Todo tutor quer o melhor para os seus melhores amigos, mas mesmo assim algumas atitudes podem ferir o sentimentos dos cachorros. Sem perceber, muitas vezes adotamos algumas atitudes que contrariam os cachorros e podem até mesmo prejudicar a saúde, potencializando quadros de ansiedade, depressão e estresse.
Cachorros têm sentimentos?
A ciência já demonstrou que os cachorros são capazes de vivenciar e expressar algumas emoções e sensações básicas. Os peludos sentem medo, raiva, alegria e tristeza, por exemplo, assim como nós e praticamente todos os animais superiores – de peixes a mamíferos.
Fizemos um levantamento em publicações especializadas no comportamento dos cachorros e descobrimos que muitas situações cotidianas os afetam negativamente, além das apresentadas na rede social. Confira a seguir o que pode ferir os sentimentos dos peludos com quem dividimos a casa e a vida.
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1) Apressar os cachorros nas caminhadas diárias
As caminhadas diárias são fundamentais não apenas para o desenvolvimento e bem-estar físico dos cachorros, mas também para o adestramento e a socialização dos peludos com pessoas desconhecidas e outros pets.
O momento do passeio é especial. É um tempinho reservado para a dupla e ajuda a fortalecer os vínculos entre os cachorros e os tutores. Também contribui para reduzir quadros de ansiedade e reduz características como dominância e territorialidade.
Muitos tutores, no entanto, esquecem que a caminhada pode ser, para o cachorro, o melhor momento do dia. É durante o passeio que eles podem explorar novos ambientes (mesmo quando são exatamente os mesmos todos os dias), identificar rastros com o faro e a audição, etc.
As ruas quase nunca oferecem novidades para nós, mas são repletas de odores, ruídos e até mesmo imagens para os peludos. Quando eles se atrasam um pouquinho investigando um poste ou tronco de árvore, há motivos de sobra para isso: eles precisam saber quem passou por ali anteriormente, se era amigo ou inimigo, se estava doente ou passava bem de saúde, se eventualmente um parceiro para o acasalamento.
Ao puxar a guia e seguir em frente, nós privamos os cachorros de todas estas descobertas. Eles não conseguem entender por que precisam continuar caminhando, quando há tanta coisa a ser explorada, e ficam frustrados com a atitude do tutor. Os sentimentos gerados são uma mistura de raiva e frustração.
Isto não significa que os cachorros devam conduzir o passeio. É o tutor quem traça o roteiro, determina o ritmo, a cadência e a velocidade, etc. Os peludos querem apenas alguns instantes para avaliar o território. Não custa perder alguns minutos para satisfazê-los.
2) Forçar os cachorros a enfrentar situações desconfortáveis
Uma situação bastante frequente é expor os cachorros ao ar livre quando um temporal está se aproximando. Muitas vezes, os tutores fazem isso apenas para mostrar que não existe motivo para medo e preocupação, mas, na mente canina, trovões e relâmpagos quase sempre anunciam tragédias.
É preciso raciocinar como um animal selvagem. Tempestades e ventanias não são boas ocasiões para ficar ao ar livre. Os cachorros não conhecem os mecanismos dos para-raios e, desta forma, imaginam estar correndo riscos iminentes. Há motivo de sobra para ficar com medo.
A dessensibilização é uma técnica psicológica que consiste em expor alguém a um medo sem motivo (geralmente, é usada no tratamento de fobias). Mas esta exposição ocorre em um ambiente controlado e o terapeuta informa todos os detalhes do experimento.
Não é isso que ocorre quando se deixa um cachorro no quintal, ao sabor da chuva e do vento, mesmo que seja apenas por alguns segundos, para se divertir com a expressão apavorada do peludo. Eles experimentam pavores reais, muito bem justificados. A situação gera medo e raiva.
3) Ignorar os sinais de dor e desconforto
De modo geral, todos os cachorros são muito resistentes e, quando apresentam sintomas de dor, por trauma ou doença, a situação é bastante séria. Este é mais um motivo para que os sinais não sejam ignorados pelos tutores.
Os cachorros doentes ou feridos costumam apresentar sinais difusos: desinteresse, apatia, cansaço em motivo aparente, etc. Naturalmente, ninguém ignora engasgos, náuseas, vômitos e diarreias, mas os sintomas leves muitas vezes passam despercebidos.
Outros sinais também indicam que alguma coisa está errada, provocando dor, incômodo ou desconforto. Coçar-se excessivamente, lamber as patas de forma compulsiva e até mesmo correr atrás do próprio rabo podem indicar que o cachorro precisa de ajuda.
Os cachorros acreditam que os tutores são os provedores de todas as necessidades, carências e desejos. Quando eles exibem alguns sinais característicos, estão tentando “falar” que não estão se sentindo bem. Quando são ignorados, aumentam os motivos para a irritação e a insatisfação.
4) Não dar atenção suficiente
O dia a dia é sempre corrido e o tempo para se dedicar aos pets é sempre curto. Mas a opção pela adoção de um cachorro é nossa e, por isso, não podemos negligenciar as necessidades cotidianas dos peludos.
Eles precisam apenas de alguns poucos instantes a cada dia. Quando os tutores chegam em casa, não custa muito esquecer o estresse cotidiano para brincar e oferecer alguns afagos. Eles também querem contar o que fizeram enquanto estavam sozinhos.
Naturalmente, quem dita as regras da casa são os tutores. Desta maneira, se os cachorros ficam muito aflitos e ansiosos nos reencontros, o melhor a fazer é ignorá-los por alguns instantes até verificar a correspondência, guardar as compras trazidas da rua ou trocar de roupa.
Mas não dar atenção é uma negligência cumulativa. Os cachorros são animais gregários: eles vivem em grupos. Quando são mantidos isolados ou não recebem atenção, eles podem até mesmo assumir um comportamento distante e autônomo, mas este é mais um sinal de que eles estão tristes, longe do equilíbrio emocional e físico.
5) Usar métodos inadequados de adestramento
Ainda existem tutores acreditando que pequenos castigos físicos e verbais são úteis para ensinar os cachorros: um tapinha quando ele tenta subir no sofá, um empurrão quando ele quer entrar em um cômodo proibido, esfregar o focinho no chão quando o filhote deixa escapar um pouco de xixi no tapete, etc.
Em todos esses casos, os cachorros não aprendem o que se espera deles. Eles apenas evitam algumas atitudes para escapar dos maus tratos, mesmo que sejam gritos, sem chegar a tapas e empurrões (ou coisa pior).
Quando se grita muito para um cachorro aprender a fazer as necessidades no quintal, por exemplo, o peludo pode entender que o erro está no xixi ou no cocô, e não no local: a cozinha suja ou o tapete arruinado.
Em muitos casos, cachorros ansiosos desenvolvem a coprofagia: o hábito de comer fezes. Eles fazem isso como estratégia para “ocultar as provas do crime”, mesmo sem compreender o que está errado. 0 comportamento quase nunca prejudica a saúde física, a menos que o cachorro passe a comer as fezes de outro animal, que possam estar contaminadas com vírus, fungos e bactérias.
O ideal é adotar o reforço positivo no adestramento dos cachorros, tanto para que eles se familiarizem com a rotina da casa, quanto para que aprendam truques complexos. O método é eficaz para ensinar desde o “sim” e o “não” até o percurso elaborado de uma prova de agility. O melhor de tudo é que são eliminados os riscos de acidentes e de o cachorro desenvolver ansiedade e outros transtornos.
6) Deixar os cachorros sozinhos por muito tempo
Quem decide adotar um cachorro não pode esperar até a aposentadoria para conviver com um amigo incondicional. É possível adaptar a nossa rotina às necessidades e desejos dos peludos. Os cachorros podem passar algumas horas sozinhos (algumas raças lidam melhor com a solidão).
O importante é que eles recebam a atenção necessária no retorno dos tutores, que também precisam enriquecer o ambiente para que eles não se sintam sozinhos e abandonados. Para amenizar a situação, os tutores podem providenciar alguns brinquedos para que eles se entretenham.
Deixar uma janela entreaberta para que os cachorros possam supervisionar o movimento é outra opção simples. É igualmente possível programar a TV para ser ligada durante alguns minutos do dia, proporcionando algum barulho no ambiente.
Os brinquedos devem ser trocados periodicamente. Não é necessário comprar novos objetos toda semana: basta organizar um rodízio e apresentar os itens a cada dez dias, por exemplo. A cada nova interação eles ganharão aspectos de novidade.
Para os cães mais ansiosos, os tutores podem deixar uma peça de roupa sobre um móvel no local em que o pet fica confinado durante o dia. Não é preciso que seja usada, porque o faro canino é prodigioso e consegue captar cheiros mesmo depois que as peças foram lavadas e perfumadas.
Vale lembrar que cachorros deixados sozinhos se sentem abandonados, não importa o tempo em que fiquem sem companhia. Mais importante: cachorros entediados desenvolvem maus hábitos com facilidade: eles passam a destruir objetos (almofadas, tapetes, pés de móveis, etc.) e alguns até começam a se automutilar, atacando patas, rabo, orelhas, etc.
7) Não fornecer estímulos mentais e físicos
Os estímulos mentais e físicos devem estar presentes em todos os momentos, e não apenas naqueles em que os cachorros são deixados sozinhos. Além das caminhadas diárias, é dever dos tutores organizar sessões de adestramento e de brincadeiras, inclusive para fortalecer a convivência e o relacionamento.
Os cachorros conhecem e reconhecem o mundo principalmente através da audição e do faro, sentidos muito mais apurados nos caninos do que em nós. Por isso, é importante que eles tenham momentos para farejar e perseguir presas imaginárias, para manter o equilíbrio integral do corpo e da mente.
Os tutores podem estimular os peludos com novos brinquedos, com passeios a locais desconhecidos. Alguns cães adoram brincar com água: poodles e golden retrievers, por exemplo, adoram mergulhar e nadar.
Mas não é preciso ter uma piscina em casa: um vaporizador com água espirrada no focinho garante a mesma diversão, além de estimular o cachorro a beber água (e hidratar o corpo).
Uma garrafa pet cheia de petiscos também garante bons momentos de diversão e estímulos. O cachorro precisa encontrar uma forma de abrir a garrafa. Isso consome um tempinho precioso e oferece uma excelente recompensa ao final da atividade.
8) Ignorar a linguagem corporal dos cachorros
Quase todos sabem o que significam orelhas para trás, dentes à mostra e músculos tensionados: o cachorro está com medo ou raiva (talvez os dois) e indica estar pronto para o ataque. Outras maneiras de expressão corporal, no entanto, quase sempre são ignoradas.
Os latidos também são formas de comunicação: uivos são direcionados geralmente para “falar” com outros cães da vizinhança (eles não uivam para a lua; apenas sabem que, posicionando o focinho para cima, o alcance do som é maior). Ganidos e choramingos, naturalmente, indicam dor, mal-estar ou algum desconforto.
Quando um cachorro está ansioso ou assustado, ele mantém o tronco abaixado, o rabo baixo, as orelhas caídas, os olhos arregalados e a respiração ofegante é notada com facilidade. Este não é um bom momento para brincadeiras, mas um cafuné indicando que está tudo em ordem vem a calhar.
É importante conhecer as formas de comunicação que o cachorro usa, porque existem diferenças individuais. Alguns resmungam quando estão irritados; outros, quando estão relaxados e prontos para uma soneca. O que não se pode fazer é ignorar a linguagem corporal – e o tutor é o melhor intérprete deste idioma.
9) Negligenciar a saúde
Muita gente que gosta de cachorros compra brinquedos, roupas e acessórios sem reclamar, mas costuma ser um pouco avarenta quando se trata de despesas com a saúde. Outros criam regras aleatórias, como “Meu cachorro não sai na rua, não precisa tomar vacinas”.
A regra é inadequada por dois motivos básicos: primeiro, porque cachorros precisam sair na rua. Em segundo lugar, diversas doenças são transmitidas por vírus lançados no ar e, desta forma, todos os cachorros estão expostos.
Antes de adotar um cachorro, é importante planejar as novas despesas. Um peludo onera o orçamento doméstico com rações, petiscos, artigos de higiene, roupas e acessórios, brinquedos e despesas médicas: consultas, exames, vacinas, suplementos e medicamentos.
Se as receitas não são suficientes, é melhor deixar para receber o peludo em casa em outro momento. Vale lembrar, no entanto, que existem planos de saúde para pets bastante acessíveis e algumas cidades brasileiras são equipadas com hospitais veterinários gratuitos.
Como já foi dito, os cachorros são muito resistentes e quando demonstram sintomas as doenças já podem estar avançadas. Por isso, check-ups preventivos são fundamentais para garantir a saúde, o bem-estar e a alegria dos companheiros. Alguns quadros crônicos são acompanhados por reações emocionais de tristeza, irritação e agressividade.
10) Tratar os cachorros como brinquedo
Isto geralmente acontece com os cães de pequeno porte. Os tutores insistem em tratá-los como bebês humanos, exageram nas roupas e acessórios e evitam que os peludos corram e brinquem livremente, “para não se machucarem”.
Curiosamente, os cães pequenos tiveram o porte reduzido para caçar roedores e outras pragas de hortas, jardins e até galerias de minas com mais eficiência. Imagine: um cachorro foi desenvolvido para caçar ratos em minas de carvão e, apenas um século depois da seleção dos melhores genes associados à predação e perseguição, os descendentes se tornam cães de colo.
Tratados desta maneira, os cachorros não ficam apenas frustrados e chateados. Eles podem desenvolver alguns transtornos psicológicos que determinam limitações emocionais e físicas. Mais do que isso, um cachorro saudável e ativo, impedido de brincar e explorar, se torna triste, chateado e entediado.
Cachorros não são bibelôs, enfeites nem brinquedos. Quem quer exibir uma fofurinhas no colo, com a pelagem impecavelmente escovada (sem um fio sequer fora do lugar) deve considerar a possibilidade de adotar um bicho de pelúcia. Os cachorros nasceram para se divertir.
Mudando os hábitos
Felizmente, os cachorros não guardam rancor: eles não ficam magoados por muito tempo e mesmo aqueles submetidos a maus tratos e negligência conseguem recuperar o equilíbrio emocional e a boa saúde física em pouquíssimo tempo, se forem oferecidas as condições adequadas.
Sabendo o que exatamente pode ferir os sentimentos dos cachorros, todos os tutores podem corrigir atitudes inconsistentes ou até mesmo nocivas para a qualidade de vida e o bem-estar dos pets. Com um pouco de esforço, eles voltam a se mostrar alegres e confiantes. Talvez os humanos possam aprender uma ou duas coisas com a capacidade dos peludos de superar as experiências ruins.
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Aprendi, muito, com essas recomendações. Obrigado, pois, agora cuidarei melhor do meu amigo de quatro patas.