A adoção de cachorros quase sempre é encarada como uma “boa ação”. Efetivamente, trazer um cãozinho para casa, comprometendo-se a alimentá-lo, mantê-lo seguro, cuidar da saúde, brincar e passear podem ser consideradas como boas ações. Mas a adoção é uma via de mão dupla, e por isso é tão importante.
Adotar um cachorro significa estabelecer uma parceria de longo prazo. Cachorros vivem de dez a 15 anos – ou mais – e, mesmo quando adotados já adultos, eles passarão um bom tempo com os tutores. É preciso estar munido de boa dose de sacrifício e paciência.
A paciência na adoção de cachorros
Afinal, ter um cachorro provoca algumas restrições. É necessário investir tempo (e dinheiro) para educá-lo, entretê-lo, diverti-lo, mantê-lo saudável. Às vezes, é preciso renunciar a alguns passeios, viagens, happy hours, baladas. O peludo está sempre esperando pelo tutor.
A paciência é outra característica desejada pelos que se candidatam à adoção de cachorros. Por um tempinho, o novo morador da casa fará sujeira na sala, estragará objetos – alguns de muita estimação –, latirá e atrapalhará os vizinhos (e a nós mesmos).
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Uma vez que se entende todos os pontos envolvidos na adoção de cachorros, o novo tutor pode se preparar para “o outro lado da moeda”: uma explosão de amor, afeto e fidelidade, que compensa qualquer investimento e que durará até o último suspiro, ou último latido do pet.
A adoção de um cachorro requer adaptação
Os tutores não podem ter certeza sobre o que esperar do novo membro da família. Os cachorros adotados, por seu lado, certamente não sabem para onde estão sendo levados, nem que novidades terão para explorar.
A adoção de um cachorro requer um período de experiência, de adaptação. O novo pet pode mostrar-se bagunceiro ou tímido, brincalhão ou apático, amistoso ou agressivo, medroso ou curioso. Tudo depende da história de vida que ele carrega.
Os filhotes quase sempre se apresentam curiosos, bagunceiros e desengonçados. Ao serem desmamados, eles perdem a principal referência que conheceram: a mãe. Os irmãozinhos, companheiros de brincadeiras e também muito úteis para garantir o conforto e o calor, desaparecem subitamente.
É importante receber o cachorro com afeto, mas mostrar as regras da casa logo no início. Cada família estabelece as próprias normas e não há nada de errado nisso, mas é importante que elas sejam claras e constantes: um filhote não conseguirá entender o que se espera dele se, em um dia, ele pode dormir no sofá e, no outro, nem pode brincar no tapete.
Quando se adota um cachorro já adulto, as surpresas são menores: já sabemos o porte físico, as características observadas no canil ou abrigo, as preferências. Mesmo assim, o pet precisará de tempo e espaço para se adaptar.
Um animal resgatado das ruas provavelmente se mostrará tímido, arredio, com cara de poucos amigos, até mesmo agressivo. Isto é absolutamente normal: ele pode ter sofrido maus tratos e quase com certeza passou por maus bocados: fome, frio, violência de outros cães de rua e muito estresse.
Quem encontra um cachorro abandonado e decide levá-lo para casa precisa consultar um veterinário o quanto antes. A partir da avaliação clínica, o especialista poderá determinar a idade média do pet e também identificar possíveis doenças e disfunções, como anemias e carências alimentares.
É importante atualizar a vacinação, vermifugar o cachorro e castrá-lo – ninguém quer ver mais filhotes abandonados pelas ruas. Além disso, estas providências garantem também a saúde da família: elas são uma garantia de que o novo pet não levará, na bagagem, micro-organismos e parasitas nocivos aos bípedes do grupo familiar.
Lembre-se: os passeios, que precisam ser diários, faça chuva ou faça sol – este é um dos principais compromissos assumidos pelos novos tutores – só podem ser realizados duas semanas depois da vacinação, para não expor os cachorros adotados ao risco de infecções sérias, como leptospirose, cinomose e parvovirose.
Como adotar um cachorro?
Quem mora sozinho só precisa se conscientizar das necessidades e desejos que um cachorro tem. Ele não é apenas um animal para fazer companhia nos momentos de tédio, mas um ser que deve ter as carências e vontades atendidas para se tornar um amigo fiel.
Quem divide o lar – com a família ou com amigos – precisa expor o desejo de adotar um cachorro e isto precisa ser consenso entre todos os moradores. Não faz sentido dar início a uma guerra doméstica apenas para ter um pet.
Todos os envolvidos precisam estar cientes das novas responsabilidades, que precisam ser muito bem definidas. É importante decidir quem vai levar o cachorro para passear, quem se encarregará de alimentá-lo, adestrá-lo, educá-lo, levá-lo para o veterinário.
Um cachorro representa uma despesa considerável. É preciso comprar ração, petiscos, utensílios (tigelas, roupas, etc.), brinquedos, medicamentos, vacinas, etc. (isto custa dinheiro). Além disso, os peludos só mostrarão todo o potencial de amizade de tiverem atividades para ocupar o dia, caminhadas e momentos de carinho e afeto com os tutores.
Para escolher o novo pet, deve-se refrear a tendência do “amor à primeira vista”. Cachorros resgatados em abrigos dificilmente exibem o temperamento real nas visitas: eles se acostumam a formas excessivas de submissão e podem se mostrar mais mansos e obedientes do que realmente são. Por outro lado, eles podem se revelar bem mais úteis e proativos.
Os filhotes quase sempre são “intensos”. Eles possuem uma carga de energia quase infinita – isto é necessário, porque eles estão conhecendo o mundo no momento em que entram em contato com os tutores.
Se a opção for por um filhote, verifique o comportamento e adote sempre um pet com características semelhantes às suas. Um cãozinho que decide disparar nos passeios – ou mesmo na sala de estar – pode ser cansativo demais para os sedentários.
Os cachorros grandes são ideais para casas térreas, com espaço no quintal para as atividades físicas. Eles são excelentes cães de guarda: mesmo que sejam dóceis, o porte afasta algumas ameaças à segurança doméstica.
Os pequenos são bons para viverem em apartamentos, tornam-se bons companheiros de crianças, idosos e pessoas com problemas de locomoção. Eles também representam menos despesas para o orçamento doméstico.
Vale lembrar que os cachorros de pequeno porte tendem a viver mais do que os grandões, porque estes apresentam um desenvolvimento mais rápido e, em consequência, um processo de envelhecimento igualmente mais rápido.
Por que adotar um cachorro?
Quando se fala em adoção de cachorros, quase sempre o alvo são os animais abandonados. Oferecer um lar para os cães de rua significa reduzir as chances de maus tratos, violência, acidentes, exposição a riscos e todas as doenças derivadas desta condição.
As organizações protetoras de animais resgatam os cães das ruas, oferecem os serviços básicos de saúde (castração e vermifugação, por exemplo), cuidam deles e tentam identificar tutores responsáveis para levá-los para casa.
Muitos abrigos e santuários possuem sites ou páginas nas redes sociais, onde exibem imagens e informações sobre os cachorros candidatos à adoção. Qualquer pessoa pode acessar a internet e escolher um novo companheiro. Se não for possível oferecer um novo lar, estas organizações aceitam doações de medicamentos, rações, etc.
Cães de raça
Muitas pessoas dão preferência a adotar um cachorro de raça, às vezes com pedigree, o certificado oficial da linhagem e garantia da pureza do animal. Ao escolher uma raça específica, os novos tutores sabem de antemão o porte que os pets terão quando adultos e as características gerais do temperamento.
Akitas, por exemplo, não são muito sociáveis; os pastores em geral preferem passar longas horas sozinhos – afinal, eles foram desenvolvidos para cuidar de rebanhos e ficavam longos períodos sem desfrutar da companhia humana.
Quem adota um poodle toy, um yorkshire terrier ou um teckel (o salsicha) pode imaginar estar levando um bebezinho para casa, mas os cães destas raças são ativos e demandam muito exercício: eles são caçadores (no caso dos poodles, são animais especializados em resgatar a caça).
Já os dálmatas, apesar do porte grande, são excelentes opções para passeios e companhia. Eles foram desenvolvidos como “cães de carruagem”, cuja função principal era serem bonitos, elegantes e amistosos. Quem conseguir, pode manter um dálmata no colo por longos minutos.
Cocker spaniels aparentam ser frágeis e dóceis, mas, na verdade, são voluntariosos e bastante resistentes. Como o nome diz, eles foram desenvolvidos para caçar aves (“cocks”, ou galinholas, em inglês) e estão sempre em movimento, não param um minuto sequer.
Os cães braquicefálicos são a preferência de muitos tutores. São os cachorros de focinho achatado, como shih tzus, lhasa apsos, boxers, buldogues franceses e ingleses, pugs, etc. Estes animais, em maioria, apresentam problemas respiratórios.
Com o desenvolvimento das raças, eles tiveram a cana nasal e a laringe encurtados; por isso, têm fôlego curto. O tutor não deve esperar um comportamento atlético destes cães e precisa adaptar as atividades, com passeios mais curtos, evitando subidas íngremes, etc.
Os canis
Antes de adotar um cachorro de raça, os tutores precisam certificar-se da seriedade do trabalho dos criadores. Muitos canis, em uma busca desenfreada por lucro, utilizam animais portadores de doenças genéticas (os cachorros grandes apresentam forte tendência a desenvolver transtornos osteomusculares, por exemplo; os braquicefálicos apresentam mais problemas oculares, e assim por diante).
Alguns canis, por desconhecimento ou má-fé, obrigam as cadelas a um número excessivo de ninhadas. Algumas fêmeas chegam a ter três ninhadas por ano. Considerando o tempo de gravidez e lactação, estas cadelas desconhecem o anestro, um período natural em que a produção dos hormônios sexuais é reduzida, um “descanso” para o ciclo ovulatório.
O resultado disso é uma redução drástica do tempo de vida das mães e o surgimento muito mais frequente de doenças congênitas nos filhotes (no curto ou longo prazo).
Portanto, antes de adquirir um cachorro de raça, é preciso investigar a idoneidade dos canis. Os candidatos a tutores devem conhecer pessoalmente as instalações: as condições de higiene e segurança revelam a seriedade do trabalho dos criadores.
Além disso, apesar de cada raça canina exibir características específicas, é importante conhecer os pais e avós do pet que será levado para casa. Filhotes de animais mais dóceis, tranquilos, sociáveis e amigáveis tendem a exibir este temperamento, apesar de a personalidade ser determinada também pelo ambiente e pelo relacionamento com a família humana.
A adoção dos vira-latas
Os cães mestiços ou sem raça definida (SRD), popularmente conhecidos como vira-latas, quase sempre apresentam condições melhores de saúde. Mesmo que estejam magros e desnutridos, são raros os casos de anomalias congênitas, quase sempre relacionadas a genes recessivos.
Sempre que possível, antes de adotar um cachorro resgatado das ruas, leve-o para passear pelas imediações do abrigo. Um cachorro adulto já sabe que deve acompanhar o ritmo do tutor e a caminhada pode servir para que ele revele o temperamento, com as reações frente a outras pessoas e pets, carros em trânsito, barulhos, etc.
Não se esqueça: mesmo nas ONGs mais comprometidas com o bem-estar animal, as condições de vida são sempre precárias, muito aquém do dia a dia em um lar de verdade. Os cachorros convivem com dezenas de animais e não recebem o carinho e a atenção que merecem.
No Brasil, em quase metade (44,3%) dos 65 milhões de lares, vive pelo menos um cachorro. Trata-se de uma preferência nacional: o segundo colocado entre as escolhas é o gato, presente em pouco menos de 18% das residências. A população canina do país é de 52,2 milhões – e a maioria é composta por vira-latas. Um quarto dos brasileiros, aliás, adotou – e não comprou – os seus peludos.
Entre os que ainda não se convenceram por conviver com um pet, um estudo da Universidade de São Paulo demonstrou que todos pensam em adotar (90% querem um cão como companheiro e 94% já viveram com um pet anteriormente). O principal motivo para não concretizar a adoção é a falta de tempo para cuidar dos pets.
Por outro lado, o país é um dos campeões mundiais em abandono. A Organização Mundial da Saúde estima que haja 20 milhões de cachorros vivendo nas ruas brasileiras. Mais de 300 organizações de resgate atuam no Brasil.
Adoção de cachorros: Pontos para refletir
• Pessoas solteiras podem decidir adotar um cachorro para preencher a solidão. No entanto, quase sempre, esta “solidão” acontece apenas em curtos períodos, no retorno da escola ou do trabalho. É preciso avaliar se deixar um pet sozinho por períodos prolongados é a solução para preencher algumas carências. Animais entediados quase sempre se revelam destruidores, agressivos, antissociais, etc.
• As crianças adoram cães – e qualquer outra espécie de animal de estimação. Para elas, no entanto, existem poucos diferenças entre um cachorro de verdade e um bicho de pelúcia. Certamente, conviver com um pet é uma oportunidade de aprendizado, mas é preciso não esquecer que aprendizado é um processo. Os adultos da casa serão os responsáveis pelas necessidades do cachorro: as crianças serão sempre auxiliares, especialmente nas brincadeiras e passeios.
• Pessoas sedentárias podem acreditar que adotar um cachorro poderá levá-las a um estilo de vida mais saudável. Com certeza, cuidar de um pet exige certo esforço físico, como caminhar 30 minutos diariamente (mesmo que seja em torno do quarteirão de casa). O ideal, para o bem de ambas as partes, é adotar um estilo saudável antes de adotar um cachorro.
• Tendo tudo isso em mente, a adoção de cachorros poderá ser a melhor coisa a ser feita. Trata-se de uma opção, mas, a partir do momento em que o pet cruzar a soleira da porta, ele passará a ser de sua responsabilidade. Em troca, cachorros oferecem amizade para sempre. Se é isto que você está procurando, vá em frente. Bem-vindo ao time de apaixonados por pets!