Uma cachorra vira-lata adotou um macaco-prego na Colômbia e a dupla se tornou inseparável.
Luna e Beto vivem nas ruas de Cartagena, cidade do Caribe colombiano. Eles são de espécies diferentes: ela é uma cachorra SRD e ele, um macaco-prego-de-cara-branca. Em comum, os dois animais partilham o abandono e o abuso.
Os macacos-prego têm a má sorte de serem muito inteligentes e extremamente sociáveis – alguns deles são treinados como animais de terapia. Eles vivem na América Central e no extremo norte da América do Sul. Com o avanço da destruição da floresta, um número cada vez maior de indivíduos pode ser visto nas ruas das grandes cidades.
Os cães de rua têm a vida que todos conhecem: perambulam o dia todo em busca de alimento, abrigo e agasalho, tentando evitar os perigos das cidades. Com poucos recursos, os centros de resgate têm atuação tímida na recuperação desses peludos.
Luna e Beto
De acordo com moradores da zona sul de Cartagena, a dupla de animais tão diferentes se tornou inseparável. O macaco-prego está sempre agarrado ao pelo da mãe adotiva e chega a cavalgar no dorso, como se estivesse montado em um cavalo.
Luna, ainda de acordo com depoimentos de moradores locais, tinha acabado de parir uma ninhada, mas ninguém sabe dizer o que aconteceu com os filhotes. O certo é que a cachorra ficou muito ansiosa e sensibilizada com a perda.
As opiniões dos colombianos estão divididas: alguns acham que a dupla deve ser separada e o macaco-prego, devolvido ao seu habitat. A maioria, no entanto, considera que seria uma grande maldade separar “mãe e filho”.
Seja como for, Beto teve sorte de encontrar a mãe adotiva. Os animais de espécie chegam a pesar até 4 kg, mas este macaco-prego parece estar abaixo do peso. Já Luna parece encontrar conforto na companhia do novo amigo, uma vez que não se sabe o paradeiro dos filhotes.
Os dois animais formaram um vinculo forte. Como é comum entre os cães, Luna sabe que precisa proteger o macaquinho – o instinto de guarda e defesa é muito forte entre os cachorros.
A dupla chama a atenção de todos os que passam pela praça em que os dois peludos fixaram residência. O macaco-prego se aproxima dos humanos que os observam e chega a aceitar alimentos nas mãos, mas a cachorra parece ser mais tímida e medrosa.
Provavelmente, Beto é mais uma vítima dos traficantes de animais que caçam em todos os países cobertos pela floresta Amazônica. Entre os macacos-prego, os de-cara-branca são os mais populares em muitos países: nos EUA, um filhote chega a ser vendido por US$ 1.500 (pouco menos de R$ 8.500, pela cotação atual).
Em geral, os animais silvestres avançam sobre ambientes urbanos, mas são cautelosos e sempre voltam às florestas ou montanhas. Além disso, os macacos tendem a observar a movimentação e a só invadir casas e lojas em horários de menor circulação.
Mas Beto parece estar ambientado, ele cresceu na praça e acha que ali é a sua casa. Ele tem uma forte guardiã. Luna demonstra estar disposta a proteger o “filhote” a qualquer custo, mas ela tampouco tem recursos para garantir a satisfação de todas as necessidades.
O resgate
A população de Cartagena acionou a Polícia Ambiental e Ecológica, órgão responsável pela proteção do meio ambiente no país. Os dois animais foram finalmente resgatados, mas, para surpresa dos oficiais, eles não quiseram se separar.
Luna e Beto viveram juntos durante 18 meses, até que foram resgatados. No momento da separação, no entanto, o macaco-prego reagiu com gritos agudos e pequenas mordidas: ele estava decidido a não se separar da mãe adotiva.
Os dois animais finalmente foram separados, para avaliação veterinária. Pouco depois, Beto avistou Luna e correu em direção à cachorra, voltando a se agarrar nos pelos. Eles permaneceram quietos e imóveis durante um longo tempo.
Os animais foram entregues à Corporación Autónoma Regional del Canal del Dique (Cardique), órgão de conservação dos recursos naturais colombianos.
A dupla foi encaminhada a um abrigo da Cardique, para receber os cuidados necessários. Por enquanto, eles foram mantidos juntos, até que os especialistas pudessem observar o comportamento do macaco-prego. Esperava-se que ele pudesse ser devolvido à floresta, mas tudo iria depender da sua capacidade de adaptação.
Enrique Zerda, especialista em comportamento animal da Universidade Nacional, foi chamado a opinar sobre o caso. O acadêmico afirmou que o macaco-prego desenvolveu a chamada “impressão de identificação”: a única referência que ele tem é a cachorra, ela é a figura materna, que transmite apoio e proteção.
Em uma área especial da Cardique, Beto e Luna estão sendo mantidos juntos. Os dois estão muito felizes, apesar da contradição: o macaco-prego não reúne condições para conviver na floresta com outros da espécie, enquanto Luna não tem uma família. Esperemos que o amor desta dupla seja eterno.