É comum ouvir dizer que o grande defeito dos cachorros é que eles vivem muito pouco – entre 12 e 15 anos, um pouco mais, um pouco menos. A família de Bobi, no entanto, não tem do que se queixar: com 31 anos, ele é oficialmente o cachorro mais velho do mundo, certificado pelo Livro Guinness dos Recordes.
Bobi nasceu em Conqueiros, uma vila de Leiria, situada na história Beira Litoral, uma província da região central de Portugal. Este senhor de idade não é apenas o cachorro mais velho ainda vivo, como superou um recorde antigo.
Ele superou o recorde de Bluey, um cão boiadeiro australiano que viveu por 29 anos, cinco meses e sete dias em uma fazenda na Província de Victoria Austrália). Bluey morreu em 1939.
Muitas pessoas dizem conhecer cachorros tão longevos quanto Bobi, apesar de serem pouquíssimos os peludos que atingem os 25 anos. Mas, para ser oficializado no Livro dos Recordes, é preciso que haja provas, como carteiras de vacinação ou registros de consultas médicas. No caso de Bobi, o Guinness também usou fotos que retratam o peludo desde 1992.
A história de Bobi, o cachorro mais velho do mundo
Por ironia do destino, o cachorro mais velho do mundo quase foi sacrificado quando ainda era filhote. Bobi nasceu em uma ninhada de quatro machos, mas o tutor de Gina, a cadela, considerando o grande número de cães na propriedade, decidiu enterrar os cães, uma prática relativamente frequente em Portugal no final do século passado.
A ninhada estava com Gina, em um galpão ao lado da casa da família que era usado como depósito de madeira. Quando o casal Costa recolheu os filhotes, não percebeu que um deles tinha se ocultado entre as tábuas.
Foi isso que salvou Bobi do extermínio. O cachorro, um rafeiro do Alentejo, teve a sorte de contar com um aliado: Leonel, filho do casal Costa, ainda uma criança em 1992. Leonel e os irmãos esconderam o cachorrinho por duas semanas; quando os pais finalmente descobriram, Bobi já estava crescidinho e, assim, foi incorporado à família.
A raça a que Bobi pertence não é conhecida pela longevidade. A expectativa de rafeiro do Alentejo, também conhecido como mastim português, fica entre 10 e 12 anos. Trata-se de um cachorro molossoide, de porte gigante (os machos chegam a atingir 74 cm de altura).
Os cães de grande porte em geral vivem bem menos do que os pequenos. O motivo é que eles se desenvolvem muito rapidamente e isto aumenta a quantidade de radicais livres (fatores determinantes do envelhecimento) ainda antes que completem um ano de idade.
Bobi, desta maneira, é uma tremenda exceção. De acordo com o tutor, ele sempre foi muito sociável, talvez por ter crescido entre muitos outros animais e nunca ter sido acorrentado nem isolado. O cachorrão sempre gostou de passear pelas fazendas e bosques das vizinhanças.
Naturalmente, a idade pesou também para Bobi. As aventuras pelas redondezas estão ficando cada vez menos frequentes e a visão do cachorro está muito debilitada. Em 2018, ele assustou a família: desmaiou repentinamente, por causa de uma falha respiratória, foi levado às pressas para o hospital veterinário, mas conseguiu sobreviver sem sequelas.
Desde então, os vizinhos recebem cada vez menos visitas de Bobi, que passa a maior parte do tempo no quintal, com os outros animais da fazenda, atualmente administrada por Leonel Costa.
O recorde de longevidade foi concedido a Bob, pelo Livro Guinness dos Recordes, no dia 10/01/23. Oficialmente, ele é o cão mais velho ainda vivo e também o mais longevo de toda a história registrada. O recorde anterior, de Bluey, foi mantido por mais de 80 anos.
A certificação foi possível porque, em 1992, pouco depois de nascer, o rafeiro do Alentejo foi inscrito no Serviço Médico Veterinário de Leiria: no registro, consta 11.05.1992 como a data de nascimento. A idade foi atestada pelo Sistema de Informação de Animais de Companhia, um serviço administrado pelo Sindicato Nacional dos Médicos Veterinários, autorizado pelo governo português.
Leonel, o tutor, atribui a longevidade de Bobi ao ambiente calmo e pacífico em que ele sempre viveu e abre uma polêmica ao afirmar que outro fator importante é que o cachorro nunca comeu ração, apenas alimentos produzidos para consumo humano.
Aniversário do Bobi
Em 13 de maio, um sábado, a família Costa se reuniu para comemorar o 31º aniversário de Bob. Leonel Costa reuniu os amigos para celebrar a longa vida do rafeiro do Alentejo mais famoso do mundo – o tutor tem apenas 38 anos.
O aniversário ocorreu alguns dias antes (11.05.23). o sábado foi escolhido porque alguns veterinários (portugueses e de outros países) fizeram questão de abraçar Bobi, mas não poderiam ir a Leiria no meio da semana.
O registro da festa foi feito inicialmente pelo Diário de Notícias, um periódico importante na região de Leiria, mas correu mundo e tornou-se notícia nos principais sites e jornais impressos, radiofônicos e televisivos. Bobi também se tornou atração nas redes sociais.
O tutor relembrou a história de Bobi desde que o viu pela primeira vez – e ficou apaixonado pela pelagem ruiva do filhote. Leonel contou como tratou de esconder o cachorro assim que percebeu que ele tinha escapado do extermínio.
A ação de Leonel, à época com sete anos, lhe valeu advertências e castigos, mas o tutor conta que “tudo valeu a pena”. Estimulado pela equipe do Guinness, ele resolveu fazer a festa de aniversário na própria fazenda, porque “foi aqui que Bobi sempre viveu e queríamos que a celebração fosse no seu espaço”.
Mais de cem convidados prestigiaram a festa, que teve como cenário o antigo depósito de madeira onde Bobi nasceu há longínquos 31 anos. A festa, que recebeu o patrocínio do Guinness, teve que organizar uma lista de espera, porque curiosos de diversas partes do mundo querem visitar Bobi, o cachorro mais velho do mundo. A agenda do peludo está completa até pelo menos o mês de julho.
Bob provavelmente está curtindo os seus últimos dias entre nós. Ele foi diagnosticado com síndrome de Cushing (hiperadrenocorticismo), doença causada pelo aumento excessivo da produção de cortisol, um dos hormônios produzidos pelas glândulas suprarrenais.
Existem tratamentos para controlar a síndrome de Cushing, mas a idade de Bobi faz toda a diferença na hora de definir as terapias. Ele está recebendo medicações, mas o tutor não pretende aceitar nenhum método mais invasivo, que cause dor ou desconforto.
Bobi já deu a sua contribuição – para Leiria e para o mundo. Depois de 31 anos, esta estrelinha deve estar com saudade do céu. Mas, enquanto o cachorro mais velho do mundo continua entre nós, esperamos que ele se divirta, brinque, ame a família incondicionalmente e receba todo o respeito devido aos idosos – cães, humanos e todos os demais.