas na Índia
Lingsugur fica no Estado de Kamataka, onde 84% da população é composta por adeptos do Hinduísmo. Nesta religião, as vacas são símbolos da fertilidade e da vivificação e, por isso, são consideradas veneráveis.
A maioria dos indianos aproveita o leite e o estrume das vacas, apesar de não abater nem consumir carne bovina. O estrume é o principal adubo, usado principalmente na agricultura familiar, e as fábricas de laticínios são comuns.
Vacas andam livremente, inclusive pelas vias urbanas das maiores cidades da Índia: se elas resolverem descansar no meio do cruzamento, os motoristas precisam esperar ou procurar outro caminho. Os indianos não veem com bons olhos os maus tratos às vacas – e espantá-las para permitir a passagem dos carros é considerado como agressão.
Alguns indianos tradicionais atribuem efeitos terapêuticos até mesmo à urina e às fezes das vacas. Há poucos meses, as autoridades sanitárias precisaram intervir para impedir que parte da população se cobrisse com excrementos para, de acordo com as suas crenças, afastar os riscos da pandemia de covid-19.
Apesar de os ocidentais acreditarem que, na Índia, as vacas são sagradas, elas são apenas símbolos da divindade – não são a própria divindade. De qualquer forma, para os hinduístas, o dino permeia todos os seres vivos.
A vaca de Saali (que se mudou recentemente para a cidade de Haveri, deixando o ambiente rural) goza de todos esses benefícios, enquanto digna representante do mundo bovino. Ela continua morando na fazenda, com os filhos postiços, cada vez mais saudáveis, atrevidos e independentes.