Daya é uma cachorra da raça pit bull que, por muito tempo, perambulou pelas ruas da pequena e fria York, uma cidade de pouco mais de oito mil habitantes na Carolina do Sul, sudeste dos EUA. O serviço de resgate local percebeu que a peluda estava grávida e a encaminhou para o Halfway There.
O Halfway There (“no meio do caminho” ou “quase chegando”, em tradução livre) é uma organização sediada em Charlotte, uma cidade com mais recursos, do outro lado da fronteira, na Carolina do Norte, a menos de 60 km de York. O abrigo recolhe animais de outras instituições superlotadas, para oferecer melhores condições aos cães e gatos abandonados.
A história de Daya
Não se sabe por quanto tempo a pit bull permaneceu abandonada em York, sofrendo todo tipo de privações. O certo é que Daya estava desnutrida, faminta e enregelada quando finalmente foi resgatada, no auge do inverno no hemisfério norte. Ao constatar a gravidez avançada, o serviço transferiu-a para os cuidados do Halfway There.
A acolhida foi quase imediata, mas a equipe do abrigo diagnosticou que Daya estava em péssimas condições de saúde. A pit bull havia contraído uma infecção genital e estava à beira da morte. Foi preciso submeter a cachorra a uma cirurgia de emergência, na tentativa de salvar a vida da peluda. Subnutridos e malformados, nenhum dos fetos conseguiu sobreviver.
Daya ficou inconsolável. De alguma forma, um sexto sentido das mães de qualquer espécie as faz preparar-se para acolher, alimentar e aquecer as crias. A pit bull estava pronta para a maternidade, mas não havia filhotes a quem dedicar atenção e carinho.
A recuperação física foi relativamente rápida, mas Daya estava triste, revelando todos os sinais de luto. Ela procurava os filhotes, sem saber muito bem o que fazer. Uma parte muito importante da vida da pit bull havia sido arrancada, mas a equipe do Halfway There estava decidida a devolver a alegria para a cachorra.
A sensação de vazio era evidente para qualquer pessoa que se aproximasse de Daya. Ela juntava brinquedos e agasalhos, aninhando-os como se fosse a sua ninhada perdida. A pit bull parecia distante, desinteressada de tudo, em uma busca contínua e melancólica pela família perdida.
Felizmente, a solução para os problemas de Daya felizmente estava muito perto: Raisin. Trata-se de um filhote encontrado abandonado à beira de uma estrada com um ferimento profundo na face – foi necessário retirar o olho esquerdo do filhote.
Daya e Raisin
Raisin, à época, era um recém-nascido, imaturo demais para sobreviver sem os cuidados da mãe. Ele estava sendo tratado com fórmulas especiais, mas nada substitui a atenção materna. A equipe do Halfway There resolveu reunir o filhote e a mãe em luto, para observar as reações da dupla. O processo de cura dos dois cachorros atingiu um momento crucial.
Mãe e filho se aproximaram quase instantaneamente. O filhote deu alguns passos incertos em direção à nova guardiã. Daya, por sua vez, aconchegou Raisin e aqueceu-o. ela estava feliz e o pequeno instintivamente procurou as mamas. O leite materno, como se sabe, é alimento completo para todos os mamíferos – dos musaranhos às baleias-azuis – nos primeiros dias ou meses de vida.
Nas semanas seguintes, Daya cuidou de Raisin como se fosse seu filho biológico. Quando o filhote finalmente foi desmamado, o Halfway There encontrou lares adotivos para os dois cachorros. A nova família adotiva de Raisin garantiu um irmão para o filhote: outro peludo adorável chamado Charlie.
Abortos em cadelas
Fatos como o que ocorreu com a pit bull Daya são relativamente frequentes entre as cadelas. Nesse caso, o aborto ocorreu por causa de uma infecção nos ovários, que se espalhou pelo útero e comprometeu a capacidade de gestação da peluda. Além disso, ela estava desnutrida e exposta às más condições climáticas do inverno nos EUA.
Não se sabe por quanto tempo Daya permaneceu abandonada nas ruas de York. Considerando a gestação avançada, é muito provável que ela tenha se acasalado em uma fuga e o tutor, ao perceber “bebês a bordo”, simplesmente descartou o animal, deixando-a à própria sorte.
As causas dos abortos espontâneos podem ser divididas em infecciosas e não infecciosas. No primeiro caso, a cachorra é exposta a micro-organismos nocivos, que podem ser inalados diretamente do ar, ingeridos na água, em alimentos inadequados e até mesmo no contato sexual.
Entre as causas não infecciosas, a maioria dos casos é decorrente de traumas (brigas, quedas e outros acidentes), avulsão dos cordões umbilicais e esmagamento dos fetos. Outra possibilidade frequente é a má alimentação, uma vez que as carências e excessos nutricionais podem causar más-formações ou comprometer o desenvolvimento dos filhotes ainda dentro do útero.
Para os tutores, o ideal é castrar os cães machos e fêmeas ainda antes da maturidade sexual, caso não haja interesse em dar início a uma criação. A esterilização evita uma série de problemas de saúde, como infecções nos genitais, piometra e diversos tipos de câncer (testículos, pênis, ovário, útero e mamas), além de reduzir as fugas e invasões, brigas, quedas e atropelamentos.
É um mito a ideia de que os cachorros precisam se acasalar pelo menos uma vez antes da esterilização. O procedimento cirúrgico é indicado para cães ainda filhotes, apesar de poder ser realizado também em animais adultos. A cirurgia evita também o desenvolvimento de hábitos inadequados, como a demarcação do território, a monta em objetos e nas pernas dos tutores, etc.