Os tutores podem obter vários benefícios dormindo com os cachorros. Confira prós e contras.
Esta é uma dúvida muito frequente: pode-se dormir com o cachorro? Pode-se deixá-lo subir na cama (no sofá e em qualquer outro móvel) sem prejudicar a obediência e a hierarquia doméstica? Para alívio de muitos tutores, há vários benefícios em partilhar o leito com os peludos.
Tomados alguns cuidados básicos – como observar regras de higiene, avaliar possíveis problemas de alergias e avaliar o impacto na conduta geral dos peludos – os tutores que não gostam de se separar dos melhores amigos podem levá-los para cama e obter algumas vantagens.
01. Segurança
Para entender melhor como os cachorros estão relacionados à sensação de segurança, é preciso lembrar alguns arquétipos. Os peludos convivem conosco há milênios e sempre participaram de atividades para garantir a nossa integridade e bem-estar.
Com o passar do tempo, nós passamos a encarar os cachorros como agentes da estabilidade e tranquilidade. Por outro lado, o quarto de dormir está associado ao lugar mais seguro da nossa caverna ancestral.
É nesta caverna que gradualmente nós começamos a garantir segurança, estabilidade (era um lugar de onde sair e para onde voltar), aconchego, equilíbrio. E o cachorro estava lá, ao nosso lado, tanto para nos acompanhar nas caçadas, aumentando as chances de êxito dessas incursões, quanto para ficar ao lado, transmitindo calor e abrigo.
No íntimo, nós continuamos retornando para a caverna todos os dias, depois das muitas batalhas travadas cotidianamente. Um fiel escudeiro está lá, nos esperando com paciência, lealdade, diversão e novidades.
Dormir com o cachorro evoca todas estas sensações primordiais. É evidente que não precisamos de armas nem de segurança ostensiva, mas a simples presença do peludo informa que estamos seguros, que podemos seguir em frente.
Além de tudo isso, os cachorros realmente representam um tipo de defesa para nós. Mesmo os animais de pequeno porte são extremamente alertas e sempre alertam quando as coisas estão “fora da ordem”. Eles representam efetivamente uma forma eficaz de proteção e guarda.
02. Relaxamento e conforto
A presença de um cachorro ao nosso lado é sinônimo de segurança e bem-estar. Um dos principais motivos que levaram ao estabelecimento da parceria entre caninos e humanos foi justamente a proteção – inicialmente, dos acampamentos dos nossos ancestrais.
Os cães nos ajudavam nas atividades de caça e também nos defendiam de invasores, predadores e até de forasteiros. A parceria surgiu em plena Era Glacial, quando ninguém podia se dar ao luxo de deixar uma presa escapar, nem de permitir a aproximação de ameaças.
Além disso, os cachorros são peludos e fofos. Mesmo os cães de grande porte podem ser fontes de aconchego e conforto (inclusive térmico). Entre os samoiedas, um grupo humano nômade que vive na Sibéria (norte da Rússia), os cachorros dos clãs eram usados para aquecer os bebês.
Os peludos, que acabaram recebendo o nome das tribos, ficavam com os bebês e crianças pequenas, oferecendo segurança, conforto e tranquilidade – inclusive para os pais, que não precisavam se preocupar demais com as próprias crias.
Atualmente, dormir com o cachorro na cama evoca todas as sensações positivas dessa época distante. A proximidade confere segurança, calor e facilita o relaxamento físico, que é essencial para uma boa noite de sono.
A respiração ritmada dos cães também favorece o sono. Os cachorros (e os gatos também) passam com extrema facilidade da vigília ao descanso e conseguem adormecer em poucos minutos. Os parceiros de cama são indicados inclusive para atenuar crises de insônia.
03. Estresse e ansiedade
Exatamente por induzir ao relaxamento, dormir com o cachorro é um método indicado para reduzir o estresse e a ansiedade que caracterizam o comportamento de muitos tutores. A proximidade favorece a regularização do ritmo cardiorrespiratório e propicia um repouso mais completo.
Estresse e ansiedade não são necessariamente ruins: o estresse é apenas a resposta às diversas pressões que sofremos no dia a dia, enquanto a ansiedade é a sensação natural decorrente da antecipação que fazemos sobre o futuro próximo.
Mas as duas condições, quando exacerbadas, podem ser bastante prejudiciais inclusive para a saúde física. Nestes casos, a presença muito próxima dos cães amplia, de forma inconsciente, a sensação de bem-estar.
Na imensa maioria dos casos, os cachorros se comportam sempre de maneira positiva e alegre. O sono facilmente interrompido ao menor sinal de alterações no ambiente, mas rapidamente retomado, é um indicativo, para as pessoas ansiosas e estressadas, de que está tudo bem, as situações se desenrolam em um ritmo natural.
04. Depressão
A presença dos cães é sempre benéfica. Os peludos despertam sensações de pertencimento, regularidade e harmonia, além de serem quase sinônimos de confiança e lealdade. Pessoas portadoras de transtornos da depressão podem ser beneficiadas com a presença deles – inclusive na cama.
Quem sofre de depressão pode ter dificuldades funcionais em diferentes graus, do moderado ao incapacitante. Alguns deprimidos não conseguem desenvolver tarefas cotidianas, como fazer compras e trabalhar e chegam até a evitar sair de casa.
A companhia do cachorro e todas as necessidades que a convivência acarreta – alimentar, passear, brincar, etc. – são fortes aliados no combate à depressão.
A conexão com outros seres é muito benéfica para quem sofre com este e outros transtornos mentais. Nos momentos mais difíceis, os cachorros não julgam, nem tentam encontrar métodos e tratamentos infalíveis. Eles apenas permanecem ao lado e esta sensação de proximidade alivia os sintomas de forma bastante sensível.
Uma pesquisa reveladora
Um estudo de 2021, da Universidade de Toledo (Ohio, EUA), demonstrou que a adoção de cães melhora significativamente a qualidade de vida dos deprimidos. Os peludos reduzem sensivelmente os sentimentos de isolamento e melancolia, além de exigir atenção, cuidado e carinho.
Eles se tornam objetos de cuidado e passam a motivar os tutores. Em apenas um ano de convivência, os sintomas dos voluntários no estudo de Toledo se reduziram sensivelmente e foram mais profundos e consistentes entre os tutores que dormiam com os peludos.
Os cachorros empregados no estudo são animais de rua e os pacientes, pessoas de baixa renda, que moram sozinhos e com diagnóstico de depressão e/ou síndrome do pânico.
Análises de laboratório revelaram que a presença dos peludos garantiu um aumento da produção de ocitocina (hormônio relacionado ao bem-estar nas interações sociais) e redução do cortisol (associado a situações de estresse).
Os participantes foram avaliados antes da adoção e, em seguida, de três em três meses, durante um ano. Manter um cão – desde os cuidados com alimentação e higiene, passando pelas brincadeiras e adestramento, até os momentos de maior intimidade – revelou-se eficaz inclusive para reduzir a alfa-amilase na saliva, uma enzima associada a situações que provocam altos níveis de estresse.
Os cachorros não sabem que se tornam “terapeutas” de seus tutores. Eles apenas amam de forma incondicional, preocupam-se com os amigos e servem de alerta para qualquer sinal, positivo ou não, de alterações na rotina.
05. Faz bem para o cachorro
Depois de falarmos sobre tantos benefícios para nós, é importante considerar que partilhar a cama com o cachorro é positivo também para ele. Os nossos peludos tendem a nos encarar como os líderes, os “alfa” da matilha.
Desta maneira, eles percebem intuitivamente que o local mais seguro e confortável da “caverna” é justamente aquele escolhido pelo chefe para o descanso. Ser admitido na cama representa uma posição de destaque para os cães.
Os cachorros (e os gatos também!) gostam da nossa companhia. Assim como nós, eles são seres gregários, isto é, vivem em bandos. O “bando” dos nossos peludos é justamente a família humana, mesmo que ela seja constituída apenas pelo tutor.
Os cuidados ao dormir com o cachorro
Relacionados os principais motivos para dormir com o cachorro, os tutores precisam estar atentos a algumas regras básicas de convivência. A primeira diz respeito ao porte do animal, já que, em muitos casos, ele não cabe na cama.
Outro problema a ser resolvido é a higiene. Ao voltar das caminhadas diárias, o cachorro deve ter as patas limpas, para evitar que a sujeira da rua se deposite nos móveis. Além disso, é preciso escovar a pelagem (e tosar, quando necessário), dar banhos regularmente e não se descuidar da higiene bucal, já que fica difícil partilhar o leito com alguém que exala um hálito ruim.
Algumas pessoas têm alergias – e as reações podem ser violentas. Quem tem alergia a pelos deve evitar o contato com cães e gatos, mas é preciso lembrar que algumas raças são consideradas hipoalergênicas: yorkshire terriers, dachshunds, schnauzers, poodles, malteses, shih tzus e whippets estão entre os cães que soltam poucos pelos.
Os tutores precisam ainda considerar que a convivência pode ser benéfica para a superação de alguns sintomas. Para as crianças, por exemplo, a presença de cães em casa reduz os efeitos de bronquites e algumas reações alérgicas. Antes da adoção, no entanto, é preciso conversar com o médico sobre o assunto.
Não se pode esquecer também que o cachorro, para dormir com o tutor, precisa estar saudável (o inverso também é válido, já que algumas doenças são transmissíveis de cães para humanos e vice-versa), com as vacinas e a vermifugação em dia.
É importante também que o cachorro já tenha aprendido pelo menos os comandos básicos e não seja do tipo independente ou teimoso, para não transformar o repouso noturno em um verdadeiro cabo-de-guerra. Assim que o peludo entende quem manda e quem obedece, não há grandes problemas em permitir que ele suba na cama.