Ela compensa as deficiências com os outros sentidos e consegue “ver” quando o tutor chega.
Christine e Forrest Bray, um casal que vive em Spokane, Washington (noroeste dos EUA), adotaram Opal há três anos. Ela é uma pastora australiana surda e cega que conquistou os corações dos tutores, mas, no início do relacionamento, eles ficaram preocupados com as limitações da cachorra.
A preocupação durou até que descobriram que Opal é capaz de compensar as deficiências com os outros sentidos – especialmente o olfato – e até criou um “ritual de boas vindas” para receber o tutor todas as tardes, quando ele chega em casa.
A família Bray
Além de Opal, Christine e Forrest, a família é composta por Lily, um bebê humano de 18 meses que “conhece a pastora desde sempre”, e por Pearl, uma cadela mestiça também surda que é a última aquisição do lar dos Bray.
Quando Opal foi adotada, ela não podia ver quando os tutores se aproximavam, não escutava quando eles a chamavam, não reagia quando uma bolinha descia quicando os degraus da escada. Mas ela conseguiu superar tudo isso.
Através do olfato, ela percebe a aproximação do tutor antes que ele coloque a mão no portão da casa e já prepara a recepção: a festa para Forrest, apesar de se repetir todos os dias, é sempre uma ocasião especial.
As brincadeiras, com pequenas adaptações, transcorrem sem problemas. Opal não consegue ver nem ouvir uma bolinha sendo arremessada, mas todos os objetos e moradores da casa já estão impregnados com cheiros e sabores inconfundíveis. Opal se comporta como se não tivesse nenhuma deficiência.
Nas palavras de Christine, Opal “vê” e “ouve” de um jeito especial e exclusivo, mas tão eficiente quanto as visões e audições que os nossos olhos e ouvidos nos permitem captar. Ela aprendeu a lidar com as limitações, não sabe que os outros a consideram uma “coitadinha” e, por isso, faz tudo o que quer e precisa.
Os vídeos
A família Bray se tornou famosa depois que Christine filmou a recepção que Opal faz todos os dias, quando o tutor chega em casa. Basta que ela sinta o cheiro de Forrest (há dezenas de metros), para que comece a se mostrar ansiosa.
Ela corre para a porta de entrada – o caminho deve estar demarcado por odores e sabores –, na expectativa de “ver” o pai humano e salta no colo dele, dando mostras de que consegue identificar exatamente onde ele está.
No vídeo, é possível observar que Opal levanta o focinho. Ela fica com o ”nariz no ar” e começa a abanar o rabo antes que Forrest saia da caminhonete. Ao cruzar o jardim em direção à porta, a cachorra já está pulando e latindo de alegria.
As imagens foram postadas nas redes sociais e rapidamente viralizaram. Só depois da repercussão, que gerou milhares de curtidas e compartilhamentos, Christine e Forrest perceberam que a cachorra havia realizado um feito imenso, ao superar as deficiências.
Para Opal, no entanto, tudo é absolutamente normal. Os internautas continuam se surpreendendo com as “façanhas” da cachorra, que tem a própria página no Instagram, para divulgar as habilidades especiais: @opalthedoublemerle.
A fama de Opal, no entanto, se tornou grande demais para as redes sociais. Christine acaba de publicar um livro, que leva o nome da cachorra sobre as histórias da família e da fantástica pastora australiana.
No livro, a tutora também mostra as estratégias que usa para se comunicar com a cadela cega e surda. São truques simples, como “duas batidas nas costas para se sentar”, “duas batidas nos ombros para se deitar”. Christine espera que Lily aprenda a se comunicar com Opal a partir destes comandos.
O duplo merle
Opal é apresentada no Instagram como “double merle” (merle duplo, em português). Merle é um tipo de pelagem canina: são aquelas manchas mais ou menos pronunciadas sobre uma cobertura sólida. No caso desta cadela, o padrão é muito sutil: pequenas marcas cinza e prateadas sobre a pelagem branca.
O duplo merle designa o cruzamento entre cães que exibem esse tipo de pelagem, que pode ocorrer em cães de todas as cores e nas mais diversas raças (nesses animais, também é frequente a ocorrência de olhos azuis e porcelanizados ou da heterocromia: um olho de cada cor).
Duplo merle significa que genes determinantes desse tipo de pelagem são transmitidos tanto pelo pai quanto pela mãe: nesses cruzamentos, um quarto dos filhotes terão essa característica genética.
De acordo com Amanda Fuller, veterinária da Universidade de Baltimore, cães com duplo merle são extremamente suscetíveis à cegueira e à surdez. O problema é mais comum entre dogues alemães e border collies, mas pode afetar várias raças.
Criadores experientes sabem que não devem cruzar cães merle, porque é possível que macho e fêmea transmitam o gene dominante para as crias, que nascerão com problemas de visão e audição.
O padrão merle é muito bonito, com os cães exibindo uma pelagem marmorizada, levemente salpicada com pequenas manchas sobre um fundo sólido e uniforme. Nos acasalamentos, no entanto, o ideal é manter os merles separados, para evitar problemas genéticos.