Muñeca é uma cachorra dachshund de 18 anos que, ao fim da vida, em lugar de encontrar aposentadoria e o descanso merecido, foi entregue a um abrigo. No local, sem referências da família e cercada por desconhecidos, ela procurou ajuda no colo da primeira pessoa que encontrou: Elaine Seamans, uma antiga voluntária do Baldwin Park Animal Care Center.
A vida de Muñeca (“boneca”, em espanhol) tinha sofrido uma guinada de 180 graus. E, para complicar a situação, apesar do “animal care” embutido no nome (cuidado animal), o abrigo de Baldwin Park (uma cidade no condado de Los Angeles, na Califórnia, costa oeste dos EUA) é uma entidade autorizada a abater animais perdidos ou abandonados, não reclamados em até 72 horas.
As leis da Califórnia, semelhantes às da maioria dos estados americanos, trata a questão dos animais de estimação abandonado basicamente como um problema de saúde pública e, uma vez que cães e gato vadios são vetores eventuais de zoonoses (doenças transmissíveis também para humanos), o abate em poucas horas é permitido e amplamente praticado.
No corredor da morte
Abandonada pelos tutores, cega e com uma série de problemas relacionados à idade avançada, Muñeca não estava entendendo quase nada do que estava acontecendo, mas sabia que precisava de ajuda urgente. Logo ao entrar no Baldwin Park Center, ela sentiu uma possibilidade de auxílio quando cruzou o caminho da voluntária Elaine Seamans.
Seamans, na mente de Muñeca, parecia ser uma tábua de salvação. Talvez a cachorra idosa e cega tenha visto um pouco de bondade na voluntária, em um ambiente francamente hostil – quem trabalha com eutanásia desenvolve mecanismos para não se envolver emocionalmente.
John Hwang, um ativista dos direitos animais, chegou ao abrigo da cidade quando Muñeca já estava agarrada a Elaine. Mais tarde, ele disse ao The Dodo, site especializado em histórias sobre pets:
“Quando cheguei ao abrigo, Elaine já estava segurando Muñeca e a cachorra estava se agarrando a ela. As duas estavam no corredor da morte do local.”
Hwang conseguiu registrar em fotos o encontro emocionante de Muñeca e Elaine, que mais tarde foi exibido nas redes sociais, com um relato comovente sobre a história da dachshund idosa.
Quem adota um cão precisa ter sempre em mente que este é um compromisso de longo prazo, que não pode ser rompido quando a vida sofre mudanças radicais. Os dachshunds são ainda mais longevos: vivem em média 15 anos, mas muitos destes cães ultrapassam os 20 anos de idade.
Mais uma reviravolta
Provavelmente, Muñeca conheceu o carinho e o afeto dos tutores durante longos anos – para ela, o universo se resumia a alguns humanos confiáveis, uma casinha confortável, abrigo, agasalho, comida, brincadeiras e passeios.
Repentinamente, tudo mudou e ela foi encaminhada para a fila da eutanásia em uma cidade na região metropolitana de Los Angeles. Mas a história da dachshund iria sofrer mais uma guinada – desta vez, para garantir um final feliz.
O abraço de Elaine poderia ter sido um último conforto antes da injeção letal, mas as fotos de Hwang viralizaram nas redes sociais e atraíram a atenção de amantes de cães e de entidades voltadas à proteção e ao bem-estar dos pets. Uma delas foi a Fundação Frosted Faces (“faces nevadas”, uma referência aos pelos brancos no rosto dos cães idosos), cujos voluntários imediatamente se mobilizaram para mudar o curso da história de Muñeca.
A fundação está sediada em Ramona, no Condado de San Diego, pouco mais de 160 km ao sul de Los Angeles. Graças a viralização das fotos de Hwang e a pressão exercida por milhares de internautas, em apenas dois dias. Um voluntário da Frosted Faces obteve autorização para retirar Muñeca de Baldwin Park.
Retirada do corredor da morte, Muñeca foi abrigada nas instalações da Frosted Face, que mantém um canil amplo e equipado para receber cães seniores abandonados. A vida parecia ter sorrido para a dachshund, oferecendo um final feliz. Mas algo mais estava por vir.
Uma nova família
A questão dos cães e gatos abandonados esbarra em uma questão delicada, que é o pequeno número de candidatos à adoção. Os voluntários dos abrigos e santuários se desdobram para dar conta das mais diversas atividades, enquanto aguardam o interesse de novas famílias.
Os adotantes quase sempre dão preferência aos filhotes, aos cães de pequeno porte, às fêmeas e, nos EUA, aos cães de pelagem clara, com a condicional de que sejam saudáveis. Idosos, doentes, deficientes, assim como os pertencentes a “raças violentas” ficam sempre no final da fila de adoção.
Muñeca, apesar de saudável para a idade, é uma cachorra idosa e portadora de deficiência visual. O fato de ter sido abrigada em um canil de longa permanência, depois de quase ter sido sacrificada, já parecia um milagre digno de muitas comemorações.
Mas uma amante de cães visitou a Frosted Faces, conheceu Muñeca e apaixonou-se imediatamente pela dachshund. Foi amor à primeira vista. A equipe da Fundação Kelly Smisek, responsável pela adoção dos cães recolhidos, conferiu a documentação e fez o levantamento dos dados da adotante.
Amy Gann, uma enfermeira que mora em Los Angeles com a família – que também inclui alguns cães e gatos, foi autorizada a levar Muñeca para casa. Dias depois da adoção, Gann enviou uma mensagem de texto agradecendo ao abrigo:
“Não consigo ficar sem ela. Tenho uma família muito unida e amorosa: todos nós a tratamos com muito amor, como o novo bebé da família.”
Muñeca, que foi abandonada, entregue a um abrigo para receber a eutanásia e transferida para um santuário de cães idosos, conseguiu encontrar uma família responsável e amorosa, para dividir o poucos dia ou meses que ainda lhe restam no planeta.
A dachshund não pode mais acompanhar o pôr-do-sol nas praias da Califórnia, mas certamente consegue sentir o calor e o afeto de uma família. O amor está ao redor de Muñeca por todos os últimos dias da sua vida, e ela retribui com lealdade e amizade a todos.